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COLUNAS >>> Especial Copa 2006

Segunda-feira, 3/7/2006
A Copa do Mundo é sua!
Ram Rajagopal
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A missão do hexacampeonato terminou, e agora todos os brasileiros poderão retornar à sua programação normal. O mercado financeiro vai funcionar ininterruptamente, os médicos no hospital retomarão sua rotina, professores darão aula sem dar a mínima para o calendário da CBF, etcetera e tal. A única atividade anunciada que permanecerá durante o mês é a caça aos culpados pelo fracasso da seleção brasileira em ganhar um torneio de futebol.

Futebol no Brasil é como o brasileiro vê o Brasil. Uma compulsão obsessiva, com intensa bipolaridade. Períodos de intensa euforia são acompanhados por outros de profunda depressão. Se o mesmo time que perdeu de 1 a 0 para a inestimável seleção Bleu, tivesse virado para 2 a 1, com ajuda de juiz e futebol chocho, estaríamos todos comemorando, esperançosos em relação ao Hexa. Cidadãos iriam atravessar de joelhos a Dutra para ir à basílica de Aparecida, pedir por gols do Ronaldinho e do Ronaldo.

Como foi justamente o contrário, como ficamos num 1 a 0 contra, o par de Ronaldos se tornou medíocre, com mais cartaz do que jogo, o time era horrível, e o Brasil definitivamente é um país fracassado. Bem parecido com a maneira do brasileiro encarar o debate presidencial. Ou fazemos 150 anos em 4, 3, 2 ou 1, ou então somos um país completamente fracassado, sem projeto, em que cada um é por si... Mais ou menos como dizem que acontece na seleção "do Parreira". Ou no Brasil "dos políticos".

Mas assim como este país é uma ilusão, a noção de seleção, escrete de futebol, é uma grande ilusão também. Um olhar frio, nada romântico, revelaria um grupo de trinta marmanjos (vinte e poucos mais comissão técnica) indo passar uma temporada na Europa, sendo levados mais a sério do que o presidente chinês (este capaz de lançar 200 milhões de chineses armados contra quem quer que seja)... Ilusória também é a imagem de um país como o Brasil, com personalidade, de quase uma pessoa, que ama, odeia, tem sucesso e fracassa...

A diferença entre os trinta marmanjos, e o Brasil, esse "homem", é simples: os trinta têm um rito de julgamento sumário, 90 minutos de bola rolando. O segundo, o homem Brasil, não sabe direito como será julgado, nunca pode ganhar ou perder, e anda por aí, a esmo, ora querendo ser o tal do "gigante adormecido" (que acorda), ora querendo tirar passaporte para a União Européia... Se nosso país pudesse disputar 90 minutos de "comércio internacional", com empate, prorrogação e pênalti, ou 90 minutos de "organização administrativa", ou participar da Copa do Mundo da Educação Básica, teríamos grande sucesso...! Nós, brasileiros, somos afeitos a projetos de curta duração, com definição clara de vitória e derrota. E Brasil, o "homem", é capaz de improvisar para uma Copa, uma Olimpíada, e ganhar assim, acochambrando, fazendo o que dá...

Li uns textos aqui no Digestivo, e nos jornais, cujos autores diziam que não iriam assistir à Copa, que não torcem pela seleção justamente porque isso desvia a atenção dos reais problemas do Brasil... Estes são, em sua maioria, justamente aqueles que torcem pelo Brasil, o "homem"! Na visão deles, esse homem pode perder gás a qualquer hora, porque nós, torcedores, não lhe damos atenção para que supere seus problemas pessoais e ganhe títulos, prêmios, quebre recordes... Ou seja: no fundo, dá no mesmo. A mesma bipolaridade que criticam na torcida do futebol, se manifesta na torcida deles por Brasil, the man.

Não há Brasil, o homem, assim como não há seleção, claro. Nosso país é vivo, ele é o que são seus habitantes, suas cidades, seus bairros, escolas, comércio, idéias. A todo momento somos o nosso país, estamos a fazer algo por ele, porque viver no Brasil é fazer algo pelo Brasil. O Brasil sem mim, sem você, não existe. O escrete de futebol pode até existir. Mas se você tira os trinta marmanjos e manda cada um para seu clube de origem, deixa de existir também.

Com tudo isso, tão inócua quanto a discussão da importância do futebol na psique nacional é a discussão de quanto o brasileiro leva o Brasil a sério. Nem um, nem outro. Na realidade, nada precisa ser levado tão a sério assim... Basta fazer o que você gosta de fazer, traçar planos talvez um pouco mais longos para sua vida, para deixá-la interessante, e, pronto, Brasil, o "homem", agradecerá. E os trinta marmanjos também, porque, a cada 4 anos, estarão de volta com seu drama de teatro para entreter a todos. Quiçá, ganhando melhor e morando no Brasil mesmo.

Claro, é muito gostoso sofrer, explodir numa partida, reclamar de um Parreira, odiar um Ronaldo, amar um Kaká. O esforço é pouco, eles estão lá, não precisamos correr, treinar, fazer nada. É só ligar a tevê, juntar uns amigos e voilà... Parecido com torcer por Brasil, o "homem". Basta ver propaganda eleitoral, ler a seção "Brasil" do jornal, encontrar todos aqueles dirigentes irresponsáveis... com suas opções políticas incrivelmente estúpidas (que você, obviamente, faria muito melhor, mas não tem tempo)... e pronto. Mas, no fim das contas, é só um prazer imediatista de segunda mão... É como ver fotos da Luana Piovani na Trip.

Mais gostoso ainda seria possuir a Luana. Conquistar algo seu. Suar a camisa para um time de várzea de seu bairro (inclusive suando dobrado para organizar um campeonatozinho). Pensar em se candidatar à eleição com todas as idéias que você imagina serem melhores que as dos demais... Só que aí entra a tal história: isso é um projeto de 4 anos! Não é só jogar a Copa... Tem de jogar eliminatórias, suar a camisa em torneiozinhos de segunda mão e, ufa!, ainda entrar com tudo na Copa. Sem ajuda de juiz. Por isso mesmo, quando você segue rumo ao "hexa pessoal", dá um prazer indiscritível...

E, aí sim, as coisas começarão a fazer mais sentido. Talvez você perceba que a diferença entre 1 a 0 e 2 a 1 (a favor) não é tão grande, mas que sempre haverá uma próxima oportunidade... Que grandes teorias conspiratórias nada mais são que entretenimento mental, pois, no mundo de verdade, em 90% das ocasiões, a Navalha de Occam funciona. (Nos outros 10%, é guerra.) Que a explosão de adrenalina, que você praticou com tanto afinco para ser produzida ao assistir a jogos de futebol, pode acontecer com muito mais intensidade (me dizem que quando você descobre que vai ser pai é assim)! Que a sensação de vitória, dever cumprido, que os trinta marmanjos sentiram em 2002, 94, 70, 62 e 58, e até 82, é algo palpável, reprodutível, que você mesmo pode ter para si. Que, aí sim, o "homem" Brasil existe, pois você é o astro da sua Copa pessoal... O homem herói, o tal salvador da pátria que viram no Lula e no Ronaldinho Gaúcho... Então, talvez, o futebol acabe parecendo algo menor, menos importante, mas que você mesmo deixa que seja menos importante, for the fun of it... Só pra variar.


Ram Rajagopal
Berkeley, 3/7/2006

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