De volta às férias II | Eduardo Carvalho | Digestivo Cultural

busca | avançada
52329 visitas/dia
1,9 milhão/mês
Mais Recentes
>>> Pimp My Carroça realiza bazar de economia circular e mudança de Galpão
>>> Circuito Contemporâneo de Juliana Mônaco
>>> Tamanini | São Paulo, meu amor | Galeria Jacques Ardies
>>> Primeiro Palco-Revelando Talentos das Ruas, projeto levará artistas de rua a palco consagrado
>>> É gratuito: “Palco Futuro R&B” celebra os 44 anos do “Dia do Charme” em Madureira
* clique para encaminhar
Mais Recentes
>>> Do lumpemproletariado ao jet set almofadinha...
>>> A Espada da Justiça, de Kleiton Ferreira
>>> Left Lovers, de Pedro Castilho: poesia-melancolia
>>> Por que não perguntei antes ao CatPt?
>>> Marcelo Mirisola e o açougue virtual do Tinder
>>> A pulsão Oblómov
>>> O Big Brother e a legião de Trumans
>>> Garganta profunda_Dusty Springfield
>>> Susan Sontag em carne e osso
>>> Todas as artes: Jardel Dias Cavalcanti
Colunistas
Últimos Posts
>>> Lisboa, Mendes e Pessôa (2024)
>>> Michael Sandel sobre a vitória de Trump (2024)
>>> All-In sobre a vitória de Trump (2024)
>>> Henrique Meirelles conta sua história (2024)
>>> Mustafa Suleyman e Reid Hoffman sobre A.I. (2024)
>>> Masayoshi Son sobre inteligência artificial
>>> David Vélez, do Nubank (2024)
>>> Jordi Savall e a Sétima de Beethoven
>>> Alfredo Soares, do G4
>>> Horowitz na Casa Branca (1978)
Últimos Posts
>>> E-books para driblar a ansiedade e a solidão
>>> Livro mostra o poder e a beleza do Sagrado
>>> Conheça os mistérios que envolvem a arte tumular
>>> Ideias em Ação: guia impulsiona potencial criativo
>>> Arteterapia: livro inédito inspira autocuidado
>>> Conheça as principais teorias sociológicas
>>> "Fanzine: A Voz do Underground" chega na Amazon
>>> E-books trazem uso das IAs no teatro e na educação
>>> E-book: Inteligência Artificial nas Artes Cênicas
>>> Publicação aborda como driblar a ansiedade
Blogueiros
Mais Recentes
>>> Softwares para ficcionistas
>>> Os solitários anônimos de Fusco
>>> Poco più animato
>>> A história do bom velhinho
>>> Ele é carioca
>>> Hoje a festa é nossa
>>> A Bienal e a Linguagem Contemporânea
>>> Comum como uma tela perfeita
>>> Entrevista com Cardoso
>>> Ensino Inferior
Mais Recentes
>>> A Espada de Salomão - A Psicologia e a Disputa de Guarda de Filhos de Sidney Shine pela Casa do Psicólogo (2010)
>>> Jamie Viaja de Jamie Oliver pela Globo (2011)
>>> 1001 Livros para Ler Antes de Morrer de Peter Boxall pela Sextante (2010)
>>> O Que Está Acontecendo Comigo? de Peter Mayle, Arthur Robins pela Nobel (2003)
>>> O Deus das Feiticeiras de Margaret Alice Murray pela Gaia (2002)
>>> Curso De Direito Constitucional de Guilherme Pena De Moraes pela Editora
>>> O Apanhador No Campo De Centeio. de J. D. Salinger pela Editora Do Autor (2016)
>>> A Ciência Através Dos Tempos de Attico Chassot pela Moderna (2004)
>>> As Três Perguntas - Baseado Numa História De Leon Tolstoi (2º tiragem) de León Tolstoi - Jon J. Muth pela Wmf Martins Fontes (2005)
>>> E a Bíblia Tinha Razão de Werner Keller pela Círculo do Livro (1978)
>>> Os Lohip-hopbatos Em A Guerra Da Rua Dos Siamipês de Flavio De Souza pela Companhia Das Letrinhas (2013)
>>> Matematica - 2º grau - volume unico (4º edição - 2º impressão) de Manoel Jairo Bezerra pela Scipione (1997)
>>> O Fantástico Mistério De Feiurinha (3º edição - 1º impressão) de Pedro Bandeira pela Moderna (2015)
>>> Poder E Desaparecimento de Pilar Calveiro pela Boitempo (2013)
>>> Poder E Desaparecimento de Pilar Calveiro pela Boitempo (2013)
>>> Sobre A Questao Da Moradia de Friedrich Engels pela Boitempo (2015)
>>> Ninguem Precisa Acreditar Em Mim de Juan Pablo Villalobos pela Companhia Das Letras (2018)
>>> Lutas De Classes Na Alemanha de Karl Marx pela Boitempo (2010)
>>> Lutas De Classes Na Alemanha de Karl Marx pela Boitempo (2010)
>>> Lutas De Classes Na Alemanha de Karl Marx pela Boitempo (2010)
>>> Marx, Manual De Instruções de Daniel Bensaïd pela Boitempo (2013)
>>> Marx, Manual De Instruções de Daniel Bensaïd pela Boitempo (2013)
>>> Lutas De Classe Na Franca de Karl Marx pela Boitempo (2012)
>>> Lutas De Classe Na Franca de Karl Marx pela Boitempo (2012)
>>> Lutas De Classe Na Franca de Karl Marx pela Boitempo (2012)
COLUNAS

Sexta-feira, 22/7/2005
De volta às férias II
Eduardo Carvalho
+ de 4400 Acessos

Dividi minhas férias, de janeiro e fevereiro, em duas partes: a primeira, que passei principalmente em Oxford, mais dedicada a pesquisas e à literatura, dentro e fora de salas de aula; e a segunda, em fevereiro, que passei pulando de cidade em cidade, em vários meios de transporte e com muitas companhias. Sai do Brasil sozinho, como já havia feito, antes, com direção a destinos menos convencionais. E sai de Londres, no começo de fevereiro, talvez mais sozinho do que havia deixado o Brasil em dezembro: porque Oxford e, em seguida, Londres estavam agradáveis, amigáveis, e tinham me feito sentir praticamente - ou temporariamente, pelo menos - em casa. Havia ainda muita coisa para conhecer em Oxford, que descobrirei depois; e estava com excelentes companhias em Londres, onde rapidamente estabeleci uma rotina que foi difícil abandonar. Mas eu precisava deixar a Inglaterra e continuar a minha viagem - mesmo sem saber exatamente para onde.

Escolhi a Espanha como primeiro destino simplesmente porque nunca tinha ido para a Espanha - e por nada mais especial. Minha primeira impressão, quando pousei em Madri, é a de que estava em Marrocos, ou - para ser preciso - geograficamente fora da Europa. Aos poucos, essa sensação foi desaparecendo, não sei se porque freqüentei ambientes mais educados ou se me acostumei com o lugar. Devo ter me acostumado: até porque o estilo que é considerado cosmopolita na Espanha é parecido com o que se imita aqui em São Paulo. Andei muito em Madri - principalmente por Salamanca. Entrei em lugares escondidos, de restaurantes cool a bares universitários. Só que o que mais me marcou - apesar de eu, às vezes, escapar de museus em viagens - foi a coleção da Galeria Thyssen. Pensei que o Prado - com Goya, Velásquez, etc. - fosse me encantar mais: mas eu nunca tinha ficado tão deslumbrado antes em uma galeria. Meu gosto simples para artes plásticas estava totalmente satisfeito com o veleiro de Edward Hopper, por exemplo. Nem precisava da exposição temporária do Brucke que estava acontecendo lá - e que gerou, depois, bastante assunto para conversas em Berlim.

Em Barcelona, dispensei quase todos os museus, galerias, etc. A gente sabe, tem o Picasso e o Miró, mas meu tempo estava curto para isso: eu precisava andar de avião no Parque de Diversões e, à noite, me alimentar bem. O Cinc Gats é famoso em Barcelona, porque um dia, há quase cem anos, foi ponto de encontros de Picasso, Cocteau, etc. Mas o clima e a comida desapontam, apesar de continuar reduto dos turistas mais bem informados. Fui jantar razoavelmente bem no Speak Ease - uma espécie de Gero local -, o restaurante do bar Dry Martini, considerado um dos melhores do mundo e especializado, óbvio, no drinque do James Bond. O concinillo mereceu nota 7,2 - que subiu por causa da combinação com o vinho que me recomendaram, impecável. Mas fui comer bem mesmo, acredite, em Praga, onde o ritmo gastronômico foi acelerado.

De Barcelona, então, fui para Berlim - que estava congelando, em fevereiro. Encontrei um amigo e fomos de trem, no dia seguinte, para Praga. A cidade é a mais aberta e amigável entre as capitais das antigas províncias soviéticas. Foi a primeira a se abrir ao Ocidente e a entrar na moda. Há anos Praga está no roteiro de turismo mainstream dos europeus. Hoje, os mais antenados estão abrindo território em Moscou, Tallin, Riga, Beirute, Libjuana. Praga é tipo uma Trancoso européria: não é mais assim alternativa, você não vai mais ser único a ter ido para lá, mas só os atrasados - que são muitos (americanos e eurotrashes, principalmente) - vão com esse espírito. A Filarmônica de Praga é competente. E você almoça e janta deliciosamente: um cabrito no Café Flambé, um coelho no Hergetova Cihélna, ou uma dúzia de ostras no Bazzar, que há pouco tempo foi considerado um dos ambientes mais cool do mundo. E ainda há o castelo, o rio, as pontes e a neve, que à noite, no inverno - quando a cidade está vazia - formam o ambiente autêntico de um conto de fadas.

Praga é pequena e provinciana assim como Berlim, ao contrário, é ampla e cosmopolita. A cidade está espalhada em vários centros, e todos eles são freqüentados por um público variado e atualizado - como Mitte e Charlottenburg. Berlim parece ser, em alguns aspectos, o centro do mundo, se não for mesmo: e nem preciso comentar temas como música e literatura, que estão presentes nos melhores ambientes da cidade. Foi prático, claro, me hospedar no Funk Hotel, na Fasanenstrasse, que funciona no charmoso apartamento em que morou, nos anos 20, a atriz Asta Nielsen - e que preserva a decoração Art Nouveau da época. Passeei muito de bicicleta pela cidade, guiado por amigos que moram lá, e me abastecendo no Eisntein Café - que recomendo, aliás, especialmente o original, ao lado da embaixada americana. O documentário que assisti sobre a vida de Kubrick, no cinema da Universidade, me estimulou ainda mais a assistir Barry Lindon. E o que é interessante: essa turba de alemães médios, bêbada em Ibiza e Canários, é aparentemente parecida com os mais finos, mas a diferença - que é essencial - é gigante. Existe em Berlim um pessoal culto, elegante, que combina, digamos assim, os modos franceses e a cultura inglesa, e os enquadra num método germânico - e o resultado está longe do estereótipo que se fazem deles. Dizem que Berlim é o seguinte: imagine Paris civilizada. Uma noite na Filarmônica seguida por um jantar no Wintergarten im Literaturhaus faz tudo parecer menor.

É uma fraqueza minha, confesso, mas ainda fico deslumbrado com mulheres lindas que conseguem conversar sobre Proust sem ser pentelhas. Não são poucas, acredite. Não, pelo menos, em Berlim. Mas precisei infelizmente sair correndo de lá, para conhecer Munique, esquiar na divisa com a Áustria, entre castelos que inspiraram Walt Disney, e depois cair numa roubada previsível: pegar um ônibus de Munique a Budapeste, atravessando a madrugada - ao lado de um gordo em ebulição. Fiquei em Peste, conheci Buda, e - como o personagem de Budapeste, de Chico Buarque - acabei estendendo meus planos na cidade porque meu avião falhou. Não foi ruim a noite à beira do Danúbio, com vista para os castelos da cidade, no hotel em que engraxei minha botina para seguir, na manhã seguinte, para Zurique. Um café no bar da Universidade, no topo da cidade, foi o suficiente para me convencer de que tenho que voltar para a Suíça com mais calma, talvez no próximo inverno, pelo menos para esquiar no Riders Palace.

A escala na Suíça foi curta e, na manhã seguinte, eu estava em Paris. Para encerrar uma viagem completa: que passou do porto de Antuérpia ao Dinner Room do Oriel College, em Oxford; de um cinema obscuro em Paris a peregrinações noturnas por Londres; de eventos sobre venture capital a exposição de pedras e joalheiros em Munique; de uma overdose de TGV, entre Londres e Paris, à insônia viajando de ônibus, no interior da Hungria; de uma tarde perdido no meio da Bavária, sozinho, passeando por um centro de Olimpíadas de Inverno desativado, à leitura em êxtase de Henry James numa praça de Madri; de cervejas e tapas em Toledo, desacompanhado, a um passeio pelo Zoológico de Berlim, muito bem acompanhado; de papos toscos, com gente desinteressante, em bares de americanos em Praga, a conversas sofisticadas sobre a personalidade ingênua de Isabel Alrem; de aula avançada sobre precificação de ações alternativas ao maravilhoso clima de Natal em Ghent; do globo da biblioteca do Queen's College, em Oxford, que apenas a rainha pode girar, a um fliperama vazio na periferia de Budapeste. Para terminar meu trajeto na Feira de Agropecuária de Paris. E tirar uma foto com o maior boi do mundo - uma das cinco ou seis que eu touxe para casa. As melhores imagens e situações - que não aparecem em fotografias - eu prefiro guardar com mais cuidado, num lugar em que elas não se perdem nem se desgastam com o tempo: e em que andarão comigo, para sempre, e para todos os lugares do mundo, como se estivessem aqui, no meu bolso da minha camisa.


Eduardo Carvalho
São Paulo, 22/7/2005

Quem leu este, também leu esse(s):
01. O que mata o prazer de ler? de Duanne Ribeiro
02. As minas de ouro (ou Os sebos) de Ivan Bilheiro
03. Verdades e mentiras sobre o fim dos jornais de Julio Daio Borges
04. É a mãe! de Pilar Fazito
05. É descansando que se vai longe de Verônica Mambrini


Mais Eduardo Carvalho
Mais Acessadas de Eduardo Carvalho em 2005
01. Por que eu moro em São Paulo - 8/7/2005
02. Minha formatura - 5/8/2005
03. A prática e a fotografia - 25/2/2005
04. Uma conversa íntima - 11/2/2005
05. De volta às férias I - 17/6/2005


* esta seção é livre, não refletindo necessariamente a opinião do site



Digestivo Cultural
Histórico
Quem faz

Conteúdo
Quer publicar no site?
Quer sugerir uma pauta?

Comercial
Quer anunciar no site?
Quer vender pelo site?

Newsletter | Disparo
* Twitter e Facebook
LIVROS




Traída - Série House Of Night
P. C. Cast
Novo Seculo
(2009)



Livro Religião A Conspiração Franciscana
John Sack
Sextante
(2007)



Histórias Cretinas
José de Carvalho
Córrego
(2017)



CLT - LTr 2006
Armando Casimiro Costa e outros / org.
LTr
(2006)



Livro Poesia Sonetos Do Amor Obscuro e Divã do Tamarit Coleção Folha Literatura Ibero-Americana Volume 2
Federico García Lorca
Folha de São Paulo
(2012)



O Homem Mais Rico do Mundo
Guilherme Cunha Pinto
Quinteto
(1987)



Love That Dog: A Novel
Sharon Creech
Joanna Cotler Books
(2001)



Livro Pedagogia Alfabetização na Sociedade e na História Vozes, palavras e textos Coleção Educação Teoria e Crítica
Antonio Viñao Frago
Artmed
(1993)



Livro O Ponto E A Linha Têm Outros Planos
Blandina Franco E José Carlos Lollo
Leiturinha
(2021)



Livro Poesia Morda Meu Coração Na Esquina Poesia Reunida
Roberto Piva
Companhia Das Letras





busca | avançada
52329 visitas/dia
1,9 milhão/mês