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Melhores de 2004
Quinta-feira,
13/1/2005
O melhor de 2004? Você decide!
Adriana Baggio
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No último mês de dezembro, os colunistas do Digestivo Cultural procuraram trabalhar com textos sobre o ano de 2004. Artigos sobre melhores e piores, reflexões, perspectivas. Algo que seja adequado ao momento de passagem: uma avaliação do que fica e uma projeção do que virá.
Pensei bastante sobre o que escrever dentro dessa temática. Não me sinto com cacife para dizer quem foi melhor ou pior. Os assuntos que acompanho com mais frequência são aqueles relativos à minha profissão, mas não vou chatear vocês com um panorama do melhor da publicidade em 2004. E dos que acompanho, não consigo lembrar... Meu Deus, qual foi a melhor música que ouvi? E o melhor livro lançado? E o melhor filme?
Quando estava procurando uma receita de peru para o Natal, achei algo no site do Fantástico: uma retrospectiva de notícias curiosas, que não vão passar na edição especial do Globo Repórter, mas refletem um pouco do que aconteceu no Brasil e no mundo durante o ano. Inspirada por essa listinha, decidi dar uma peneirada para escolher o assunto mais (ir)relevante de cada mês e falar sobre ele.
Fica o convite para que os leitores escolham os melhores e os piores e a gente possa chegar aos fatos que resumam 2004, para o bem e para o mal!
No início do ano, em janeiro, Naomi Campbell desfilou para Dolce&Gabana vestindo uma camiseta estampada com a nossa bandeira e as palavras "Samba" e "Brazil". Pois é, o sucesso foi enorme. Tão grande que um deputado propôs que "ordem e progresso" fossem imediatamente substituídas por "Samba, Brazil". Assim, justificava ele, haveria uma unidade de posicionamento entre a imagem do nosso país lá fora e os dizeres da bandeira. Mas a mudança não pôde ser feita. A exemplo do cupuaçu e de outros patrimônios nacionais, a palavra "samba" já tinha sido registrada pelos japoneses e não poderia ser usada sem um alto custo de royalties. Com isso, só nos resta tentar passar lá fora uma imagem que reflita o "slogan" original do nosso país.
Fevereiro foi palco da separação de um dos mais famosos casais do mundo: Barbie e Ken. A boneca turbinada, precursora do silicone, decidiu dar uma basta nessa vida. Ainda bonita, com cintura fina e corpo firme, foi morar na Califórnia e namorar surfistas. A princípio, essa decisão assustou os lojistas, que ficaram com medo de uma queda nas vendas da boneca entre as meninas, elas próprias já cedo preocupadas em conseguir e segurar namoradinhos. Qual não foi a surpresa quando a Barbie Divorciada revelou-se uma grande estratégia de marketing? Ela é muito mais cara que os modelos tradicionais. Afinal, com o divórcio, a Barbie agora vem com o carro do Ken, a casa do Ken, o barco do Ken, a moto do Ken e uma bela pensão do Ken.
Com a chegada de março, o país voltou a funcionar. Os jornais deixaram de lado a cobertura do carnaval e voltaram suas pautas para assuntos mais sérios, como a educação e a história do Brasil. Nesse mês, foi realizada uma pesquisa com jovens de 15 a 21 anos, perguntando sobre os 40 anos da ditadura militar. 32% citaram Tiradentes como exemplo de personalidade presa, torturada e morta durante o regime. Sete entre dez deles não sabiam que a ditadura teve início no dia 31 de março. Cinco entre sete não sabiam que o Brasil teve ditadura militar. Desses cinco, quatro achavam que ditadura militar era o nome de uma nova banda. E 1,5 entre três ficaram surpresos ao saber que o mês de março tem 31 dias.
Dizem que maio é o mês da mulher. Pois bem, em 2004, o mês da mulher foi abril. Cientistas japoneses anunciaram ter conseguido a reprodução sem sexo e criado uma fêmea de camundongo que tem duas mães e nenhum pai. Mulheres do mundo todo saíram às ruas para comemorar essa incrível revolução. Finalmente, a única função para qual um homem era imprescindível poderia ser assumida por outra mulher. Representantes do sexo feminino fizeram festa em todos os cantos do mundo. Dançaram, gritaram, cantaram e começaram a beber. No entanto, depois de algumas caipirinhas, saquês e blood mary's, começaram a ficar nostálgicas e deprimidas. Choravam no ombro umas das outras, inconsoláveis, pensando em namorados, maridos, amantes e amores perdidos. Cansadas e com frio, voltaram às suas casas para dormir em volta de braços fortes e peludos. As que não tinham namorado, marido ou amante, continuaram bebendo, fumando e refletindo. Assustadas, chegaram à conclusão de que a descoberta era uma verdadeira tragédia. Com mais uma possibilidade para a reprodução de camundongos, o planeta poderia ficar infestado desses horríveis animais. Desesperadas, foram para suas casas enviar e-mails aos cientistas japoneses suplicando que não levassem adiante as pesquisas de reprodução sem necessidade de machos.
Em maio, Mônica, a infantofeminista personagem de Maurício de Souza, completou 40 anos. A festa foi realizada na casa do Cebolinha, seu grande amigo de infância. Ele e Cascão pediram aos convidados que levassem de presente para Mônica diversas versões do Sansão, o coelhinho-porrete usado pela menina para assegurar seus direitos. A menina virou mulher, mas tem coisas que nunca mudam. Irritada com a homenagem, Mônica desceu o coelho nos amigos e todos acabaram na delegacia. Só a Magali ficou na festa e comeu todos os brigadeiros, empadinhas e coxinhas que os convidados não tiveram oportunidade de degustar.
Em junho, as pessoas ficaram horrorizadas com o caso da costureira que não foi aceita para uma vaga como vendedora de uma loja por não ter boa aparência. A história teve imensa repercussão. Por conta dessa exposição, ela ficou famosa e foi chamada pela produção da novela Betty, a Feia, para fazer o papel da bela irmã da protagonista. A carreira da moça continua e hoje ela faz parte da campanha publicitária da Dove, que diz que todas as mulheres têm seu lugar ao sol. Também faz palestras sobre posicionamento de marcas no mercado e valorização de recursos humanos. A loja que lhe negou emprego não teve o alvará renovado pela prefeitura. Motivo? Péssima aparência da fachada.
Durante o verão do hemisfério norte, no mês de julho, um grupo de cientistas da Califórnia anunciou a descoberta do menor peixe do mundo, com 8 milímetros. O animal logo transformou-se em iguaria nas caçarolas dos mestre-cucas franceses da região, dando origem ao Petit Poisson, o prato perfeito para ser servido no almoço de mulheres magérrimas. É leve, diet e muito, muito caro. Um legítimo representante da nouvelle riche cuisine.
Agosto, tradicional mês de azar. O famoso quadro O Grito, de Edvard Munch, foi roubado do Museu Munch, em Oslo, em plena luz do dia. Os guardas do museu ficaram mudos diante da ousadia dos ladrões.
Setembro trouxe uma péssima notícia para as mulheres. Uma projeção do IBGE diz que, em 2050, seremos seis milhões a mais que os homens aqui no Brasil. Mas como em tudo pode-se ver o lado bom das coisas, dois segmentos de produtos comemoram a perspectiva: o de vibradores e o de revistas femininas que ensinam como conseguir maridos.
Chega o final do ano e as pessoas vão pirando. Em outubro, a jornalista Erika Palomino anunciou no jornal que usar roupa preta é cafona. Poucos dias depois, foi vista entrando em uma clínica psiquiátrica, amparada por Johnny Luxo. Houve muita discrição sobre o fato, mas dizem as más línguas que Erika passou a receber a visita do espírito de Coco Channel durante a noite. Envolveram até a pobre da Marília Pêra na história, mas ninguém conseguiu provar nada.
Em novembro, o casal dono da tradicional Casa das Alianças, de São Paulo, se separou. Como diz o ditado, amores, amores, negócios à parte. Eles estão lançando um novo serviço: um jogo de alianças idênticas é vendido separadamente, um anel em cada loja (na separação, eles dividiram as lojas entre si). Depois, os proprietários das alianças tentam encontrar seu par em uma festa organizada pela empresa especialmente para esse propósito.
Finalmente, o último mês do ano. Uma época muito especial, principalmente para nós, do Digestivo Cultural. O lançamento da nossa edição em papel, como suplemento especial da GV-executivo, foi um verdadeiro presente de Natal. Recebemos felicitações de toda parte do Brasil e do mundo. Nosso editor, inclusive, está avaliando cuidadosamente uma solicitação de parceria feita pela The New Yorker. Ainda não sabemos se vai acontecer. Afinal de contas, temos uma reputação a zelar! :)
Um Feliz 2005 a todos vocês!
Adriana Baggio
Curitiba,
13/1/2005
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