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Domingo,
27/9/2020
Assim ainda caminha a humanidade
Tadeu Elias Conrado
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Lá em 1956, George Stevens lançava um dos maiores clássicos de sua carreira. Carreira essa interessante, onde figuram filmes como Um Lugar ao Sol (1951) e Os Brutos Também Amam (1953). Giant (Assim Caminha a Humanidade, no Brasil) é uma adaptação do best seller homônimo de Edna Ferber, do qual Stevens teve um grande trabalho para comprar os direitos, mesmo antes do livro ficar famoso. Assim como nos outros dois filmes mencionados, o diretor trabalha a visão comportamental do cidadão norte americano da época, o que sempre causou problemas tanto para ele, quanto para a autora do livro. Podemos dizer que os texanos ficaram ultrajados vendo todo o seu machismo e racismo sendo expostos para o mundo inteiro.
A narrativa percorre três gerações de uma família texana tradicional. Começando com Bick (Rock Hudson) que vai até o leste do país para comprar um cavalo reprodutor e acaba voltando casado com Leslie (Elizabeth Taylor), uma mulher sensível para os parâmetros de sua terra, mas que aprende rápido e se torna tão dura como os texanos, isso sem perder sua amabilidade. Taylor está sensacional em cena, sua personagem é uma mulher decidida e que sempre levanta questões conservadoras, sempre mostrando que embora estivesse casada, era uma mulher independente e dona de si.
O lado oposto de sua personalidade é Luz (Mercedes McCambridge), irmã de Bick, Luz é uma solteirona, feita aos moldes sulistas, daquelas que toca o gado e colhe a plantação. É interessante ver a diferença dessas duas personagens em relação a ideia que a história traz, como uma quebra de tabu, isso lá nos anos 1950.
Entre o casal está um personagem que se tornou um ícone do cinema, Jett Rink. Interpretado por James Dean, o personagem tem um papel importante na vida do casal e como um personagem na crítica que o diretor procura apresentar. Rink é um empregado diferente dos outros, embora trabalhe para Bick, é um dos poucos que é texano. Sua vida não é fácil, o que lhe garante o emprego é o carinho que Luz tem por ele. Esse carinho vira um pequeno pedaço de terra, que Luz deixa para o rapaz depois que morre, decorrente a um acidente de cavalo. Rink encontra petróleo e, a partir daí, passa a ser uma pedra no sapato de Bick.
Quando falamos sobre Assim Caminha a Humanidade, precisamos falar sobre a cena em que o juiz da região vai apresentar o testamento de Luz. Os homens mais importantes estão reunidos, todos para convencerem Jett a aceitar o dinheiro que equivale ao dobro do valor do terreno. Mas em uma das cenas mais memoráveis de James Dean, quiçá do cinema, ele recusa e vai embora.
Com essa narração genérica, muitas coisas acontecem nesse meio tempo e posteriormente, mas posso dizer que assim ainda caminha a humanidade. No filme, vemos todos esses problemas sociais, que podem ser associados a cultura do lugar/época, mas tudo evolui e sempre esperamos que seja para melhor. Isso acontece no decorrer da história de Ferber, Bick só passa a ser herói, aos olhos de Leslie, quando se levanta e discute, briga e apanha de um cozinheiro de lanchonete, racista.
Porém, 68 anos depois (o livro foi lançado em 1952), vivemos um retrocesso e parece que nada aprendemos com o passado. O mundo continua tão duro para aqueles que buscam acabar com esses problemas sociais quanto era naquele Texas. Isso faz parecer que estamos parados no tempo, estagnados. Mesmo com tantas Leslies atuando fortemente por mudanças, raramente temos Bicks dispostos a aprenderem que nem tudo é o que era e que não precisam ser.
Enquanto vejo o fascismo covardemente no sopé da porta, imagino se seria possível convidá-los para assistir uma cena ou outra de Assim Caminha a Humanidade (como aquelas em que Leslie "discute" sobre negócios ou que Bick briga na lanchonete). O cinema, assim como outros meios de cultura, tem muito a nos ensinar, talvez por isso ele seja tão temido por aqueles que possuem o poder. Mas, sabendo a incapacidade de um diálogo coerente com essas pessoas, a gente segue indo, esperando fazer jus ao que pregamos.
Postado por Tadeu Elias Conrado
Em
27/9/2020 às 12h49
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