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Segunda-feira, 26/5/2003
Não se fazem mais leopardos como antigamente
Arcano9
+ de 4500 Acessos

É um alívio lembrar, de vez em quando, que o cinema não morreu. Não morreu vítima da pirotecnia dos efeitos especiais, ou do irremovível culto ao universo americano. Não me entenda mal, eu adoro tudo o que é americano. Cresci sendo educado pela TV e pelo shopping center a ser assim, longe de alternativas, e não há problema nenhum em admitir isso. E, em geral, gosto dos filmes que a multidão toda gosta. Mas, em tempos de X-Men 2 e Matrix Reloaded, o que mais me faz sorrir no momento é o National Film Theatre e Luchino Visconti. O Cinema (aquele de que falam os eruditos, que a ele se referem como o "verdadeiro", o tal Cinema com "C" maíusculo) não morreu, está lá, é só buscar as raras exibições de produções mais antigas nas mágicas telonas e refletir (sem a ambição de querer chegar a uma conclusão definitiva) sobre porque parece que não se fazem mais filmes como antigamente.

Voltei agora há pouco do NFT. Trata-se de um patrimônio cultural de Londres (celebrou seus 50 anos em 2002), e é o local que mais me ensinou sobre a história do cinema. É um sonho: Três salas dedicadas a mostrar os grandes nomes, os grandes filmes. Restaurações e retrospectivas. No ano passado, por exemplo, houve uma grande retrospectiva do Sergio Leone. E, o que no Brasil era só lenda para mim - o efeito entorpecedor do triplo duelo no final de Três Homens em Conflito quando visto no cinema - tornou-se realidade. Depois, Veio Claudia Cardinale em Era Uma Vez no Oeste. O panorama do sul de Utah poderia ser belíssimo, a trilha sonora, um delicioso sopro de vento quente e seco, mas a atriz era mais, muito mais do que tudo isso. Deus do céu! Não é que não se fazem mais filmes assim... Também não se fazem mais mulheres assim...

E, agora, a Claudia está de volta à minha vida. Já havia ouvido falar de Luchino Visconti, o tema da retrospectiva que segue até o dia 12 de junho no NFT. Contudo, nas minhas andanças erráticas por Sessões da Tarde e Corujões, ou pelas exceções paulistanas, como o Cinesesc ou a Sala Cinemateca, não fiz mais do que acariciar de leve um pouco do que o diretor produziu. Também a simples menção a um movimento associado ao diretor, "neo-realismo italiano", me causava calafrios. Essas etiquetas dão a impressão de que alguns filmes devem ser vistos porque são representantes de um "movimento", não porque são bons - isso é coisa para historiadores, não para um honesto curioso da sétima arte, como eu. Mas O Leopardo (Itália/França, 1963, vencedor da Palma de Ouro em Cannes no mesmo ano) não é o neo-realismo de A Terra Treme (1948). Exibido em nova cópia após 40 anos na memória distante, O Leopardo é uma verdadeira e inegável obra-prima. Como no caso de qualquer obra-prima, é fácil explicar porque esse filme está acima dos outros. O primeiro elemento que denota isso é o elenco: Claudia Cardinale, o símbolo de uma nova classe que ascende na Itália dos tempos de Garibaldi, se antepõe ao sólido Burt Lancaster, que encarna um aristocrata. Vendo que os ventos da mudança lhe reservam infortúnio, Lancaster (Don Fabrizio, príncipe de Salina) negocia formas de salvar seu poder e sua família da desgraça, dando a benção ao matrimônio de seu sobrinho Tancredi (vivido por Alain Delon) com Angelica Sedara (Cardinale).

À propósito, o segundo elemento é o roteiro: cheio de nuances mas nunca confuso, ele segue quase que o tempo todo em primeira pessoa, mostrando os pensamentos de Don Fabrizio e seus tormentos ao ter que passar pela mudança para que, como diz seu próprio sobrinho, tudo permaneça igual.

O terceiro elemento é o visual. O Leopardo é uma festa para os olhos. As cores deslumbrantes das roupas curtidas no sol forte vão mudando aos poucos de tom no transcorrer dos 188 minutos de produção, sendo afetados pelo vento e pela poeira. No final, numa longa seqüência da festa de casamento, as cores da velha aristocracia parecem mais sóbrias, escurecidas, ocupando seu espaço nas polcas e mazurcas como se estivessem executando a dança da morte. É quando Don Fabrizio, essa velha aristocracia, faz sua dança com Angelica Sedara, representando o novo e sedutor poder. Não é de se desprezar a mobilização e o trabalho que foram necessários para recriar todo o ambiente da Itália dos tempos da unificação em O Leopardo. Numa cena de batalha, foi preciso recriar inteiramente uma praça de Palermo e, depois, adicionar entulho, para dar a impressão de destruição. Em maio de 1962, o produtor Goffredo Lombardo tinha na sua folha de pagamento uma equipes de tamanho razoável, para dizer o mínimo: 200 técnicos (entre iluminadores, sonoplastas e contra-regras); 20 eletricistas, 150 pedreiros, 120 maquiadores e cabeleireiros, 15 floristas e 25 cozinheiros apenas para as sequências da festa no final do filme. Isso sem falar dos 250 figurantes usados na cena de batalha em Palermo e no baile.

O quarto elemento, por fim, é o próprio Visconti. Seu talento e fascínio pelo tema da decadência de velhas classes dominantes lhe dão o instinto para movimentar a câmera com grande naturalidade. O olho não é colocado em situações embaraçosas, ninguém se pergunta porque a imagem é esta ou aquela. É tudo muito natural. Visconti é um destaque porque não se faz sentir, deixa o filme criar sua vida própria. Um momento em que isso fica claro é quando Don Fabrizio está caçando, numa linda área de montanhas. Em dado momento, enquanto ele está conversando com outro personagem que o está acompanhando, a câmera simplesmente divaga pela paisagem, mostrando montanhas amarelecidas pelo sol ofuscante do Mediterrâneo. Sinceramente, era isso que eu faria se estivesse lá. Seria uma lástima assistir a um filme assim e não prestar atenção ao panorama também.

A retrospectiva de Visconti no NFT, além de apresentar a nova cópia de O Leopardo, também exibe uma nova cópia de Morte em Veneza (1971), um dos últimos filmes de Visconti, baseado do romance de Thomas Mann e, novamente, uma análise da decadência. Também estão sendo lançados vídeos e DVDs com Obsessão (1943) e A Terra Treme, e exibidos quase todos os filmes do diretor - incluindo Ludwig, a Paixão de um Rei (1973), que não chegou a ser completado antes da morte de Visconti.

Agora, deixando de lado toda essa intelectualidade e partindo para o mundo pop-legal, deixe-me perguntar: vocês viram o X-Men 2? Muito bom, hem? O Matrix Reloaded não vi, mas a crítica diz que é pior que o primeiro, mais chato... Vou ver no fim de semana que vem. Há cinemas e cinemas, filmes e filmes. Mas, por mais que a produção atual tenha seus méritos, a nostalgia de velhos diretores e velhas cores é plenamente justificável. Eram uma encarnação passada da sétima arte, essa arte de sete vidas. Veja e verá. O que é melhor?

Para ir além

National Film Theatre
South Bank, Londres SE1 8XT
Metrô: Waterloo ou Embankment


Arcano9
Miami, 26/5/2003

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