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Quarta-feira,
22/3/2006
Google: a ferramenta
Jardel Dias Cavalcanti
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Sentimos uma vontade terrível de fazer um pudim aqui em casa ontem à noite. Se não o fizéssemos, estaríamos perdidos, nem dormiríamos. Queríamos fazer o pudim e não apenas comê-lo. Se quiséssemos apenas comer o pudim isso se resolveria telefonando para a padaria do próximo quarteirão. Os ingredientes estavam comprados. E a receita? Não conhecíamos. Mas já era bastante tarde para ligar para algum conhecedor dessa apetitosa sobremesa para ele resolver nosso pequeno problema culinário. Minha mãe, que seria a pessoa ideal, dorme cedo (e também acorda cedo). Pensamos em várias pessoas, mas todas fora de cogitação. E a vontade apertava.
Tínhamos que recorrer a alguém e esse alguém, o único no momento que poderia nos acudir, chama-se Google. Ligamos o computador, acessamos a ferramenta de busca e lá estavam enfileiradas mil e uma receitas de pudim, que poderiam ser retiradas dos sites oferecidos. Agora teríamos não só uma, mas variadas receitas deliciosas para serem escolhidas por nós. Dito e feito, o pudim foi artesanalmente feito, com uma receita digna das nossas vovós.
Parece banal o relato acima (relato verdadeiro), mas não é. Porque se você está procurando alguma coisa você poderá achar imediatamente usando esta ferramenta. E isso tem implicações de várias ordens: econômica, sociológica, existencial.
Imagine-se a dez anos atrás. Imaginou? Agora imagine-se à meia-noite e meia tentando encontrar um texto sobre, por exemplo, "indústria cultural". O que faria para acessar tal conhecimento? Uma biblioteca? Nesse horário estaria fechada. Um amigo? Quem leria para você por telefone um texto de 20 páginas? Ora, amigos desta natureza não existem mais. Mas você precisa ler um texto com esse conteúdo específico esta noite. Danou-se, meu camarada.
Agora imagine-se hoje, confortavelmente dentro de sua casa, podendo acessar o Google e tendo às mãos não só um, mas vários textos sobre o assunto e mesmo livros completos oferecidos por bibliotecas internacionais. Tudo podendo ser encontrado em razão de minutos graças a uma ferramenta de busca. Você está a salvo. Agradeça a Deus, quer dizer, agradeça ao Google.
Quer ver fotos? Escolha o assunto, o autor das fotos, a época das fotos. Verá. Pois serão localizadas para você pelo Google. Está com algum problema de saúde e quer conhecer melhor as causas da doença que te assola e que tratamentos são indicados? O Google localizará páginas médicas, com resultados de pesquisas sobre a doença e indicações de tratamento. Não era isso que você queria? E não era pra ontem?
O seu tempo aumentou. O acesso às informações, idem. E a velocidade de acesso às informações é que te dá mais tempo.
Antes, falo de poucos anos atrás, você teria que correr contra o tempo para saber qualquer coisa, para obter mínimas informações. Isso se traduzia em uma grande despesa em dinheiro: gastos em ônibus, táxi, cópias de xerox, telefonemas para saber onde conseguir a informação.
Hoje, não. Com um provedor razoavelmente barato você pode usar esta ferramenta que te possibilita encontrar sites e mais sites sobre assuntos os mais diversos possíveis. Seu filho quer fazer uma pesquisa? Alguma coisa interessante ele vai encontrar... sem precisar nem sair de casa. Apenas acessando o Google. Você precisa reler uma notícia? Vai encontrá-la acessando o Google. Dados sobre uma empresa? O Google indicará os meios de acesso ao que te interessa.
As implicações que o uso dessa ferramenta têm, que podem até parecer mínimas, são grandes e só podem ser notadas por aqueles que um dia precisaram acessar informações e não tinham em mãos este instrumento de pesquisa.
Que cessem o uso da ferramenta por uma semana apenas e veremos o grau do desespero ao qual seremos jogados. Se bem me lembro, só hoje acessei a ferramenta pelo menos umas vinte vezes. Uma pesquisa sobre a Bauhaus, outra sobre expressionismo, dados sobre um filósofo alemão, uma busca por uma revista de poesia, receita de um assado de carneiro, emblemas imperiais e por aí vai. Estou satisfeito com minhas buscas. Não precisei me deslocar para uma biblioteca pública (embora, por vezes, isso seja muito prazeiroso) e não precisei telefonar para consultar um especialista em heráldica.
A pesquisa no Google me ofereceu desde informações sobre sites como também imagens que eu precisava acessar. Sem o Google eu teria que achar uma biblioteca especializada, o que não é fácil, copiar páginas de livros caríssimos, copiar fotos coloridas que também são caríssimas, e num tempo que me comeria pelo menos três dias, atrasando outras coisas que eu precisava fazer num prazo determinado.
Estamos num tempo privilegiado. Há informações de qualidade sendo distribuídas numa velocidade assustadora e podendo ser encontradas através de ferramentas desenvolvidas para acelerar o seu acesso através do uso na internet. Se estas informações estão sendo aproveitadas ou não é uma outra questão. A liberdade de acesso a elas é garantida, ainda, numa facilidade mágica. Um dia saberemos o grau da sabedoria que o povo do presente aproveitou via internet. Talvez uma consulta ao Google nos indique o local onde o resultado de uma pesquisa sobre os usos da sabedoria virtual está sendo divulgada...
Jardel Dias Cavalcanti
Campinas,
22/3/2006
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