"Você acha que a Suzane deve pegar quantos anos?". A pergunta sexualmente ambígua foi feita no domingo, 23 de julho, no Pânico na TV. Os malucos do programa estiveram na porta do tribunal em São Paulo onde aconteceu o julgamento de Suzane von Richthofen e dos irmãos Cravinhos. Sobre o caso, todo mundo já está cansado de saber. Quando ele vira chacota num programa de humor, aí a coisa é funda mesmo. Afinal, como fazer piada a respeito do brutal assassinato de um casal indefeso, num plano arquitetado pela filha deles junto com o namorado dela?
Isso apenas atesta que o caso Richthofen tem uma força descomunal no imaginário brasileiro. Não bastassem os detalhes macabros do acontecimento, a espetacularização do crime se torna muito maior quando se sabe que Suzane é jovem, bonita, estudiosa e, até então, herdeira de uma fortuna avaliada em R$ 2 milhões. Impossível não tentar entender o que se passa (passou) na cabeça dessa loirinha aparentemente tão dócil, tão meiga, para dar cabo dos pais e destruir a própria vida no processo - a dela e a do homem que ela dizia amar, o então namorado Daniel Cravinhos, que levou junto o irmão Cristian. Sem falar em Andreas, irmão de Suzane, deixado alheio à situação e agora literalmente a peça que sobrou do esquema todo.
Percebam a cadeia familiar. Um apaixonado puxa o outro - Suzane ou Daniel, que seja, convencem-se de eliminar os pais da moça. O rapaz coloca o parente mais próximo no meio, enquanto a garota ignora os sentimentos do caçula em casa e simplesmente some com ele enquanto a trama é tecida numa noite de outubro de 2002. É fantástico demais, rico em sutilezas, em sensibilidades, em pura paixão. É, talvez, um dos crimes mais passionais de que se tem notícia no país - e isso não é espetacularizar o fato, mas dar a ele o seu real significado.
Suzane von Richthofen em foto publicada na revista Época
Citemos um exemplo: ao mesmo tempo em que Suzane e os Cravinhos iam a julgamento, também sentavam no banco dos réus três acusados de matarem o casal Liana Friedenbach e Felipe Caffé no meio de uma mata em Embu-Guaçu (SP), há quase três anos. Objetivamente falando, o crime que acabou com a vida do casal (ele com 19, ela com 16 anos) foi muito mais brutal e covarde do que no caso Richthofen: Liana e Felipe foram seqüestrados por cinco homens enquanto acampavam. Ficaram à mercê dos algozes por quase dez dias - o rapaz recebeu um tiro na nuca que o matou na hora; a moça, nos dias seguintes, sofreu estupro e violência das mais sórdidas. Ao menos quatro dos cinco seqüestradores a curraram para, em seguida, matarem-na a facadas.
Então, por que este caso não foi tão fartamente noticiado ou gerou interesse por parte da opinião pública (e nem mereceu receber a equipe do Pânico...)? Ora, a resposta é tão óbvia quanto é estúpida a pergunta: porque Suzane tramou o assassinato dos próprios pais. Cometeu, ao mesmo tempo, matricídio e parricídio. Liana e Felipe foram vítimas de selvagens. Os matadores eram monstros sem "justificativas". Buscavam o prazer mórbido do estupro e assassinato. Não existe a menor dúvida quanto à questão: eles levaram o casal para se divertirem às custas do sofrimento deles. Sem paixão, sem sentimentos. Simples assim.
No caso Richthofen, nem tudo é tão absoluto. Todos tinham seus motivos, e sem aspas aqui. Suzane queria liberdade para namorar quem bem entendesse. Daniel desejava estar com a amada quando e como quisesse. Cristian se uniu ao irmão para ajudá-lo a ser feliz. Os motivos eram justos. O que choca na história toda é a forma como essa literal busca pelo amor terminou. O caso tem todos os ingredientes do mais absurdo folhetim melodramático: paixão, tesão, desejo. Mas tem também características de um autêntico Hitchcock: suspense, morte, suspeitas, mistérios.
Durante o julgamento, novos elementos foram acrescentados ao roteiro já devidamente rico. Houve quem dissesse que Suzane fora violentada diversas vezes pelo pai e que sua mãe era lésbica e mantinha amantes. Ou então a principal linha da defesa, a de colocar a culpa do crime num suposto domínio sexual exercido por Daniel em cima da garota - ela teria perdido a virgindade com ele, o que a teria tornado uma "bonequinha" a mando do rapaz. Ou seja, quando se acha que a trama macabra (roubando aqui um título de filme do já citado Hitchcock, que, no original, é oportunamente chamado Family Plot) estaria finalizada, eis que depoimentos surgem, testemunhas são descobertas e mais sentimentos vêm à tona.
Vai ser difícil, um dia, alguém entender o que realmente aconteceu na noite de 31 de outubro (Dia das Bruxas, aliás) de 2002 no bairro do Brooklin, em São Paulo. São tantas a versões, tantas as mudanças de foco, tantas as opiniões, que tudo parece provável e improvável ao mesmo tempo. A confusão é tamanha que enrolou até o júri responsável por definir a sentença dos três acusados. Num questionário distribuído a cada jurado, eles deviam marcar uma opção que perguntava se Suzane tinha sido influenciada por Daniel a matar o pai e a mãe. No caso da mãe, o júri considerou que ela foi totalmente responsável, sem subterfúgio algum. Já para o pai, a decisão da maioria foi que ela sofreu, sim, coação do namorado. Em resumo: ambos foram mortos na mesma noite. Para um, a moça foi forçada a cometer o crime; para outro, não. E ela nem estava no quarto na hora das pauladas desferidas pelos irmãos.
Tal complexidade gerou o livro O Quinto Mandamento, da jornalista Ilana Casoy, lançado recentemente pela ARX. Num minucioso trabalho de apuração (que lembra, na comparação com o cinema, o documentário Ônibus 174, de José Padilha), ela resgata toda a trajetória de Suzane e dos Cravinhos da noite do assassinato até a confissão. Reproduz depoimentos de familiares, policiais e reconstitui as investigações que levaram à prisão do trio. Provavelmente um livro não esgota o assunto. Nem uma coluna no Digestivo. A fascinação do caso Richthofen vai além de produtos culturais. Ela atinge o âmago do seio familiar, os questionamentos morais e éticos que todos temos sobre até onde ir para realizar nossos desejos. Na melhor das hipóteses, Suzane, Daniel e Cristian podem ter dado uma lição ao país. Tudo por amor.
Sinceramente? Não acredito que houvesse amor verdadeiro entre Suzane e o Daniel. Se existisse, eles não tentariam empurrar a culpa um para o outro. Ambos queriam, na verdade, o dinheiro dela. Ela se deixou levar por um namoro que, acredito eu, era um daqueles namoros que duram até um se encher do outro, e acabou tramando esse absurdo com ele. Pra mim, os dois deveriam receber a pena máxima, e sem direito a essas regalias absurdas que nossa lei disponibiliza - essa coisa de em 4 anos eles poderem ser libertados.
Marcelo, é uma pena que seu artigo tenha finalizado com uma frase tão absurda: "Suzane, Daniel e Cristian podem ter dado uma lição ao país. Tudo por amor." É muito óbvio que Suzane e Daniel não se amavam, caso contrário não estariam, como disse o Rafael Rodrigues, empurrando a culpa um para o outro. Na realidade, acho que essa garota, a Suzane, é incapaz de amar quem quer que seja.
Se a Suzane era menor de idade quando cometeu o crime, ela deveria ser julgada como uma juvenil delinquente e nao como uma adulta. O fato dela estar envolvida emocionalmente com um rapaz e terem juntos criado o crime contra os pais somente mostra que ela nao estava bem da cabeca e foi induzida a cometer o crime. Todos precisam de tratamento, e acredito que prisao longa nao vai ajudar em nada. Ela vai pagar pela vida todinha o que fez e sera' a pessoa mais infeliz do mundo so' em imaginar o que ela fez. Nenhum rapaz vai quere-la seriamente, e a vida dela afundou. Isso em si ja' e' uma grande pena. Ela matou os pais dela, e agora tera' que viver sem os pais e sentir na pele o que fez. Quanto 'a justica ser maleavel, isso e' de se esperar devido ao fato de nao haver termos no Brasil nenhuma facilidade de reabilitacao, mas somente de correcao... Foi tudo por amor sim, ou por falta do amor.
Você romanceou o caso, como vários outros jornalistas e veículos de imprensa fizeram - para vender jornal. Eu acredito que esse assassinato chama a atenção popular por ser um crime familiar e hediondo, não pelo suposto "romance". É preciso uma certa dose de ingenuidade e romantismo para acreditar que a menina que dava risadas ao ser presa possa ter tantos sentimentos idealizados ao planejar matar o pais. De fato, em algumas publicações vi entrevistas com psiquiatras sobre a possibilidade dela ser psicopata e nada sentir, nem pelos pais, nem pelo irmão, nem pelo namorado. Questão de enfoque, questão de interpretação. Essa história em nada me parece diferente do assassinato do jovem casal. Quem coloca como se fossem muito diferentes é a imprensa.
Com relaração ao caso de Suzane e os irmãos, só consigo pensar que o ser "humano" não é tão humano quanto parece ou quanto deveria ser. Não, apenas, por este crime, mas por tantos outros mais brutais do que esse ou não, que revelam o quão selvagem o homem pode ser, "sem estar com fome".
Muitos podem discordar de mim. Mas acho que o irmão dela não é inocente. Talvez não tenha agido diretamente no crime, mas para ele está tudo muito bom. Brigas por herança não mostram desinteresse por dinheiro. Não acham? Nesse mundo capitalista, ninguém escapa. Esse negócio de caso de amor de Daniel e Suzane é tudo mentira. O que daria mais ibope: crime premeditado por casal ou crime premeditado por um casal apaixonado?
Eu tenho 11 anos de idade, e estou fazendo um trabalho de Geografia que é um noticiário e eu acrescentei nele o "Caso Richthofen", eu irei representar a Suzane neste noticiário. Fico pensando como eu posso representar uma garota tão fria a ponto de matar os próprios pais e depois fingir que ela tentou impedir o assasinato. Fico indignada quando vejo crimes no país e da pior qualidade. Acho que ela deveria pegar prisão perpétua por esse assasinato!