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Quarta-feira,
28/5/2003
Executivos
Rennata Airoldi
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Competição. Esta é a palavra do momento. Não importa como, quando, e embora, muitas vezes, nem se saiba o porquê dessa busca desesperada pelo sucesso, só sobrevive em qualquer mercado aquele que chega na frente. Vencer ou vencer, este é o lema.
Assim, aparentemente as pessoas são sempre felizes, realizadas, bem-sucedidas, inteligentes e não possuem nenhuma dificuldade maior. Claro, a vida profissional é um grande jogo onde as fraquezas e os fracassos devem ser esquecidos dentro de casa. O indivíduo está só. Mesmo dentro de um grupo específico, seja numa empresa ou em qualquer outro ambiente de trabalho, ninguém é amigo de ninguém.
Assim, pensando no quão sórdidas e hipócritas se tornaram as relações humanas na maioria dos meios profissionais, Executivos é sem dúvida um grande texto.
A obra escrita pelo autor francês Daniel Besse, que recebeu o Prêmio Molière, foi traduzida por Clara Carvalho e está em cartaz em São Paulo. Sob direção de Eduardo Tolentino, o Grupo Tapa discute as relações humanas, tendo como pano de fundo executivos de uma importante Empresa Multinacional.
Todo o ambiente é frio e impessoal. Em cena, tudo muito funcional, pouco colorido, com pouca afetação. O cenário, os figurinos e até mesmo a interpretação dos atores é totalmente clean. A unidade que comporta toda a ação cênica surpreende pelo número de detalhes.
A simplicidade aqui é muito significativa. Em cena, dois painéis espelhados que dão sempre mais de uma perspectiva da ação, ao mesmo tempo que ajudam a compor os diferentes ambientes. Ora revelam, ora ocultam personagens e atitudes, adquirindo funções diferentes na medida em que refletem a luz ou não.
O que impressiona, porém, é a maneira dos atores se colocarem em cena e dizerem seus textos. Há uma frieza excessiva em tudo, pouquíssimos momentos de descontrole aparente. Neste jogo, a falta de ética, a ganância e a ambição dos personagens são responsáveis por risos freqüentes (de parte do espectador).
Na verdade, a sensação real é que, nas relações em cena, os personagens se mantêm controlados, apesar de internamente estarem passando por inseguranças e conflitos profundos. Entretanto, nada pode ser revelado para um companheiro de trabalho, já que ninguém é muito confiável. Tudo que é dito, num ambiente como o proposto pela peça, pode ser usado contra você! Basta que, por perto, haja um sujeito ambicioso e bem anti-ético. Aliás, seriam esses os defeitos ou as qualidades do mundo competitivo?
Claro que, de imediato, aqueles que trabalham em empresas desse padrão se identificam e riem das situações similares. Já quem não conhece o dia-a-dia de uma empresa pensa que ambição e valores éticos são inerentes a qualquer ser humano em qualquer situação. O Dono da bola é sempre visto da mesma maneira por aqueles que são seus subalternos. A competição irrompe em todos os lugares.
Quem nunca teve problemas com calúnia, difamação, dentro do ambiente de trabalho? A verdade é que sempre existe alguém que quer vencer a qualquer custo, doa a quem doer, e, para isso, não poupa ninguém e não mede esforços. É uma maneira desleal de encarar a vida profissional. Mas isso, infelizmente, também depende do ponto de vista.
A peça muitas vezes incomoda profundamente, devido a maneira linear e detalhista segundo a qual a ação e o texto se desenrolam. O espectador deve estar atento o tempo todo. Em certos momentos, somos contaminados por uma certa monotonia. Bem como um funcionário que está apenas "batendo seu cartão de ponto", numa rotina interminável. Nesse sentido, a peça é muito inteligente.
Como já disse: o pouco diz muito. Os detalhes, como sempre, são um primor, conforme esperado nas peças do Grupo Tapa.
Para ir além
Executivos está em cartaz no Espaço Promon até o dia 29 de junho. Quintas e sábados às 21hrs.; sextas às 21h30; e domingos às 19hrs. O Espaço Promon fica na av. Presidente Juscelino Kubitschek, nº 1830, no Itaim Bibi. Maiores informações através do telefone: 11 3847- 4111.
Rennata Airoldi
São Paulo,
28/5/2003
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