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COLUNAS
Segunda-feira,
11/8/2003
Piratas do Tietê no teatro
Nanda Rovere
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O Teatro Popular do Sesi tem proporcionado montagens que buscam levar ao espectador paulistano produções de qualidade, como Romeu e Julieta, Hamlet, O Mambembe, O Pequeno Mago, Péricles, entre outras.
As peças teatrais que já estiveram em cartaz no teatro foram sucesso de público e crítica e, como os ingressos são gratuitos, elas conseguem atingir um público variado, sobretudo quem geralmente não freqüenta o teatro em virtude do valor dos ingressos. A montagem é, em geral, infanto-juvenil, mas tem atraído pessoas de todas as idades.
Para quem gosta de histórias em quadrinhos, uma boa pedida é assistir ao espetáculo Piratas do Tietê - o filme. Em cartaz desde abril, a montagem é baseada nas histórias criadas pelo cartunista Laerte, nos anos 80, para a revista Chiclete com Banana. Posteriormente, a obra ganhou revista própria que foi editada até 1992.
A adaptação para o teatro é assinada pelo próprio Laerte e por Paulo Rogério Lopes, com concepção do Grupo La Mínima e direção de Beth Lopes.
Quem não conhece o assunto do espetáculo pode achar estranho o título. Por que "o filme"? É que na história piratas são impulsionados a realizar um filme para concorrer ao Minhocão de Ouro.
No início do espetáculo, alguns piratas (interpretados pelos atores Domingos Montagner, Fernando Sampaio, Fábio Espósito e Gustavo Carvalho), fogem da prisào e navegam pelo Rio Tietê. Começam a realizar saques na cidade de São Paulo e uma deputada (Fernanda D'Umbra), preocupada com a violência, contrata o camelô Silver Joe (Alexandre Roit) para agir contra os piratas. Este usa a sua filha Rosy (também interpretada pela atriz Fernanda D'Umbra) para conseguir atingir o objetivo, a qual finge estar ajudando os piratas na produção do filme. A montagem oferece ao espectador aventura, romance e revela até mudança de sexo de um dos personagens!
Num primeiro momento, a trama pode parecer confusa para quem está acostumado com produções teatrais mais tradicionais, mas aos poucos o público vai entrando no ritmo do espetáculo e se envolvendo, pois histórias de piratas certamente fazem parte do nosso imaginário.
Um navio numa metrópole como São Paulo e personagens como o camelô Silver Joe, dão ao espetáculo um clima surrealista. Fantasia e aspectos da vida real se juntam numa história que prende a atenção.
Assim como nas histórias em quadrinhos, as cenas são rápidas (com muita ação e aventura) e os diálogos são curtos.
A direção de Beth Lopes é muito interessante. Para prender a atenção do público há no espetáculo sequência de vídeos que mostram a cena da fuga dos piratas e, posteriormente, o filme elaborado pelos mesmos.
O cenário assinado por Luciana Bueno,evidencia o clima urbano e ao mesmo tempo heróico/lendário do espetáculo. Em cena vemos um navio, onde se desenrolam parte das cenas. A iluminação de Wagner Freire, os figurinos de Inês Sakai, a maquiagem de Leopoldo Pacheco e a trilha sonora composta por Marcelo Pellegrini valorizam a transposição da linguagem dos quadrinhos para o palco.
O trabalho dos atores merece atenção especial. O elenco, formado pelos atores do Grupo La Mínima (Domingos Montagner, Fernando Sampaio) e convidados, é certamente um dos grandes méritos da montagem. Através de várias técnicas circenses, eles garantem o ritmo do espetáculo e encantam pela habilidade técnica.
A crítica social está presente neste espetáculo. Personagens que vivem à margem da sociedade são protagonistas e a crítica ao poder público está presente na figura da deputada, que além de estar envolvida num projeto duvidoso de despoluição do Rio Tietê, não consegue conter os piratas.
A idéia de colocar os piratas navegando pelo Rio Tietê (um importante símbolo do descaso de muitos seres humanos pela preservação do nosso meio ambiente) me fez pensar o quanto seria maravilhoso se pudéssemos usufruir das suas águas para lazer e transporte! Quando vejo em fotos antigas da cidade de São Paulo, pessoas se divertindo no Tietê, me pergunto se algum dia ele voltará a viver!
Piratas do Tietê estará em cartaz até o dia 17 de agosto. O Sesi sempre estica a temporada dos seus espetáculos, mas é aconselhável não deixar para conferir na última hora.
Muitas pessoas deixam de conferir a programação teatral e musical do Sesi, em virtude das longas filas que costumam se formar.
Eu estava passando pela Av. Paulista no sábado retrasado (cerca de uma hora e meia antes do espetáculo) e resolvi tentar conseguir um ingresso. Naquele dia a fila não estava muito grande e consegui com facilidade. Aconselho quem tiver interesse em prestigiar essa produção teatral a chegar com duas horas de antecedência para garantir o seu lugar, pois conheço pessoas que voltaram para casa sem assisti-la.
Para ir além
Piratas do Tietê - o filme. Até 17 de agosto. Apresentações: quartas, às 20hrs. - quintas e sextas, às 11hrs. (exclusivo para agendamento escolar) - sábados e domingos às 15hrs. (para o público em geral). Av. Paulista, 1313 - Estação Trianon do Metrô - São Paulo - SP. Tel.: 11 3146-7406. Outra produção do Sesi em cartaz é Mephistópheles de Goethe. Direção de Antonio Abujamra. Sexta a domingo, às 20hrs. Nas quintas-feiras, sessões exclusivas para agendamento escolar.
Nanda Rovere
São Paulo,
11/8/2003
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