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Segunda-feira, 21/3/2005
Zicartola
Marcelo Maroldi
+ de 5500 Acessos

Lembro que já se vão alguns anos desde que ouvi dizer pela primeira vez sobre o lendário Zicartola. Para um jovem como eu, morador do interior de São Paulo (e, portanto, bem distante do Rio de Janeiro e de sua boêmia pícara), devo admitir que foi um caso incomum. Raro mesmo. Talvez nem os jovens cariocas de hoje possam dizer algo a respeito dele...E lembro da minha reação nos dias seguintes, enquanto ouvia discos de samba: puxa, devia ser um grande prazer freqüentar aquele restaurante e visitar seus donos... Agora, quando o desejo de conhecê-lo, saboreando a - dizem - deliciosa comida da Dona Zica ao som do grande Cartola e de seus amigos, acomodou-se, sou apresentado ao livro Zicartola (Maurício Barros de Castro, 2004, Relume Dumará/Prefeitura do Rio de Janeiro, 116 páginas) onde posso, enfim, visitar aquele lugar.

O livro, apesar do título definitivo, acaba por ser mais que uma simples descrição do Zicartola. Na verdade, a obra pouco fala, de fato, sobre o restaurante que se tornou reduto do samba carioca nos anos 60, freqüentado pelos principais artistas e intelectuais cariocas (além de inúmeros universitários que, ainda que por um período breve, trocaram a zona sul pela norte, onde se localizava o bar, na Rua da Carioca, 53). A narração, simples e objetiva, inicia-se dezenas de anos antes da inauguração do Zicartola (nascido em 1963), por volta dos anos 20, quando as escolas de samba são concebidas no seio carioca (isto é, nas favelas, onde, aliás, alguns brancos da cidade se dirigiam, maravilhados com a cultura lá produzida) e de onde surgiriam uma centena de grandes nomes da música popular brasileira e, principalmente, do samba, muitos deles cantores das rádios. Tendo isto sido dito, não é difícil imaginar a narrativa de boa parte dos nomes presentes no livro. São histórias de dificuldades, muitas de pobreza, pileques, e, evidentemente, carnaval e samba.

Na seqüência, a história segue até o surgimento do restaurante. E, então, o livro procurar constituir o cenário carioca até meados da década de 60, quando nasceria o restaurante, em meio à agitação política daqueles dias e de uma explosão de artistas e novos gêneros musicais, como a Jovem Guarda. O subtítulo do livro, Política e samba na casa de Cartola e Dona Zica - que não aparece na capa e nem na contra-capa mas apenas internamente - sugere mais do que na verdade o livro faz. O livro jamais perde o foco nas pessoas, em especial nos sambistas, e pouco debate faz das idéias e sentimentos políticos do período. A política na casa de Cartola e Dona Zica é superficialmente explorada.

Lendo o livro, tive a sensação nítida de que há uma supervalorização do espaço Zicartola como ponto de resistência cultural carioca, e brasileiro, portanto. Ao contrário do que tenta induzir o texto em alguns momentos, não parece ter sido ali a mantenedora dos suspiros intelectuais da cidade. Talvez, e apenas isso, reduto dos autênticos sambistas, marginalizados e sem espaço naquela ocasião (o próprio Cartola lavava carros mesmo depois de famoso, quando ficou esquecido. Outros grandes compositores vendiam a autoria de músicas para quem quisesse, em troca de pequenos valores, fato conhecido de todos). Um dos artistas citados no texto que não era cantor (pelo menos até onde eu saiba) é o poeta Ferreira Gullar. No livro, ele não minimiza o papel histórico do restaurante, mas também a ele não atribui uma fundamental importância. Para Gullar, o encontro da juventude com os sambistas das escolas de samba é anterior ao aparecimento do Zicartola. Porém, segundo o poeta, a idéia de fazer o show Opinião, nasceu de ir para o Zicartola, de ouvir o Zé Kéti, o João do Vale e a Nara cantarem. Esse depoimento reforça o caráter inspirador do restaurante aos eventos seqüenciais, como Opinião e o Roda de Ouro. No dia 20 de fevereiro de 2005, o poeta, que agora escreve crônicas na Folha de São Paulo, comentou o assunto, iniciando assim o texto intitulado "Fim de Papo" (que parece ter sido uma resposta às supostas críticas recebidas por sua crônica anterior que falava sobre o carnaval e a invasão dos brancos nas escolas de samba):

Tenho a vaidade de dizer que pertenci ao grupo de artistas e intelectuais que contribuíram para que o público da Zona Sul do Rio de Janeiro passasse a valorizar os sambistas das escolas de samba.

Já no CPC, (nota Marcelo Maroldi: Centro Popular de Cultura) no comecinho dos anos 60, esse grupo fez as primeiras aproximações, promovendo pequenos shows na sede da UNE, no Flamengo, e depois ajudando a organizar o célebre espetáculo de música popular brasileira no Teatro Municipal, até então templo intocado da música erudita. Cartola fez alusão a esse feito num samba célebre.

De modo geral, a leitura de Zicartola revive uma história que estava distante das pessoas e esquecida na memória de alguns. Um passado importante, fundamental e pouco revisitado. Não é raro as pessoas de hoje desconhecerem personalidades da música brasileira, como Cartola, Nelson Cavaquinho ou Zé Kéti. Muitos conhecem, isto é, conhecem de nome, mas não conseguem cantarolar nenhuma música corretamente. O livro pode ajudá-los a entender melhor o cenário brasileiro do samba, tão presente na época do Zicartola e dos grandes sambistas, e mostrar que o reaparecimento desses nomes aconteceu no restaurante de Dona Zica e Cartola, o Zicartola.

Para ir além






Marcelo Maroldi
São Carlos, 21/3/2005

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01. O Digestivo e o texto do Francisco Escorsim de Julio Daio Borges
02. Silêncio de Verônica Mambrini
03. Alguém para correr comigo, de David Grossman de Julio Daio Borges


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