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Quarta-feira,
26/4/2023
Minha Mãe
Anchieta Rocha
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Às cartas de mamãe, choradeiras constantes, eu não respondia. Histórias longas, assuntos de sempre, acontecimentos de Lagoa Grande não me despertavam interesse. Vivia dizendo que se preocupava comigo, que rezava por mim, queria saber se eu não passava frio, se me cuidava, as perguntas de sempre. Por mais que explicasse que o metrô, as casas e os lugares públicos de Nova York tinham aquecimento, não adiantava. Pior ainda as cansativas e constantes indagações sobre minha alimentação, se comia fruta e legume, acrescentando que não me descuidasse porque eu vivia num país onde o povo só comia cachorro-quente e hambúrguer. Ficava penalizada por me privar de coisas que ela fazia — descrevia tudo —, de farofa de carne seca, de goiabada cascão com queijo, por aí ia, não cansando de dizer que tão logo aparecesse um portador, ela mandava pra mim. Então eu tihha que explicar que os alimentos que as pessoas traziam de outros países ficavam retidos na alfândega pra quarentena, que dava um trabalho enorme retirar, muita burocracia, que era melhor não mandar nada. Eu tinha preguiça e impaciência pra responder suas cartas, mas mesmo assim, pra não deixá-la aflita, de vez em quando jogava um cartão postal na caixa do correio pra acalmá-la. Depois de um tempo, sua letra começando a perder firmeza, dizia que sentia a minha falta, que queria ouvir a minha voz, que podia ligar a cobrar. Aí eu baqueava. Os meus pensamentos ficavam confusos, um incômodo insuportável. Eu então era invadido por sentimento de culpa, de estorvo e de arrependimento por não ter sido um filho melhor. Tinha dia, punha uma folha de papel sobre a mesa, escrevia querida mamãe e não passava disso. Minha mãe. Minha mãe que me carregou tanto, hoje eu a carrego, um peso dolorido.
Postado por Anchieta Rocha
Em
26/4/2023 às 10h42
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