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Domingo,
26/6/2022
A lantejoula
Raul Almeida
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Eu voltava para casa caminhando e um reflexo luziu na calçada, passos a frente. Imaginei um diamante caído de alguma venturosa orelha e seu brinco, um brilhante suicida arrojando-se para fora do encastoamento do anel. A ganância atreveu-se em cutucar a minha mente. Apertei os três passos de distância enquanto o brilho desaparecia com a mudança da posição do olhar. Cheguei perto, encima do alvo e lá estava a coitada. Uma lantejoula. Entre desapontado e autocritico, dei uma discreta e desdenhosa risada, debochei daquele destino infame, e lembrei dos meus tempos de garçom de cabaré, do barulho infernal, do cenário padrão, das colegas entrando rapidamente, as lantejoulas das roupas das coristas, o porteiro vestido como um general da banda. Segui o meu caminho, penalizado com o destino daquela pobre lantejoula. Poderia ter sido atada a uma imponente roupa de privilégios. Poderia estar num traje qualquer em qualquer degrau da escala da vida, desde os que podem mais e choram menos até aos que nem chorar podem. E estava ali, aproveitando um raio de sol perdido na calçada. Fiz uma discreta reverência com a cabeça, e nem parei para conferir. Era uma lantejoula indigente, sem terra, sem teto, sem amor, sem futuro....
Postado por Raul Almeida
Em
26/6/2022 às 14h42
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