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COLUNAS
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Guerra no Iraque
Sexta-feira,
21/3/2003
O grande ditador
Gian Danton
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Quando morava em Curitiba, eu e os desenhistas da revista Manticore bolamos o roteiro de um filme para Silverster Stalone com participação especial de Charles Bronson. Chamava-se Brutalidade Total. No filme, Stalone era um policial que, para evitar gastos, matava os bandidos antes que eles cometessem um crime. Nós ríamos muito dessa ácida crítica ao filmes violentos de Hollywood, mas não podíamos imaginar que um dia esse mesmo estratagema seria usado como argumento não por um ator de segunda, mas pelo presidente dos EUA.
Esta guerra deveria ser chamada exatamente disso: Brutalidade Total: Vamos atacar o Iraque antes que ele nos ataque. Inverte-se a lógica da guerra. Antes um país que atacava primeiro era o opressor, e o outro, vítima. Bush inventou uma maneira de atacar primeiro e continuar sendo vítima.
Todo o discurso de guerra é apenas um amontoado de mentiras.
Os discursos oficiais dizem que o objetivo desta guerra, além de proteger os EUA é livrar a população iraquiana de um truculento ditador. Curiosamente, quando o pai de Bush era presidente, Saddam era amigo dos EUA, assim como Bin Laden. E, já que o Bushinho não suporta ditadores, por que o pai dele não tirou do poder o chileno Augusto Pinochet, um dos mais sangrentos déspotas do século XX? Além disso, há um bom punhado de ditadores espalhados pelo mundo. Bushinho vai tirá-los todos do poder? Ou vai deixar quietinhos os que fazem o jogo dos EUA?
O que há por trás dessas mentiras de guerra?
George Orwell, autor de 1984, dizia que o objetivo de todas as guerras é evitar a distribuição de renda. Gasta-se com a guerra o excedente que poderia ser usado para alimentar ou instruir os mais pobres. Com isso, tem-se a garantia de uma população ignorante e subserviente.
Cada míssel lançado sobre o Iraque custa a bagatela de 1 milhão de dólares. Como disse o presidente Lula, com esse dinheiro dava para alimentar muitos nordestinos. Os próprios americanos já estão sentindo isso na pele. Todas as bibliotecas do país tiveram um corte drástico de orçamento e não têm dinheiro sequer para comprar o novo livro de Harry Potter. Se não há dinheiro para comprar os livros de Rowling, imagine-se para comprar obras que esclareçam o povo americano...
Em conformidade com a desinformação, há uma caça às bruxas que lembra muito o Marchatismo, a fase mais negra da história norte-americana. Só que agora o inimigo não são mais os comunistas, mas sim os islâmicos. Relatos sobre brasileiros que foram agredidos porque foram confundidos com árabes estão se tornando cada vez mais constantes. Até advogados que defendem pessoas acusadas de terrorismo estão sendo presas. Pacifistas estão sendo perseguidos pelo governo. É essa democracia que Bush quer para o mundo?
Além de evitar a distribuição de renda, há um outro objetivo claro. Os EUA querem marcar sua posição como líder hegemônico do século XXI. Com a queda da União Soviética, os EUA podem mandar sozinhos nos destinos do mundo. Não há mais necessidade de fazer alianças ou de pedir autorização da ONU.
Bushinho está mandando um recado bem claro para os países do globo: agora quem não fizer os jogo do Tio Sam terá seu país invadido e será tirado do poder.
Muitos devem se lembrar da época do imperialismo britânico, quando a China resolveu acabar com o tráfico de ópio, que era praticado pela Inglaterra. Os ingleses invadiram a China e forçaram o Imperador a mudar de idéia. O mesmo fará Bushinho com qualquer país que não faça o que ele quer.
Saddam controlava as maiores reservas de petróleo do mundo e isso era um problema econômico para os EUA. Agora não é mais. Da mesma forma, o Brasil tem a maior reserva de água potável do mundo. Quando Businho achar necessário, vai incrementar a operação "Liberdade para o Brasil", e vai cuidar de nossa água para nós. O mesmo fará ele com qualquer país que tenha interesse estratégico para o Tio Sam.
Fica a pergunta: quem realmente é o grande ditador? Saddam ou Bush?
Gian Danton
Macapá,
21/3/2003
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