E lá vem o amigo e editor Julio Daio Borges pedir uma coluna especial sobre tema específico. Sempre que ele faz isso, eu costumo travar, porque fico me questionando se terei algo mais interessante a dizer além do que os caros colegas de Digestivo vão escrever. Ainda assim, o desafio é sempre estimulante, e mesmo que o texto não fique tão legal quanto os dos companheiros de site, sei que terei cumprido um dever da melhor forma possível. Desta vez, o tema é Orkut - e tudo e qualquer coisa relacionado a ele. Começar dizendo o que é o Orkut seria tão óbvio quanto afirmar que tal ato é chover no molhado.
(Por via das dúvidas: Orkut é uma rede de relacionamentos virtual em que o participante pode interagir com outros através de amigos, comunidades, mural de recados, mensagens particulares, classificações e outras particularidades. Nada inédito, mas, juntando tudo, criou-se mania e vício mundial - sendo que mais de 70% dos presentes são brasileiros, elemento muito bem analisado por Celso Augusto Uequed Pitol em seu artigo.)
Curioso o quanto o Orkut já se tornou peça fundamental no cotidiano de milhões de internautas. A força do site é tamanha que já criaram-se tabus em torno dele. São justamente alguns desses tabus que tentarei abordar aqui. Parto do breve questionamento de três ações tomadas por determinados usuários para tentarem se proteger ou não fazerem feio perto dos "amigos" virtuais. A eles, então:
Fim dos scraps?
Cada membro do Orkut possui um mural de recados, também conhecido como scrapbook. É ali que podem ser postadas mensagens breves, comentando, lembrando, perguntando, se apresentando. Qualquer usuário, amigo ou não, tem acesso irrestrito ao mural de todos. Ou seja, ler recadinhos alheios é praticamente regra geral no Orkut, mesmo para quem não é enxerido. Pois atualmente está em voga uma espécie de movimento pelo sumiço dos scraps: diversos orkuteiros começaram a simplesmente apagar essas mensagens recebidas tão logo elas sejam lidas e respondidas, numa aparente tentativa de manter a privacidade sem perder a camaradagem. Alguns chegam a ponto de deixar um scrap fixo, escrito por si mesmo, "avisando" a quem acessar o mural de que seu recado será lido, respondido e apagado.
Ora, eu sou totalmente contra essa regra de apagar scraps no Orkut! Sim, um ou outro comentário às vezes incômodo, comprometedor ou inoportuno (contendo agressões, por exemplo, ou citando alguma ocasião que se quer manter em discrição), vá lá. Mas lançar mão de um quase ato institucional que censura a si próprio e a quem se dispõe a trocar idéias conosco é ignorar a essência comunicativa do Orkut e desvirtuar uma de suas ferramentas mais interessantes e instigantes. Afinal, acima de tudo, o site é uma grande brincadeira - ou deveria ser pensado como tal. Um espaço de interação que nos permite ter contatos além de fronteiras físicas com o simples clique, em muitos casos sem necessidade de se decorar e-mails, números de telefone, endereços e afins. Basta ir ao mural e deixar um recadinho. Quem apaga scraps não apenas está levando a brincadeira a sério demais e mantendo preocupações com algo que não deveria, a princípio, incomodar, quanto está se privando de momentos leves e descontraídos de diversão e amizade. Sem falar que pode passar a chatíssima impressão a conhecidos e amigos que há, ali, algo a esconder...
Por que aceitar amizade de qualquer um?
Sempre que alguém nos adiciona na lista de contatos, o Orkut nos avisa de que fulano "quer ser amigo". Você tem a opção de aceitar ("sim") ou declinar o convite ("não"). A maioria dos usuários simplesmente aceita, alguns não sem antes vasculhar o perfil de quem está pedindo na tentativa de saber se tratar de alguém "do bem", mas no fim das contas a aceitação acaba sendo regra. Dizer "não" poderia soar antipático.
Eu não penso assim. Já cliquei diversas vezes em "não" no Orkut. Por que eu aceitaria ser amigo de alguém que nunca vi ou sequer falou comigo pelo simples fato de fazer crescer minha lista de contatos? Por que diria "sim" a algum antigo conhecido que não teve qualquer tipo de importância na minha vida, sendo talvez gente que me marcou negativamente no passado ou sequer me deu atenção, mas, de repente, se deparou com a minha foto no Orkut, ressurgiu como um fantasma da Web e quis ser meu "amigo"? Se tal pessoa nunca quis ser amiga de verdade, não seria agora, on-line, que ela mudaria drasticamente de opinião. E se porventura isso acontecesse, eu preferiria que fosse ao vivo. Então, me dou o direito de negar o pedido. Se ela iniciar um diálogo (mesmo que através dos scraps), aí podemos conversar e, só depois, avaliar a tentativa de "amizade".
Confesso ser esta uma postura razoavelmente besta e, quem sabe, infantil da minha parte, mas durmo bem com isso. Nas ocasiões em que disse "não", eu não o fiz de maldade nem por instinto. Pensei bem antes e achei que me sentiria melhor recusando incluir na minha lista gente que eu não conseguiria ficar olhando no rosto quadriculado das fotos abaixo da inscrição "amigo". Se você foi um dos recusados, foi mal aí. Deve ter havido um motivo muito forte...
Sair do Orkut é solução?
Mais grave que apagar scraps, há outro movimento rolando na rede. É o chamado "orkuticídio". Como o nome adianta, trata-se da retirada plena e irrestrita do usuário do Orkut. Cada um tem suas razões, e quem somos nós para questioná-las. Porém, venho a público aqui fazer um apelo a quem "se matou" ou pensa no tão radical ato: não o faça. Seja lá o que houve, resista.
O Orkut é uma das invenções mais estimulantes da internet. Como dito, não existe nada de novo ali, mas sim a reunião de diversos recursos de interação em prol da formação de grandes comunidades. Participar de forma saudável e construtiva, falando de televisão, cinema, culinária, economia, música, sexo, emprego, futilidades e infinitos temas mais, apenas engrandece a experiência de estar no Orkut. Usar o scrapbook na sua finalidade, que é deixar recados breves, e não espalhar spams, correntes ou demais mensagens inúteis, torna o trânsito de informações menos constrangedor e mais agradável a todo e qualquer participante. Não provocar brigas virtuais, não atiçar rivalidades, não fazer intrigas ou futricas, só tendem a manter o site um ambiente de grande harmonia e respeito. Se todos fizermos isso, se todos seguirmos as normas básicas de educação que deveríamos aprender desde crianças na vida real e aplicá-las ao Orkut, ninguém precisará "se suicidar" e deixar de usufruir o grande mergulho virtual que se tornou o site.
Eu tenho orkut e não me sinto na obrigação de aceitar quem não conheço só pra ser simpática e apagar mensagens para os curiosos espiarem... podem olhar!!! Como diz uma comunidade: eu sei que você lê meus scraps... Não devo nada pra ninguém! Já fui mais "viciada" mas que a moda pega, sem dúvida, pega mesmo...
Adorei o texto. Super bem humorado!
Marcelo, não concordo contigo, especialmente no item dos scraps. O Orkut não é uma brincadeira: já foi usado pela polícia para prender criminosos (pedófilos, líderes de gangues de torcidas organizadas, etc.), e é até utilizado por recrutadores de RH para avaliar candidatos a vagas de emprego! Por mais que queiramos NÃO levá-lo a sério, tratá-lo como mera brincadeira, o Orkut já não funciona mais assim. Em decisão tomada recentemente, apaguei todos os meus scraps recebidos, cerca de 1500, trabalhão que me tomou quase 1 hora. Valeu a pena. É como uma libertação. Não devo nada a ninguém, mas isso não quer dizer, de maneira nenhuma, que estou disposto a abrir minha vida para qualquer um lê-la. Muitos scraps têm conteúdo bastante pessoal que eu detestava ver ali, publicado pra todo mundo ver. É uma escolha que diz respeito à privacidade do usuário, não a uma suposta interferência na interatividade entre ele e seus amigos. (Continua...)
(Continuando...) Apagar um scrap não desvirtua, de maneira nenhuma, a essência interativa do Orkut. Por que não enviar um bom (e agora velho, pelo jeito) e-mail? Por que não deixar um scrap pedindo, por exemplo, o MSN da pessoa (se ele não estiver disponível no perfil)? Perfis no Orkut e scraps expõem as pessoas. Deletar essas mensagens é apenas uma tentativa de minimizar essa exposição, que a meu ver é pouco saudável quanto o conteúdo dessas mensagens é bastante pessoal. Mas vai de cada um, claro. Há aqueles que estão dispostos a se expor, há aqueles que preferem controlar essa exposição. Ninguém tem a obrigação de transformar sua vida num livro aberto, e nem todo mundo tem essa disposição. É isso.
Diego, muito bom o seu retorno, e concordo com muita coisa que vc falou. Confesso que nem pensei muito no lance do Orkut estar servindo a empresas de RH e mesmo à polícia, é um dado que eu deveria ter abordado no texto. Agora, acho que enviar ou não um email não tem relação com os scraps, teoricamente. Eu frisei no artigo que o scrapbook facilita a vida justamente por não se precisar de todos os emails, servindo como mural de RECADOS, e não necessariamente de MENSAGENS. E no fim, eu defendo o uso responsável e correto dos scraps como forma de harmonizar as relações do Orkut sem que se obrigue as pessoas a "cancelarem" os scraps ou mesmo sair do site. Realmente é uma decisão pessoal, mas eu discordo de que o scrapbook seja algum livro aberto. Depende da relação que vc mesmo cria com ele - se vc dá liberdade, as pessoas escrevem. Eu, por exemplo, gosto de trocar scraps saudáveis com os amigos, e são coisas que não tenho motivos pra que não fiquem expostas.
(Continuando...) Não que eu queira me mostrar, mas simplesmente pq são recados inofensivos, que não fazem ninguém saber mais ou menos de mim ao lê-los. Saber que saí ontem ou que minha namorada gosta de mim? Ora, isso é público e notório no meu círculo de convivência, :-) Mas, como dito, é particular. Meu objetivo com o texto era defender uma posição e ir contra alguns tabus criados em torno do Orkut. Defenderei sempre a permanência dos scraps, quando bem utilizados e na sua real função. Sei de gente que teve problemas com isso, mas qualquer ferramenta mal utilizada pode ser transtorno. Aí a culpa não é da ferramenta, mas de quem não sabe utilizá-la. Valeu mesmo pelas considerações, elas apenas enriquecem o debate. Forte abraço!
Com relação aos textos, eu não tenho orkut, resisto o máximo possível, meu marido tem e eu não vejo o quanto pessoas indesejadas visitam a página dele e observam a vida dele, isso é muito chato, me sinto mal, pois vejo que na verdade muitas pessoas fazem do orkut um meio de "vasculhar" a vida de alguém, e isso não agrada ninguém, com certeza é um meio de lazer, porém muita gente não pensa assim, e criam comunidades que ferem a auto-estima das pessoas, não falo só por mim, falo por milhares de pessoas que sofrem ou que sofreram com esse mal, é uma pena que exista tanta gente desejando fazer o mal no orkut.
O orkut é uma floresta bela, mas não encantada, e você é mais um bichinho de orelha nesse habitat. Como não é sonho [orkut], você pode não ter um feliz natal, porque será mais fácil ser seqüestrado por um Noel [ir para dentro do saco do presumível velhinho] do que ganhar um presentinho. Mas no orkut também têm "Chapeuzinhos Vermelhos" como no conto dos "Irmãos Grimm" e nem sempre todo lobo é mal! De qualquer forma me armo com paus e com pétalas!
Tenho 55 anos e, influenciado por minha filha de 16, abri um orkut. Comecei devagar, sem entender muito do que era, mas logo iniciou-se o orkutvicio, como se diz. Faz dois anos que navego nele. E o faço com a maior desenvoltura. Vez por outra, recebo comunicados de filhos de ex-colegas de universidade ou mesmo de quando fiz meu curso ginasial ou científico. Filhos sim, porque os pais, gente de minha idade, parece que têm muito receio de navegar em mares tão tecnológicos. Tenho um amigo que fala que não quer perder tempo, que este Orkut é coisa de big brother, que vai ser vigiado etc. Acho que tudo é preconceito. É uma forma de comunicação como qualquer outra, até mais eficaz. Orkutcídio? Nem pensar. Acrescento apenas quem conheço ou aqueles que passam pela minha avaliação. Fora isso, viva o Orkut!!!!
Ser usuário ou não do Orkut? Utilizei o orkut por um tempo (quase 3 anos) e a cada dia verificava que o Orkut "roubava" meu tempo de uma forma que estava se tornando preocupante.
Antigamente me logava uma vez por semana, porém de uns tempos pra cá estava navegando no orkut, ao menos, uma vez por dia. Foi então que percebi quantas atividades poderia ter realizado em todo tempo que gastei da minha vida navegando no orkut. Sexta-feira passada cancelei minha conta do Orkut e sinto como se tivesse retirado um peso das minhas costas. Sem preocupações, sem estresses, sem conhecidos ou desconhecidos fiscalizando minha vida como se fosse um livro aberto. Espero que muitos de vocês também reflitam quanto à necessidade de sermos pessoas melhores e fazermos algo pelo nosso semelhante que passa fome na esquina de nossa casa. A caridade é a salvação.
Nada nem ninguém é bom o tempo todo, nem total e absolutamente mal. Como tudo na vida (real ou virtual), o orkut tem seus aspectos negativos. Mas quem não tem? Vc tem, eu tenho.
O Brad Pitt tem. A vida tem. Algumas pessoas se sentem incomodadas pela exposição excessiva do orkut. E essa exposição é inegável. Pra essas pessoas, ele é péssimo. Pra mim, ele é perfeito, pq exponho apenas o q eu quero, além dele me aproximar do mundo e de mundo diferentes dentro das pessoas. Qta gente estava perdida e eu reencontrei. Qtas amizades legais eu fiz por meio de comunidades. Enfim... É cada um na sua. Quem não gosta do orkut, tmb tem as suas razões. Mas o que eu não acho certo é que certas pessoas não querem ter a sua vida "devassada", mas fuçam na de todo mundo e ainda criam fakes pra fazerem isso tranquilamente... Pura hipocrisia. "Só 'venha a nós'... 'Vosso reino', nada".