COLUNAS
Sexta-feira,
8/10/2004
A melhor revista do mundo
Eduardo Carvalho
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É uma discussão longa, mas deliciosa, na qual me peguei dia desses: qual é, afinal, a "melhor revista do mundo". Em inglês, digo. The Economist, The New Yorker, The New Republic, The Observer, The Guardian, The Atlantic Monthly? A lista das candidatas não acaba, mas vamos lá: são todas muito diferentes, e é difícil - impossível mesmo - escolher apenas uma.
Das supracitadas, por exemplo - e na minha opinião, lógico -, a Economist é a mais completa; é a que inclui mais assuntos e lugares, de artes visuais a finanças corporativas, da Nova Zelândia ao Panamá. Tentei me afastar, por seis meses, de sua leitura, mas me senti desorientado no mundo - e retomei minha assinatura, imediatamente. A The New Yorker, à qual já dediquei uma coluna, tem artigos longos e incisivos, sobre assuntos culturais e políticos, e ao mesmo tempo é a mais engraçada, divertida - e talvez também seja a revista, digamos assim, mais sofisticada do mundo, pelo seu senso de humor e pelo gabarito de seus colaboradores.
A The New Republic é impossível de encontrar no Brasil, e praticamente não sai dos Estados Unidos, porque orbita em torno de Washington. Uma pena: é o que há de melhor para política interna - e externa também, portanto - americana. Seus editores escrevem encantadoramente bem, e são muitíssimo bem informados. O Guardian e a Observer, ingleses, li menos, mas são periódicos acessórios, mais opinativos - num estilo bonito e contundente, que não existe no Brasil. Já a The Atlantic Monthly reúne em seus quadros jornalistas e colaboradores do mais alto nível, e mensalmente publica reportagens profundas, esclarecedoras, de assuntos complexos, como relações internacionais.
Onde encontrá-las? A The New Republic, como disse, você não vai encontrar nunca, no Brasil. A Economist está presente em boas bancas, e as outras em meia dúzia de grades jornaleiros e livrarias. Porque, afinal, vivemos em outro mundo - onde a nova técnica para cirurgia plástica é o assunto mais relevante da semana.
Roda morta
Eu chamei atenção, em De outra viagem pelo Brasil, para o crescimento do agronegócio brasileiro, que está acontecendo numa velocidade alucinante. Sugeri que esse movimento seja documentado e, em seguida, veiculado nos grandes centros urbanos do Brasil, como São Paulo - que está, em geral, alheia a essa onda. A revista Veja bem que tentou, há duas semanas, mas ainda não foi desta vez: a foto da capa, de uma lavoura de plantio direto, é emblemática, mas o texto é ralo, com poucas novidades.
Quem vai trazer informações novas para São Paulo, daqui a um mês, é a equipe do Rally da Pecuária, que está visitando os pontos mais importantes de criação de gado no Brasil, de Barretos a Gurupi. É esse tipo de iniciativa, que combina a pesquisa acadêmica com a observação em campo, buscando resultados práticos, que falta no Brasil. Estamos aguardando o resultado.
E, enquanto isso, no Roda Viva do dia 23 de setembro, Bolívar Lamounier, cientista político, comentava sobre o preconceito brasileiro contra a riqueza produzida no campo. É que convencionou-se aceitar, por aqui, que o enriquecimento do industrial é legítimo - e normalmente é mesmo -, enquanto o fazendeiro enriquece explorando trabalho e terra dos outros. Foi um alívio ver Lamounier lembrando os primos do meu avô, que importaram sozinhos as primeiras cabeças de gado Nelore da Índia. O esforço monumental, que exigiu viagens longas e negociações internacionais complexas, em pouco anos transformou a qualidade do rebanho brasileiro. Empreendedores assim não podem ser confundidos com seus inimigos, os sinhozinhos de lugares abandonados - que já são uma espécie em extinção.
Já o Roda Viva do dia 4 de outubro, onde se pretendeu reunir vereadores, deputados e senadores para uma conversa sobre política, foi arrepiante. Despreparados e desarticulados, ninguém demonstrou nem um pingo de educação: todos se interrompiam, gritavam. Nenhum assunto se desenvolveu logicamente. A todo momento, alguém anunciava que o outro estava mentindo. Ora, um dos dois, o mentiroso ou o acusador, estava - e pode? É permitido que se façam acusações assim, tão facilmente, chamando indiretamente os telespectadores de imbecis? No Brasil, pelo jeito, é.
Curiosidades: os políticos de médio-escalão do PSDB têm todos a mesma cara, os petistas ainda não aprenderam a usar ternos e as mulheres, de todos os partidos, precisam escolher um cabeleireiro menos cafona. Por trás de cada um deles - das barbas, das perucas e dos laquês -, porém, parece que há sempre o traço e a disposição de uma jabuti anêmica - mesmo que, de vez em quando, a tartaruga esteja irritada.
Eduardo Carvalho
São Paulo,
8/10/2004
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