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Segunda-feira, 26/5/2003
Solaris, o romance do pesadelo da ciência
Jardel Dias Cavalcanti
+ de 5100 Acessos

Aproveitando o lançamento da nova versão cinematográfica, acaba de ser relançado no Brasil o romance Solaris, de Stanislaw Lem, pela editora Relume Dumará, com tradução de José Sanz.

Na orelha do livro, Bráulio Tavares chama a atenção para o parentesco entre Solaris e dois outros romances, um de Kafka (O Castelo) e o outro de Borges (A Biblioteca de Babel). O universo é realmente o mesmo. Mas no caso do romance de Stanislaw Lem, o pesadelo relaciona-se à ambição heróico-absurdo-científica e, por que não, mística, em se tentar conhecer os segredos do universo e, conseqüentemente, os segredos da vida.

Kelvin é um psicólogo que é convocado para visitar uma estação espacial que vive em órbita do planeta Solaris, para investigar os estranhos comportamentos dos três cientistas que ali estão para estudar o estranho planeta. Ao chegar a estação espacial, Kevin descobre que um dos astronautas suicidou-se e que os outros dois estão tomados pela paranóia. Descobre ainda que o estado deles é determinado pelo contato que têm tido com o planeta Solaris.

O romance é escrito de uma forma que lembra os livros de Kafka. Na descrição realista do ambiente e dos passos de cada personagem são implantadas situações extremamente estranhas no qual os personagens (e também os leitores) não sabem se estão dentro de um pesadelo ou se realmente a situação está acontecendo.

Kevin chega à estação espacial e encontra seus amigos cientistas tendo comportamentos inusitados, fruto de apreensões e medos que não querem revelar. Aos poucos, de forma sombria, acontecimentos que não podem ser esclarecidos começam a tomar a cabeça de Kevin. São aparições, barulhos, sombras, que o perseguem e vão tomando conta de sua mente. Tendo como resultado final a aparição de sua ex-esposa, que havia se matado por sua causa, muitos anos atrás. Ela começa a manter com ele um diálogo contínuo. Kevin não sabe se está sonhando e sendo tomado por pesadelos, ou se o que está ocorrendo é realmente real. O leitor também não sabe, e é levado, pouco a pouco, pelo livro e junto com seus personagens, a experimentar a sensação da loucura.

Esse é o grande mérito do livro: saber nos conduzir, junto com seus personagens, a estados alucinatórios de incompreensão, nos levando a experimentar a mesma sensação que os personagens experimentam: a total falta de controle sobre a realidade, a incompreensão das razões de vários fatos que os movem e a dúvida mais terrível que se pode ter, ou seja, se estamos apenas tendo um pesadelo ou vivendo realmente algo concreto.

Mais do que isso, o romance coloca uma grande questão: até que ponto nossa obsessão científica não passa apenas de um desdobramento da fé religiosa, fanática, de querer compreender o incompreensível, a fonte da vida ou seu sentido? Que motivos nos guiam em nossas empreitadas de construirmos milhões de bibliotecas de conhecimentos científicos, de fazermos experimentos da mesma natureza, onde gastamos vidas e quantias insuspeitadas de dinheiro, tentando colonizar o espaço em busca de uma explicação para a nossa existência?

Um dos cientistas diz a Kevin, numa das discussões sobre o sentido das investigações ao planeta Solaris: "Nós voamos através do cosmo preparados para tudo, isto é, a solidão, a luta, a fadiga e a morte. O pudor nos impede de proclamar isso, mas, em certos momentos, julgamo-nos admiráveis. No entanto, olhando com calma, nosso entusiasmo não passa de blefe. No queremos conquistar o cosmo, queremos apenas levar a Terra às fronteiras dele. Tal planeta será árido como o Saara, outro tão glacial como nossas regiões polares, outro tão luxuriante como a Amazônia. Somos humanitários e cavalheirescos, não queremos escravizar outras raças, queremos apenas transmitir-lhes nossos valores e, em troca, nos apoderamos de seu patrimônio. Consideramo-nos os Cavalheiros do Santo Contato. É outra mentira. Só nos interessa o homem. Não precisamos de outros mundos. Precisamos de espelhos. Não sabemos o que fazer dos outros mundos. Um único mundo, o nosso mundo, nos é suficiente, mas não o aceitamos como ele é. Procuramos uma imagem ideal do nosso próprio mundo. Saímos à procura de um planeta, de uma civilização superior à nossa, mas desenvolvida na base do protótipo de nosso passado primitivo."

Na impossibilidade de compreender Solaris, foram feitos requerimentos, que não se concretizaram, exigindo um ataque nuclear contra o planeta oceânico. O sentido desta atitude científica é explicada: "Essa represália teria sido mais cruel que uma vingança, pois significava destruir o que não compreendíamos". É, portanto, o horror ao desconhecido que movia as pesquisas ao planeta Solaris.

E esse tipo de comportamento é também explicado: "O homem partiu para a descoberta de outros mundos, de outras civilizações, sem ter explorado inteiramente seus próprios abismos, seu labirinto de corredores escuros e câmaras secretas, sem ter penetrado no mistério das portas que ele mesmo condenou.(...) Talvez... não sabemos nada, e isto é a única coisa que sabemos. (...) pensamos que nada pode ficar estranho a nós. Imbuídos dessa idéia, audaciosos e alegres, partimos à procura de outros mundos! E que iríamos fazer desses outros mundos? Dominá-los ou ser dominados por ele, era só isso o que havia nos nossos pobres cérebros! Ah! Quanto sofrimento inútil, quanto sofrimento inútil..."

É diante destas questões e pela incapacidade de compreender Solaris que os cientistas vão enlouquecendo na estação espacial. "Solitário, deixara-me arrastar pela confusa corrente de pensamentos noturnos. Levado pelos delírios do meu sonho acordado, havia perdido de vista a medida exata e a significação da realidade."

No final, Kevin, tomado também pelo desespero diante de sua incapacidade de compreender cientificamente Solaris, faz sua incursão no oceano cósmico, que é o que o planeta parece ser, como se mergulhasse no cerne da própria existência. Esta experiência fez brotar em sua mente os seguintes pensamentos: "Nunca antes eu sentira dessa maneira sua presença gigantesca, seu silêncio poderoso e intransigente, aquela força secreta que animava regularmente as ondas. Imóvel, com o olhar fixo, mergulhei num universo de inércia até então desconhecido, escorreguei ao longo de um declive irresistível, identifiquei-me com aquele colosso fluido e mudo, como se lhe tivesse perdoado tudo, sem a menor dificuldade, sem uma palavra, um pensamento."

Crente numa nova forma de percepção e conhecimento ele conclui, fechando-se numa entrega ao irracional: "Eu ignorava, ignorava tudo e persistia tendo fé em que o tempo dos milagres não havia passado".

A obstinação humana em conhecer o sentido da existência do universo e as razões de sua própria existência, parece nos dizer o livro Solaris, não poderá ser realizada de forma satisfatória se o homem não conhecer a si mesmo antes. Mas para isso, se a religião é pouco, a ciência é menos ainda.

A arte talvez chegue mais perto, mas se pensarmos com Schlegel, a verdadeira obra de arte é o próprio mundo: "Todo o sagrado jogo da arte é só uma cópia remota do infinito jogo do mundo, esta obra de arte que se cria a si mesma eternamente".

Para ir além





Jardel Dias Cavalcanti
Campinas, 26/5/2003

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