COLUNAS
Terça-feira,
22/4/2003
Nas ondas do rádio
Clarissa Kuschnir
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Você já teve curiosidade para saber quem são aquelas vozes que estão por trás das estações de rádio? Acho que todo mundo quer saber se o locutor é bonito ou feio, gordo ou magro, alto ou baixo.
O rádio, depois do cinema, sempre foi meu meio de comunicação predileto, desde o radiojornalismo até à programação de músicas. E não importa qual o estilo, o importante é o estado de espírito de quem faz rádio. Os locutores tornam-se nossos companheiros durante as horas que passamos em casa, no trânsito, no trabalho.
Para saber um pouco mais sobre o universo de um locutor de uma rádio FM, conversei com Dimy, que trabalha na Jovem Pan FM. Em uma tarde, ele me contou um pouquinho sobre sua trajetória.
Com apenas 26 anos, Dimy é uma das vozes masculinas de uma das maiores rádios do país. Para ele, o talento é uma das condições principais para se ser reconhecido nos meios de comunicação.
Dimy conta que a vontade de trabalhar em rádio surgiu desde os 10 anos de idade. Nessa época, ele gravava trechos de locução e mostrava para o pai. Além da vontade de ser locutor, queria tocar como DJ.
Assim, começou sua carreira tocando em festinhas, aos 16 anos de idade. Logo foi trabalhar em uma loja de discos na rua 24 de maio como DJ. Um dia, o dono da loja chamou-o para conhecer a rádio que tinha em Jundiaí. Na semana seguinte, Dimy foi cobrir a folga de um DJ ausente da programação. Pela primeira vez, pisou em uma rádio de verdade, onde deus os primeiros passos na carreira que dura seis anos.
Mas, como locutor mesmo, Dimy teve sua estréia quando o dono da rádio faltou e ele teve que apresentar um programa inteiro sozinho. Não deu outra: o patrão e, em seguida, Dimy assumiu. Depois, para variar, trabalhou com rádios-pirata. Uma que se destacou bastante foi a Oreon FM, propriedade do conhecido Lombardi (a voz que por tantos anos se ouve do programa Silvio Santos). Lá, Dimy conheceu um outro dono de rádio e passou acumular dois empregos.
Como o salário não dava, trabalhou ainda em padarias, supermercados e até em uma metalúrgica. Sua vontade sempre foi fazer um curso de locutor no Senac. Conta que, apesar de tudo, estava informado do que acontecia (o que é imprescindível para um bom comunicador).
Cansado das rádios-pirata, das padarias e dos supermercados, passou algum tempo na rádio Cultura de Santos, mas não o esforço não compensou. Uma noite, voltando para casa, resolveu passar na Energia 97 e deixar uma fita piloto. Deu sorte dessa vez: logo o estavam chamando para trabalhar lá, onde ficou um ano e meio.
Dimy diz que o reconhecimento do público, hoje, é enorme, e que os ouvintes vêem os locutores como atores de televisão. "O ouvinte de rádio é muito fiel", afirma. As mulheres mandam presentes, cartinhas, pedem em namoro, etc. O que encanta é a voz do rádio. Através do site da Jovem Pan FM, é possível saber quem é o dono da voz. Dimy prefere não envolver sua vida pessoal com a dos ouvintes.
Dimy não pára. Continua tocando na noite, em casas nortunas de São Paulo e do Grande ABC. Algo que ele sempre encarou como uma profissão. Disse, que dependendo da capacidade, o cachê pode chegar até a 4 mil reais em uma noite. (Seu primeiro carro, inclusive, foi adquirido tocando na noite).
Quanto a seu gosto musical, Dimy é bem eclético e diz que tem um bom "arquivo". Gosta de quase tudo, tirando axé, forró e pagode. Para quem está pensando na profissão de radialista, Dimy diz que tem que se dedicar e gostar muito. Ser, além disso, cara de pau, conhecer muita música e não querer fazer da profissão apenas um trampolim. Passar credibilidade é fundamental num locutor. E, para cuidar da voz, dormir pelo menos 8 horas por dia e não "tomar gelado".
Clarissa Kuschnir
São Paulo,
22/4/2003
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