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Quarta-feira, 8/8/2001
Baiano bom de prosa
Paulo Polzonoff Jr
+ de 4600 Acessos

Estou meio abobado. Sento no computador para escrever esta coluna pensando em outra coisa quando escuto na TV que o Jorge Amado morreu. Sinto-me na obrigação para com meus leitores de escrever sobre o escritor baiano. Portanto, minhas considerações sobre o homem na Lua e sobre a Seleção ficam para as outras semanas, assim como a narrativa da minha estada em Paris, conforme solicitado no protocolo 7837-B, do Livro 12298, página 23, seção 9, prédio 11 desta minha cabeça atulhada de coisas inúteis.

Jorge Amado era ateu e comunista. Duas coisas que, se não me desagradam no todo, tampouco me fazem admirá-lo mais. Sua trajetória é invejável dentro da nossa literatura. Jorge Amado conseguiu vender proporcionalmente a mesma coisa que Paulo Coelho vende hoje, só que falando de coisas pretensamente sérias. Sim, sim, sei que muito da fama do escritor se deve à ajuda publicitária do Partidão. Falarei sobre isso mais tarde. Por ora, vale à pena nos atermos aos livros dele. Afinal, sou contra isso do autor ser venerado mais por sua biografia do que por sua bibliografia. E coerência é meu lema - nem sempre seguido à risca, é bom que se diga.

O primeiro livro que li de Jorge Amado foi Capitães de Areia. Todo mundo me falava deste livro como se fosse a coisa mais maravilhosa do mundo. Li-o quando tinha uns quinze anos e confesso que a parte que mais gostei foi a de sexo - não lembro de quem com quem. É basicamente isso o que passa na cabeça de um menino de quinze anos, por mais que ele já tenha pretensões literárias: sexo.

Capitães de Areia tem, sim, aquela criticazinha social que tanto encanta resenhistas. Não sei por quê. Pobres, meninos ou não, sempre pontuaram a literatura brasileira. Melhor e com mais intensidade retrataram as camadas miseráveis Lima Barreto e Aluísio de Azevedo. Aqui começa-se a ver o dedão do Partido, dando aquele abraço no velho Jorge. A gente releva, contudo, e pensa na cena de sexo do livro, que é para descontrair.

Confesso que já tive minha fase vermelha. Motivado por um professor da faculdade, eu cria que o Comunismo era a solução para o planeta. Sei lá, eu estava sem emprego, sem namorada, sem perspectiva. Era, portanto, o comunista perfeito: sem nada e querendo repartir este nada com todo mundo. Nivelar as coisas por baixo. Por esta época meu ídolo era ninguém mais ninguém menos que Luís Carlos Prestes. O Cavaleiro da Esperança, como foi alcunhado pelo correligionário Jorge Amado. Li a biografia de Prestes como quem lê uma Bíblia e até hoje ninguém me tira esta impressão. O livro é quase um livrinho vermelho de Mao para brasileiros. Ele tenta criar uma figura heróica, quase mítica. Depois de ler este livro, cheguei à conclusão de que o Brasil só não virou um país comunista porque Prestes não morreu. Morto, era mito; vivo, apenas um político com idéias subversivas.

Este livro, lançado na Argentina em 1942, é o auge da fase comunista de Jorge Amado. Ele foi largamente alardeado no exterior, com o apoio, obviamente, da União Soviética. Quando se fala que Jorge Amado vendeu milhões e milhões de livros, tem-se que pensar que este fenômeno de venda se deu menos por sua capacidade narrativa do que pela extensa campanha de marketing do Partidão, que não hesitava em publicar em tcheco uma obra de Jorge Amado a um, por exemplo, George Orwell. E seriam loucos?

Não há como negar, contudo, que havia certa lucidez naquela penumbra ideológica. Em 1958 Jorge Amado daria uma guinada em sua carreira - para melhor. Abandonaria todos os clichês à la Stálin e se concentraria nos costumes do brasileiro. Mais especificamente o baiano, negro, caliente, vivendo aquele sincretismo religioso que tanto agrada aos gringos e comendo comidas exóticas que nos dão diarréias homéricas. O livro que marca esta fase é Gabriela, Cravo e Canela. Com a receita comida-e-sexo, Jorge Amado não perdeu seus leitores estrangeiros e até ganhou a simpatia cá em terras brasileiras. Exceto por um ou outro que via como perniciosa a manutenção de um estereótipo brasileiro (mulato gostoso à procura). Certa vez me sentei com um baiano e ele me disse que Jorge Amado favorecia a prostituição infantil no Nordeste. Alguém aí tem opinião sobre o assunto?

Desta fase, li apenas Dona Flor e Seus Dois Maridos. De uma sentada só. Livro adorável. Sexual (e não sensual). Com cheiro de dendê. Sincrético. Aquela coisa toda. Não tive, contudo, ganas de ir para a Bahia praticar turismo sexual por conta do livro. Tampouco me senti menos brasileiro (sou branco e descendente de russos - olha a ironia), fora do protótipo, se é que há um. Enfim, o livro não me acresceu nada. A não ser, claro, umas boas risadas.

Quando eu penso em Jorge Amado hoje lembro um tempo que não vivi: um tempo em que se lia muito mais do que hoje. Calma, calma. Sei que "naquele tempo" havia muito mais analfabetos. Só que a classe média lia, proporcionalmente, mais e melhor que nestes dias. Com todas as reservas que se pode ter do baiano velho comunista que no fim da vida foi o mais rico de nossos escritores e que era admirador de Antônio Carlos Magalhães, ainda assim ele é melhor, infinitamente melhor que um Paulo Coelho. Prefiro seus negros estereotipados, cheios de volúpia e só volúpia, aos demônios do vigarista-mor de nossa escassa literatura.

Com Jorge Amado vai-se esta época. Apesar das discordâncias políticas de hoje, não posso deixar de admirar um homem que acreditou naquilo que escreveu e que soube cair fora na época certa (Jorge Amado deixou o Partidão após saber das atrocidades cometidas por Stálin, coisa que o Stédile não fez até hoje, para se ter uma idéia do que significa honestidade intelectual. Deixa para lá.). Além disso, Jorge Amado soube ter humildade, coisa tão rara em nossos "intelequituais" (adoro quando o Millôr escreve assim), e aceitar o fato de que, para ser admirado pelas massas (para usar um jargão de comunista), tinha de se curvar à tão difamada televisão.

Que descanse em paz, olhando o mar da Bahia por toda a eternidade.



Paulo Polzonoff Jr
Rio de Janeiro, 8/8/2001

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