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Terça-feira,
21/11/2023
Universos paralelos
Raul Almeida
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Volto do supermercado com alguns itens da dieta básica de uma família comum. Cebola, batata, músculo bovino, banana. O suficiente para uma boa sopa de batatas com músculo. A couve estava guardada desde a última feira, o alho e a salsinha também. Arrisco um pacote de biscoitos doces e pronto. Deu para hoje e amanhã, sem qualquer dúvida. A moça da caixa passa, rapidamente, os itens e dou conta do que vou pagar.
Nada muda nas acaloradas discussões políticas, onde o “pobre”, a fome e todas as atribulações da maioria absoluta dos brasileiros são dissecadas, comentadas, bumbadas e saravadas com promessas de melhoria em todos os sentidos.
Os políticos mais importantes , todos bem nutridos, alimentados com dietas fartas, alardeiam realizações e concessões de ajudas financeiras para “botar comida na mesa do pobre”. Ou melhor, na mesa das famílias dos pobres.Sem dúvida, para quem nada tem, qualquer ajuda é festa.
Mas a que mundo pertencem esses privilegiados filhos da Viúva, da Pátria amada, salve, salve, quando exaltam fatos que deveriam ser corriqueiros na vida de cada brasileiro? Ter o que comer, com equilíbrio nutricional, o tal feijão com arroz, bife, ovo, salada e farofa,banana, laranja, abacaxi,todos os dias.
O custo dos filhos especiais da Viúva, ungidos, incensados, bentos, maravilhosos, descarados em seus discursos, sinaliza a existência sobrenatural de um mundo, quem sabe um universo paralelo onde deslizam em tapetes finamente tecidos, refletem brilhos de cristais polidos, abrigam-se em palácios, mansões e habitações hiper confortáveis, de onde saem, de tempos em tempos, apenas, para renovar suas licenças de bem-aventurados, em certames denominados de eleições.
A realidade do mundo de água, pedra, areia, cal, fome, miséria e espanto, é encoberta pelas nuvens de discursos mofados, repetidos, quase indecentes por sua falta de imaginação.
Os atordoados do mundo real, desenvolveram um sentimento especial, chamado de esperança. De tempos em tempos escutam as mesmas promessas, os mesmos apelos, até frases "geriátricas” por sua antiguidade,escolhem um lado da conversa, chegam a encolerizar-se, agredir-se, sofrer.
Saio do supermercado e noto mendigos nas calçadas próximas à porta.Alguns tentando vender confeitos para arrumar uma moeda, gente pedindo um pacote de arroz, feijão, leite. Já se acostumaram.
Não fazem parte de nenhum sindicato, associação, movimento, etc.São miseráveis autônomos.Miseráveis em tempo integral. Dormem no chão, nas praças, perambulam sem destino, agarram-se como parasitas, até que sejam retirados de alguma forma.
Vivem em outra dimensão além do mundo dos “eleitos” da Viúva míope, quase cega e além dos habitantes do mundo real, os que têm alguma forma de obter algum dinheiro em troca de trabalho.
Na ponta superior do universo maravilhoso, ninguém sai à rua para fazer compras em supermercado, ou quitanda. Isto é tarefa para a criadagem. Não usam transporte público nem conduzem seus próprios automóveis. A Viúva paga tudo. Feira, mercado, empório, carro, motorista, combustível, manutenção, renovação de modelo. Alguns têm vários motoristas à disposição para que não falte quem guie durante as vinte e quatro horas do dia.
Para os deslocamentos ou viagens de percursos longos, o avião está sempre a disposição, seja oficial, de carreira, ou particular, o tal jatinho. Esse último sinaliza o grau de importância do filho maravilhoso da Alegre Viúva. E ninguém lembra de fechar a bolsa da Velha.
Seguem os gastos estéreis com dezenas de pessoas do universo maravilhoso, todas trabalhando de barriga bem cheia, sapatos com solado inteiro, roupas adequadas ao clima de onde quer que estejam, e mais conversa. Mais igualdade entre os iguais.Não mudará nada.Diz um velho ditado: “Quem nasceu pra dez réis nunca chegará a tostão”.
Universos paralelos não se tocam
Postado por Raul Almeida
Em
21/11/2023 às 10h20
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