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Sábado,
18/11/2023
Adão não pediu desculpas
Raul Almeida
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Depois de aceitar a maçã e quebrar as regras para a permanência no Paraíso, Adão não pediu desculpas. A lambança já havia sido feita e não ia adiantar nada mesmo, pensou.
Acabou de comer a fruta, lambeu os beiços e foi aproveitar aquela maravilha toda. Até então, não tinha a menor ideia do sabor dos pecados. A maçã foi uma desatenção.
Eva até que era bem jeitosa e apesar de não saber cozinhar nem passar, tinha outras habilidades muito mais instigantes.
A cobra foi substituída por outras semelhanças, e logo arrumaram um cachorro para dar o alarme se algum outro bicho quisesse comer a patroa ou o patrão. Ninguém iria comer a Eva ou o Adão assim, de bobeira. Qualquer tentativa e o Fido, o primeiro com esse nome, fazia um escândalo colossal, quando não resolvia a parada sozinho com suas poderosas mandíbulas. Adão já tinha, igualmente, percebido a necessidade de um porrete, de bom tamanho, para ajudar na defesa da casa.
E assim começou a aventura. Comida farta, água corrente, temperatura amena e brisa leve de vez em quando,chuvas delicadas nas palmeiras gentis e os abacates, sempre acariciados por Eva, faziam parte da dieta. Bananas, pêssegos, peras, mangas alternadas com os abacates, enfim, a maçã estava meio de lado, mas sempre presente nas ementas diárias. Foi a primeira a ser lambida, foi a primeira a ser mordida, aquelas coisas.
Já bem velho, Adão recebeu a visita de um anjo, Oficial de justiça, com uma intimação para comparecer ao portão do céu ir pedir desculpas, e ficar um pouco melhor na foto, mas sem nenhuma chance de voltar ao começo. Paraíso exclusivo, sem barulho, sem sol ou lua, ou água corrente, paisagens, etc, nunca mais.Haveria até a possibilidade de sublimação, por raios meteorológicos, da Eva, a causadora de toda a alteração no projeto.
Adão deu uma olhada no documento, não entendeu nada pois não sabia nem precisava ler coisa nenhuma, pediu para o anjo explicar o que estava acontecendo e bateu com a porta na cara do ente alado, depois de vociferar em brados: (uma novidade. Os primeiros brados proferidos )
-Não vou pedir desculpas! Fiquei sem uma costela, tirada a frio, sem anestesia, comecei a dar umas topadas e machuquei o pé e os joelhos, várias vezes até aprender a andar no chão daqui, tenho que levar o cachorro para passear, mesmo com todo esse espaço, para que ele não acabe me estranhando, ou resolva ir viver suas próprias fantasias e deixe a caverna sem guarda à noite. A Eva tem épocas que parece que está vazando, fica triste, não quer brincar de esconde-esconde,reclama bastante.Mas está melhor assim do que a chatice de ficar olhando para nada, escutando nada, saboreando nada e só, tipo estátua em jardim de milionário.
Sai fora.
O anjo guardou a petição, foi embora, reportou o acontecido para o seu chefe e foi tomar uma boa ducha para espantar aquelas vibrações profanas.
Aí, foram libertados o Tempo, o Acaso e a Fatalidade.
Mas desculpas… Não, ele não pediu.
Postado por Raul Almeida
Em
18/11/2023 às 10h02
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