A Editora Record acabou de lançar a que foi chamada edição definitiva do livro O Diário de Anne Frank.
Anne nasceu em Frankfurt em 1929, mas foi ainda criança para Amsterdã. Sua família teve que fugir da Alemanha para a capital da Holanda, em virtude das perseguições nazistas.
Tinha uma vida normal, salvo as proibições que ao longo dos anos os alemães impuseram aos judeus... até ser obrigada a ficar reclusa, distante do mundo.
A vida na Holanda não era tranqüila, pois a liberdade dos judeus era restringida por decretos anti-semitas, tais como: os judeus deveriam usar uma estrela amarela; não podiam andar nem de carro nem de bonde; deveriam fazer compras somente entre três e cinco horas da tarde; havia toque de recolher entre oito da noite e seis da manhã; deveriam freqüentar escolas judias, etc. De qualquer maneira, a vida continuava, mas a família de Frank resolveu se esconder num anexo do prédio onde ficava o escritório do pai de Anne, Otto Frank, quando Margot, irmã de Anne, estava correndo perigo de ir para um campo de concentração.
Durante dois anos, oito pessoas ficam escondidas no local. O contato com o mundo externo vinha através do rádio e das pessoas que os ajudaram.
O diário que Anne ganhou de presente de aniversário, algum tempo antes da ida para o esconderijo, foi o seu grande companheiro durante os dois anos em que esteve escondida. O Diário engloba o período que vai de junho de 1942 a agosto de 1944 e se constitui num interessante registro sobre o Holocausto, sob a visão do povo judeu.
No livro, através do diário de uma adolescente, entramos em contato com a história da época e com as arbitrariedades nazistas. Além disso, viajamos pelas alegrias e angústias da personagem principal; sua relação tumultuada com a mãe; seu primeiro amor e a sua força de viver, mesmo diante de tanto sofrimento. Anne nunca perdeu a esperança de um mundo mais justo!
Anne ficou sabendo pelo rádio que o governo pretendia recolher testemunhas oculares do sofrimento do povo holandês durante a ocupação alemã e organizou o seu diário, com a intenção de publicá-lo após o término da guerra. No dia 4 de agosto, no entanto, o esconderijo foi descoberto, e os seus moradores levados para o campo de concentração. O diário foi encontrado por uma das pessoas que ajudaram as duas famílias e entregue ao pai de Anne, o único sobrevivente.
A primeira edição foi publicada em 1947 pelo pai de Anne, com cortes e o uso de pseudônimos. Depois vieram outras versões, cada uma com material complementar que havia sido omitido na anterior.
Em 1995 foi lançada uma versão que achavam ser a definitiva, mas foram descobertos manuscritos inéditos, o que resultou no lançamento dessa nova edição. Nela foram acrescentados alguns comentários e os nomes verdadeiros de algumas pessoas que ajudaram as duas famílias no esconderijo.
Muitas vezes a veracidade dessa obra foi questionada. Evidências compiladas pelo Professor Robert Faurisson demonstraram que o famoso Diário é uma fraude literária. Os manuscritos de Anne foram doados para o Instituto de Documentação de Guerra dos Países Baixos (RIOD) na Alemanha, o qual provou (pelo menos garante que provou) a autenticidade da obra.
Se foi Anne quem escreveu ou não essa obra, não importa muito. Alguém escreveu! Como historiadora, no entanto, defendo a veracidade dos fatos históricos e, se houve realmente fraude quanto à criação do Diário, isso precisa ser esclarecido definitivamente. A obra não perde o seu valor literário, mas o seu valor histórico fica comprometido.
De qualquer maneira, a reedição do Diário de Anne Frank veio em boa hora. Tantos conflitos pelo mundo (Oriente Médio, Estados Unidos versus Iraque, Paquistão versus Cachemira, etc.) e fico pensando: quantas crianças viveram ou estarão vivendo a mesma agonia de Anne Frank? A vida dessa adolescente foi realidade ou ficção?
A II Guerra Mundial foi um dos momentos mais tristes de nossa história e é muito entristecedor presenciar uma situação mundial tão instável! Nestes quase 60 anos do Pós-II Guerra, os seres humanos deveriam ter compreendido que a violência e a ânsia de poder não leva a nada, mas infelizmente a morte de seres humanos inocentes não sensibiliza muitas pessoas.
Já havia lido essa obra há alguns anos, e posso dizer que atualmente me emocionou muito, pois seu grande mérito é retratar o sofrimento de um povo perante a barbaridade do nazismo. Deveria servir de exemplo para que não houvesse mais conflitos no mundo.
O Diário de Anne Frank é um clássico da literatura mundial e deve ser lido por todos os que sonham com a paz e harmonia entre os homens.
Para ir além
No Centro da Cultura Judaica - Casa de Cultura de Israel (Rua Oscar Freire, nº 2500; Tel.: 11 3065-4333) está em cartaz a exposição "Anne Frank - Uma História para Hoje" até o dia 8 de outubro de 2003.
São 28 painéis digitalizados e impressos a cores, com reproduções de fotografias dos álbuns da família Frank e de seus arquivos históricos. A história de Anne Frank é contada através da perspectiva da família Frank, e o público entra em contato com o Holocausto através do depoimento de sobreviventes.