2020 não está pra brincadeiras e só faz escancarar as feridas mundiais, doa a quem doer! Mais uma prova disso são as manifestações que estão ocorrendo em prol das vidas negras, respingando em todas as nações. Mas embora o (Black Lives Matter - Vidas Negras Importam) esteja fazendo uma excelente demonstração de força e conscientização, em comparação com o Brasil, podemos apontar diversos fatores que divergem e mostram uma história de racismo e preconceito um tanto atípica com relação aos outros países.
Pra começar, um dado surpreendente é que nos Estados Unidos a população negra representa apenas 12% da nação, enquanto que no Brasil mais de 55% do povo se declara preto ou pardo. Então, porque a história conhecida depõe tanta disparidade entre os dois países pra essas pessoas?
A resposta é simples, mas o desconhecimento da população é apenas a ponta do iceberg que gerou esse abismo. Trata-se de conhecer a ti e a tua própria história como povo, uma coisa que o brasileiro não está acostumado a saber pela completa falta de incentivo. Dessa forma, a massa do país está habituada a lutar por si, numa batalha de classes onde só se modernizou o sistema de tratamento.
Obviamente, que os negros retintos são os indivíduos mais prejudicados nessa sociedade construída pra ser uma pirâmide. Contudo, o Brasil é formado de miscigenação, em que sua grande maioria - os que completam o grosso dos tais 55% e muitos que se consideram brancos - estão na base, enquanto que apenas alguns poucos formam esse topo imaginário e erroneamente abusivo. Mas se é assim, porque há tanta discórdia entre uma população que se encontra praticamente no mesmo patamar?
Aí vem de novo a simples resposta pra aquela pergunta acima... Porque o povo brasileiro desconhece sua história. Porque estiveram durante séculos expostos ao conformismo e a crença de que as coisas são como são e nada poderá mudar. Portanto, mesmo com o passar dos anos e com a modernização da sociedade, ainda existem certos tabus que colocam pessoas somente em determinadas posições, profissões, situações, causando a guerra urbana que é presenciada diariamente.
Desse modo, quem tem um pouco mais espezinha o que vem logo depois, só pra se sentir melhor com seus méritos de vida. É o tal doutor que não se formou em nada e a madame entojada com R$ 100,00 no banco. Achando que diminuindo o outro se eleva pra um nível superior. E ninguém se livra de fato desse mecanismo, medido pelos volumes dos bolsos, pelos tons das peles e por tudo o que o indivíduo representa ser, como um presente super vistoso ou que foi embrulhado meio xoxo na última hora.
Assim, muitas pessoas tentam mostrar o que não são, preferindo o desconforto a enfrentar as situações que um chinelo no shopping ou uma roupa esportiva podem trazer. Não se tratando de onde mais quando irá acontecer, porque sempre acontece. Então, ouse em ser o diferente e dê-lhe o benefício da dúvida. Com certeza o questionado agradecerá e poderá ter esperança por dias em que essa reação seja normal.
A origem mesmo, somente um DNA poderia provar, no entanto, todo mundo tem um argumento descabido pra agir de maneira descerebrada. Resta a questão de que se a maioria segue um padrão, porque sou obrigado a reagir diferente quando vejo um negro de terno e penso ser um segurança, ou uma mulher de branco sem ser babá ou empregada, um cara vindo em minha direção e não segurar a bolsa mais forte?
E óbvio que há um padrão na população do país, mas isso foi gerado porque desde séculos atrás não foram dados os incentivos corretos pra que a massa brasileira se integrasse de forma a se tornar um país funcional. Onde os negros foram jogados a própria sorte depois da abolição, criando guetos e morros que se estenderam pelos estados.
Em que também já havia uma grande camada de brancos degredados pobres, analfabetos, índios, exilados e imigrantes aventureiros espalhados por todo o Brasil, que mais tarde, com a ajuda da emigração, revoltas, pandemia, a imigração europeia e asiática por motivos de guerra no começo do século XX e tantas outras coisas mais, se transformou no povo brasileiro.
Algo, que se for analisar, está se repetindo nos últimos anos. Curioso, não? Ainda mais levando em consideração que certas coisas, como a política nunca mudam. Voltando a diferença dos países, os negros e outros povos americanos tiveram melhor formação e consciência porque lutaram, porque se protegeram inicialmente em comunidades que depois se organizaram e vem correndo atrás dos seus direitos, pois está longe da perfeição, enquanto que nessa nação a situação desintegra seus habitantes e os transforma em adversários numa guerra pelos melhores recursos, pois nunca há pra todos e quem consegue dita as regras.
O que o brasileiro se esquece é que aos olhos do mundo são um povo só: latino. Onde poucos podem provar sua real descendência x, embora muitos usem desse argumento pra humilhar um rosto e sofrerem igual quando forem ao exterior. E que direito descendente é esse? Qual a finalidade? Só num país que nunca se livrou da síndrome de colônia vira-lata. Sem saber que de repente julgou e menosprezou alguém com muito mais instrução, empatia e sapiência. Um ser que em decorrência de sua aparência foi sentenciado mais um dia em que comemorava uma promoção, a vida saudável, um reencontro, etc.
Por fim, qual seria a solução pra todo esse dilema infindável? E claro que repetitivamente a chave será a educação. Pois só a educação poderá fazer com que as pessoas conheçam sua história de um modo geral, abrindo as mentes pra algo maior, gerando empatia. Só pela instrução será possível a identificação e afabilidade com o outro, além de que indivíduos instruídos não precisam, nem querem roubar, matar, brigar por motivos corriqueiros, quebrando um circulo vicioso que ainda levará muito tempo pra parar de girar.
A meritocracia é de fato um sistema válido, porém pra que possa funcionar, todos precisam ter as mesmas oportunidades, pra que consigam escolher e competir em pé de igualdade. Isso vale pra negros, brancos, pobres, ricos de qualquer gênero e motivação religiosa.
Mas o povo brasileiro, aos trancos e barrancos chegou até aqui e com certeza irá mais longe, até o dia em que textos como esse se tornarão obsoletos, tragados pela história. E pessoas, independentes de sua origem possam ser apenas indivíduos na multidão sem desconfianças nem julgamento prévio. Por isso, pais e mães, lutem pela própria educação e pela dignidade de seus filhos.