COLUNAS
Terça-feira,
6/5/2003
A Promessa de Nicholson e o bem-acabado Desmundo
Clarissa Kuschnir
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Jack Nicholson parece que não gostou de se aposentar. Pelo menos nas telas dos cinemas, o ator tem provado que, apesar de seus personagens não precisarem mais pegar no batente, ele continua firme em seu propósito de fazer algo por alguém. Primeiro, foi em "As Confissões de Schmidt", em que, aliás, está muito bem e agora em "A Promessa", onde mais uma vez ele mostra que não tem pra ninguém.
Na fita "A Promessa", que está em cartaz nos cinemas, Nicholson volta com um personagem forte e emocionante. O ator vive, dessa vez, Jerry Black: um detetive de homicídios do estado da Nevada, que, no dia de sua aposentadoria, se depara com um crime horrendo que culminou na morte de uma garota de apenas 8 anos.
Mesmo com toda a festa de despedida que fizeram para Jerry, e mesmo com a passagem que ganha dos colegas para ir pescar no México, ele não se contenta em deixar seus ex-companheiros trabalharem sozinhos nas investigações: acaba se oferecendo como voluntário.
Sua vontade de descobrir o assassino aumenta mais quando tem de ir dar um recado para os pais da tal menina. Acaba prometendo, perante uma cruz, que irá, a todo o custo, descobrir o paradeiro do açougueiro infantil.
Jerry usa a intuição de anos de serviço, mas acaba desacreditado pelos colegas. Eles acham um provável assassino: um índio com problemas mentais (interpretado por Benício Del Toro). Mas, mesmo sabendo que o caso possa estar encerrado, Jerry não desiste: sai em busca de mais pistas, pois quer ver a promessa cumprida.
O filme é um policial e um drama ao mesmo tempo. Bastante envolvente, acima de tudo reforça o lado humano de um policial: Jerry vive para ajudar a todos que estão a sua volta. Infelizmente, porém, parece que seus esforços serão em vão... E ele acabará sofrendo as conseqüências, que parecia não merecer.
"A promessa" é uma adaptação do livro de Frieddrich Durrenmatt, chamado "Das Versprechen". O filme foi dirigido por Sean Penn, que conseguiu reunir um elenco de peso: Benicio Del Toro, Vanessa Redgrave, Robin Wright Penn, Aaron Eckhart, Harry Dean Stanton, Michael O'Keefe, Sam Shepard e o Mickey Rourke (que não aparecia há muito tempo nas telas dos cinemas). E é difícil esquecer a atuação de Mickey Rourke (ator que sempre admirei), um verdadeiro astro dos anos 80 ("O Selvagem da Motocicleta", "Nove e 1/2 semanas de amor", etc.). No longa, Rourke aparece em uma pequena ponta, como pai sofredor que teve sua filha desaparecida (está com uma aparência de homem de 70 anos).
"A Promessa" é um thriller policial que não cai na mesmice pelo seu final surpreendente e que merece ser conferido nos cinemas.
Desmundo
A produção "Desmundo", dirigida pelo cineasta Alain Fresnot, nos conduz a século XVI, para contar a história de uma órfã portuguesa chamada Oribela (interpretada por Simone Spoladore). Na história, ela chega ao Brasil com mais algumas companheiras, para desposar alguns colonizadores. (Na época, a corte portuguesa enviava as jovens para que os portugueses daqui não se misturassem com as nativas do Brasil.)
Oribela é uma moça religiosa, mas que se torna rebelde por não aceitar muito o novo marido - Francisco de Alburquerque (um homem chucro e grosso interpretado por Osmar Prado, mas que acaba se apaixonando por Oribela). Oribela, portanto, faz de tudo para fugir da "nova vida", mas acaba pagando um preço muito alto por não aceitar seu esposo...
Nossa heroína tenta por diversas vezes fugir do marido, mas termina sendo capturada e castigada. Em uma das tentativas, ela se envolve com Ximeno (Caco Ciocler), que a abriga em sua casa e que planeja fugir para a Espanha.
A reconstituição e o trabalho de época feito pelo cineasta e sua equipe foram muito bem explorados no filme. Os cenários, a vila do século XVI, o figurino e os 150 índios treinados confererem bastante realismo à produção. Até a linguagem arcaica usada na época foi recuperada, graças a um árduo trabalho empreendido pelo pesquisador e lingüísta Helder Ferreira. "Desmundo" é, inclusive, todo legendado.
A trilha sonora, fabulosa, foi composta pelo maestro Jonh Neschling, diretor artístico da Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo (arrebatou o prêmio de melhor trilha no Festival de Brasília de 2002).
O elenco ainda conta com a presença das veteranas Beatriz Segall e Berta Zemel (esta também recebeu o prêmio no Festival de Brasília, como atriz coadjuvante).
"Desmundo" é uma reecriação do romance homônimo da escritora Ana Miranda e um dos melhores filmes de época nacional dos últimos anos.
Clarissa Kuschnir
São Paulo,
6/5/2003
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