Relatar os 10 livros que marcaram a minha vida não é muito
difícil. Gosto de enumerar as coisas que admiro: as dez peças
de teatro mais interessantes, os dez melhores atores e
cantores brasileiros, os autores que mais me encantam, os
livros que eu jamais esquecerei...
Na infância, o livrinho que me fez
amar literatura foi Os
Saltimbancos (encarte do disco de mesmo nome de Chico Buarque
e Sérgio Bardotti). Acredito que esse livrinho esteja
esgotado; se estiver, deixo aqui um apelo para que ele seja
lançado novamente.
Depois, ganhei de presente da minha mãe
Reinações de
Narizinho, de Monteiro Lobato. Não perdia um episódio do
Sítio e fiquei apaixonada pelo livro, pois o li e reli
diversas vezes... Nunca mais o vi na minha estante... Houve
uma época que eu costumava doar livros para a biblioteca, mas
confesso que hoje me arrependo um pouco. Alguns livros são
eternos e nos desfazermos dos mesmos é perder um pouco da
nossas lembranças!
Há cerca de dois anos atrás, eu estava cursando
Licenciatura
em História e li Bisa Bia Bisa Bel, da Ana Maria Machado. É
um livro que deve ser lido por crianças e adultos. De uma
maneira encantadora, a autora trata da memória e de como
valorizar as nossas raízes (a nossa História) e nos
possibilita entendermos quem somos. Eu o indico
especialmente para professores, pois é uma maneira
interessante de mostrar às crianças (e porquê não
adolescentes e adultos?) a importância da valorização do
nosso passado. Identifiquei-me muito com o livro, pois tenho
grande carinho pela minha família e procuro preservar e
guardar com carinho todas as minhas lembranças (materiais ou
sentimentais). Meu bisavô (pai do meu avô materno), por
exemplo, era imigrante italiano e foi a primeira pessoa que
levou para Valinhos/SP uma muda de pé de figo. Meu outro
bisavô era ator e diretor de teatro amador em Rio Claro, e eu
guardo os textos, fotos e os programas dos seus espetáculos,
para mim uma relíquia!
Para terminar a minha lista de livros
infantis, cito O
Chapeuzinho Amarelo, que Chico Buarque escreveu em homenagem
a uma de suas filhas. Conta a história de uma menina com medo
de tudo, com medo de ter medo, medo do lobo. Quando li me
emocionei, pois todos temos as nossas inseguranças, mas só
podemos superá-las quando enfrentamos os obstáculos com muita
fé e perseverança. A capa foi assinada por Ziraldo, que aliás
é um artista que admiro muito. Eu o li numa livraria (dessas
que deixam os seus clientes folhearem livros e revistas) e só
não o comprei porque naquele momento eu não tinha condições
financeiras para isso. Chapeuzinho Amarelo e O Menino
Maluquinho, de Ziraldo, li há poucos anos atrás, e eles me
fizeram voltar aos meus tempos de criança!
Todos que costumam ler as
minhas colunas sabem que o teatro é
minha grande paixão. Ler textos teatrais é um hábito que
adquiri quando fiz teatro amador em Campinas. Já perdi a
conta das peças que li, mas algumas marcaram a minha vida. Em
1987 encenei o espetáculo A Aurora da Minha Vida, de Naum
Alves de Souza. Um texto emocionante, que trata de relações
escolares, da amizade, da hierarquia de poder entre alunos e
professores na escola, do preconceito existente para com o
próximo... Naum conta o dia-a dia de personagens como "a
gorda", o "puxa-saco", o "adiantado", etc; os quais fazem
parte do universo de qualquer escola. Esta obra é uma crítica
ao ensino arcaico/tradicionalista, mas também uma linda
homenagem à infância, a uma época que, com certeza, fica
guardada na nossa memória... Nunca me esqueci da professora
de Português, Renata. Com ela eu aprendi o quanto ler é
prazeroso!
O texto teatral A Vida é Sonho, de Calderòn de La
Barca, é
uma obra pela qual tenho muito carinho. Assisti ao
espetáculo que Regina Duarte encenou em 1991, e corri até a
livraria para comprar o livro (na época a Editora Scritta,
Rio de Janeiro, editou a obra com tradução de Renata
Pallotini). Calderòn é um dos maiores representantes do
teatro barroco espanhol - escrito no século XVII - e retrata
com maestria os tênues limites entre sonho e a realidade.
É uma pena que são publicados no Brasil poucos textos teatrais! As peças teatrais de Chico Buarque, Nelson Rodrigues,
de Juca de Oliveira, Arthur Azevedo, entre outras
raras peças publicadas, demonstram a qualidade de nossos
dramaturgos.
Outra obra que tive curiosidade de ler, após assistir a uma
adaptação no teatro (Você Vai Ver o que Você Vai Ver, com
direção de Gabriel Villela), foi Exercícios de Estilo, de
Raymund Queneau. De uma maneira divertida, o autor trabalha
com as múltiplas versões que um mesmo fato pode ter,
dependendo de quem o conta e/ou da maneira como ele é
contado. Tive a oportunidade de adquirir o livro muitos anos
depois da montagem ter saído de cartaz e atualmente não sei
se está disponível ou não nas livrarias. É uma pena que
muitas obras de grande valor se esgotam e não são reeditadas,
ou pelo menos ficam muitos anos à espera de um novo
lançamento.
Meu livro de cabeceira é Fragmentos de um Discurso
Amoroso,
de Roland Barthes. De vez em quando, faço uma leitura de
trechos dessa obra. Barthes faz uma análise primorosa sobre o
amor, inspirado em escritores como Goethe, Proust, Freud, Nietzsche, Baudelaire, etc.
Uma obra que eu gostaria de ter na "minha biblioteca" é Os
Anos de Aprendizado de Wilhelm Meister , 1824-1829, de
Goethe. Li esse livro na faculdade e fiquei encantada. Nele,
Goethe narra as desilusões do jovem Wilhelm, o qual deseja
iniciar a carreira de autor dramático. Quem gosta de teatro e
literatura certamente se apaixona pelo livro. Ele está
esgotado e precisa ser reeditado o mais rápido possível!
Escolher a décima obra foi tarefa dificílima. Ultrapassarei a
lista dos dez livros, mas será "por uma boa causa". Ler nunca
é demais, e quem se apaixona por essa atividade certamente
reunirá em sua vida uma lista interminável de bons livros e
autores.
Ao invés de citar mais um livro, vou citar meu escritor
preferido: Gabriel Garcia Marquez. Gabo (como é chamado pelos
amigos) consegue unir simplicidade no modo de escrever e
profundidade nos temas abordados. Gostaria de ler todas as
suas obras, mas, até o momento, indico Cem Anos de Solidão, O
Amor nos Tempos do Cólera. Acabei de ler Notícias de Um
Seqüestro. Neste livro, Gabriel Garcia Márquez conta, de uma
maneira instigante, a história de diversos seqüestros de
jornalistas que ocorreram na Colômbia no final dos anos 80.
Conhecemos um pouquinho da conturbada política colombiana e
um dos maiores nomes do narcotráfico: Pablo Escobar.
Quando começo a ler alguma obra não consigo parar. Esqueço de
tudo à minha volta até terminar. Sou uma devoradora de
livros; geralmente os leio em um ou dois dias, dependendo do
número de páginas.
Confesso que gostaria de ler com mais freqüência.
O maior
problema é a letra das publicações. Tenho onze graus de
miopia e geralmente as letras dos livros são muito pequenas.
Deveria existir uma lei que obrigasse as editoras a
publicarem uma porcentagem de cada obra literária com letra
ampliada e outra porcentagem em braile! Já deixei de ler
muitos livros por causa desse problema. O novo livro do
Gabriel Garcia Márquez, Viver para Contar, por exemplo, eu
provavelmente não poderei conferir; pois a letra é tão
pequena!
Não poderia deixar de indicar os livros de Chico Buarque,
que
é um artista pelo qual eu tenho grande admiração. O "Chico
músico" me encanta mais do que o "escritor/romancista", mas
além do Chapeuzinho Amarelo, que eu já citei - Estorvo,
Benjamin e Budapeste são livros que merecem respeito e devem
ser lidos. Gostei dos três livros, mas não posso dizer que
eles marcaram a minha vida.
As Mil e Uma Noites também me encantou. Na verdade, ele seria
o décimo primeiro livro da minha lista... Não cheguei a ler os
oito livros da coleção (parei no sexto), mas pretendo não só
conferir os contos que faltam, mas reler os anteriores. Assim
como Sheerazade conta histórias para não morrer, considero a
leitura o motor da vida. Proporciona aos seres humanos a
oportunidade de aprimorar o conhecimento e não deixa morrer
em nós a capacidade de sonhar.
Bisa Bia, Bisa Bel é um fenômeno que já recebeu vários prêmios desde que foi escrito e tem presença marcada na lista dos 40 Livros Essenciais escolhidos pela Nova Escola.É também um dos livros mais vendidos da Ana Maria e um dos mais editados no exterior. Além disso, inspirou muitas atividades escolares, um exemplo disto, foi que no final de 2002, em Apucarana, no Paraná, a professora Lauzinha Rosa coordenou um projeto chamado “No tempo da Bisa”, com sete turmas, dos colégios Alberto Santos Dumont e Polivalente. Os alunos leram Bisa Bia, Bisa Bel, redigiram, pesquisaram, e desenvolveram atividades de aproximação de gerações, visitando o asilo de idosos do local e conversando muito com os mais velhos, o que resultou em um projeto de solidariedade e alcance social / humano.
Acho que quando escreveu este livro Ana Maria estava com muitas saudades das suas avós, com vontade de falar sobre elas. Talvez esse seja seu principal segredo.
Uma relação de amizade e troca, capaz de emocionar a todos, realmente Nanda Rovere tem razão é um livro muito marcante. Não o li quando criança, simplesmente porque em meio ao sertão do vale do Jequitinhonha , eu não tinha acesso a nenhum tipo de livro e não podia esperar nada além das lições da professora. Gostaria de cumprimentar e agradecer à Nanda Rovere por ser/se tornar um modelo cultural à todos que tem acesso à ela.
Por acaso, esbarrei hoje nesta coluna e em seu comentario, tão carinhosos ambos. Como autora, queria agradecer às duas leitoras por suas palavras que iluminam meu dia. E convidar todos a visitar meu site. Peço tambem que não publiquem meu e-mail pessoal, por favor.