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Terça-feira,
17/7/1979
Da necessidade de dizer a que vim
Alessandro Garcia
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Nestas horas em que a apresentação se torna fundamental, quase sempre nos vem à tona aquela necessidade de parecer mais original do que a mera descrição dos nossos dados pareceria ser. Se, no final das contas, a grande questão é quem, meu Deus do céu, é Alessandro Garcia?, por que eu ainda vou me cercar de preciosismos e preâmbulos dispensáveis e não respondo logo de cara o que faço por aqui, a que venho e outras questões pertinentes? Por que aí está o âmago da questão: tudo parece mais interessante (na maioria das vezes, é verdade...) se cercado daquela aura de mistério que ao menos garanta algum tipo de mitificação para este colunista ou pelo menos torne mais atraente a leitura deste que, convenhamos, bem poderia ser um curriculum vitae padrão.
Não é isso o que se quer? As origens desconhecidas e as barafundas diversas por onde me meti. Que não foram muitas, para falar a verdade, e nem das mais excitantes. Mas existiram algumas por aí, que me levaram para todos os lados. Levaram-me, inclusive a devastar este enlouquecido não-lugar chamado Internet e tentar encontrar território fértil para depositar minhas incursões literárias. Que se estendem por pequenas e grandiosas propriedades, que são vizinhas do Digestivo no universo circundante e nunca imóvel que abrigam este apanhado de letrinhas que - parece - se pregam à tua tela e te trazem até mim. Para o nada é que não. Para o tudo e mais um pouco é o que se pretende. Como divagações são perdas de tempo, a intenção minha aqui é me deter no que faça diferença. E o que faz diferença nestes tempos tão incertos e neste território virtual não tão confiável onde os escritores não têm rostos e as mentiras fazem parte do mesmo vácuo esparso que hospeda os mistérios insondáveis e indissolúveis e as mais latentes verdades?
Colocar questões diretamente não faz parte do motivo por que vim encontrar hospedagem no Digestivo Cultural. Mas cutucar e fazer pensar que droga, afinal, nós fazemos por aqui, é uma idéiazinha pra lá de supimpa. E trazer coisas novas, considerações para somar e pioneirismos jornalísticos são, de praxe, uma boa conseqüência.
Como vagamos todos e flutuamos com risco de choque direto por aqui, foi com a vontade de me chocar neste terreno que comecei a mandar meus textos para o Digestivo Cultural. Como a coisa teve o seu retorno e para que todos ficássemos felizes para sempre, foi com grande alegria que aceitei o convite para me abancar por aqui e virar colunista fixo desta casa. Eis o motivo do porquê desta introdução repleta de circunlóquios. Depositar em ti, que me lê, a justificativa de minha existência escrita no teu monitor.
Meu porto seguro se situa exatamente nesta área que aqui é vista: é meu prazer e tem feito parte de meus exercícios mais usuais discorrer sobre esta tal de cultura. Não à toa, minha primeira incursão na Internet se deu através do Suburbana, o blog onde tenho feito com bastante freqüência meus comentários fartos sobre tudo e literatura sobre todos. Literatura que tenho espalhado por aí e se encontra em forma de um livro chamado A Sordidez das Pequenas Coisas, a ser lançado muito em breve. Como multiplicidade é uma das minhas características mais conhecidas, é trabalhando com publicidade e design gráfico que me sustento e é cantando em uma banda de música soul que me divirto.
Portoalegrense por nascimento e por opção, foi nesta terra que encontrei o clima e a efervescência propícia para continuar mantendo meu culto às noites frias em ruas arborizadas, às meninas de pele arrepiada e aos cafés de beira de calçada. Se me encontrar em um destes cafés devorando um Julio Cortázar e quiser me oferecer, na seqüência, um Dostoievski ou um João Gilberto Noll, prometo te convidar para sentar e divagar um pouquinho mais sobre os dias que nos preenchem.
Quem sabe sem a pressa usual dos html's da vida, não consigamos traçar rumos mais claros e incisivos que respondam por que tantos ainda falam tão alto, lêem tão pouco e sorriem cada vez menos. Enquanto isso, o Digestivo ainda me parece o melhor lugar para fazê-lo - entre outras questões de ordens diversas.
E no más, para que estamos todos por aqui? Por que aqui é o melhor lugar para se debater e se levantar questões cada vez mais pertinentes sobre o quê, afinal, nos leva adiante. Nada de progressões espirituais e filosofias baratas. A rapidez das coisas é que merece reflexão, o que se produz culturalmente é que merece um olhar mais aprofundado e a literatura, especialmente, (sem descontar o cinema, a música e o comportamento de maneira geral, é claro) merece submersões cada vez mais detalhadas - ainda mais nestes tempos em que tudo se produz, todos acham que são e poucos permanecem e devem realmente permanecer. Aos que permanecem, que fiquem aqui conosco, para que possamos trazer o novo e compartilhar o novo.
Alessandro Garcia
Porto Alegre,
17/7/1979
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