Eu montei um blog porque gosto de escrever e - isto é difícil admitir - de ser lido. Não sinto aquela compulsão, aquela obrigação quase fisiológica, da qual alguns artistas reclamam. Nem acho, aliás, que estou fazendo alguma coisa muito importante ou que tenho opiniões muito originais. Simplesmente acho legal. Acho divertido ir ao cinema, ler um livro, almoçar num restaurante, viajar, assistir a um jogo de tênis, e depois escrever alguma coisa sobre o assunto. É uma forma de passar o tempo. E que não substitui nenhuma atividade que gosto de praticar. Essa divisão entre escrever e viver é a mais boba. Coisas boas não se subtraem: se multiplicam.
Escrever me exige ficar atento ao que está acontecendo nos lugares em que vou, ao livro que estou lendo, ao filme, à revista. E essas experiências - se se pode dizer assim - ficam mais fortes, mais intensas. É difícil explicar isso para quem não tem o hábito. Mas acredite: quem escreve precisa pensar em frases, em palavras, que descrevam a sensação de alguma coisa - de um sambão em Pinheiros a uma praça em Gilgit. Não é uma obrigação. Mas um conjunto de palavras às vezes aparece naturalmente. E é legal: depois você as desenrola em frases e vira um texto, um post. E você - que de repente nem sabia direito o que pensava sobre sambão ou o Paquistão - acaba sabendo. Escrever é uma forma de se conhecer melhor.
Mas, dito isto, um diário talvez fosse a melhor opção - e não um blog. Só que diário - tenho os meus, aliás - tem um problema fundamental: você não publica. Não enquanto está vivo, normalmente. É muito mais íntimo e, por isso mesmo, exige menos, cobra menos do autor. Você pode escrever besteiras enormes e supostamente muito bem justificadas. E pior: pode acabar se convencendo delas. Ninguém corrige os problemas matemáticos que resolveu sozinho. Acho que é importante expor o que se pensa, portanto, por dois motivos: porque assim você escreve com mais cuidado, pensando melhor e, de quebra, compartilha suas idéias com quem está interessado pelos mesmos assuntos - e que pode te ajudar a pensar melhor.
E é aí - no segundo motivo - que está toda a força da Internet. É muito fácil, agora, descobrir quem se interessa pelas mesmas coisas que você. É por isso que esses sites de relacionamento - Myspace, Facebook, Orkut, etc. - explodiram. Aliás, é por isso que os blogs explodiram. Porque é uma forma de ligar pessoas que tenham alguma afinidade - independentemente de onde elas estejam. Nem os blogs nem a Internet estão mudando a natureza humana: as pessoas sempre quiseram ter informação e sempre quiseram conversar sobre o que pensam sobre elas. Mas tudo isso está agora muito mais fácil. A gente continua igual, mas o mundo, felizmente, tem melhorado.
Eu mesmo, sinceramente, até há pouco tempo lia poucos blogs, de amigos que escrevem muito bem e são divertidos, como o FDR, o Alexandre Soares, o Rafael Azevedo, o Rafael Lima. Nunca me interessei muito por blogs de gente que eu não conhecia. Mas aí descobri - por recomendação do Julio - o Brad Feld, o Fred Wilson, o Mark Pincus, por exemplo, e uma série de venture capitalists e empreendedores que escrevem diariamente sobre assuntos de suas empresas, sobre maratonas, sobre um jantar, um show de rock, um jogo de beisebol. E me convenci de que pode ser legal acompanhar o blog de alguém que escreva sobre vários assuntos, inclusive pessoais. Ferramentas como o Google Reader, claro, ajudam muito.
Eu tenho um blog simplesmente porque faz todo sentido. (Um dia, aliás, todo mundo vai ter um blog. O Orkut - que todo mundo tem - é uma versão piorada de blog.) Eu escrevo, publico, recebo comentários, dicas, reclamações, etc. É a ferramenta mais prática para tudo isso. Posso estar em Lima ou em Talin e escrever do mesmo jeito. Pode ser um texto curto, longo, com fotos, imagens, na hora em que eu quiser - como eu quiser. Isso parece bobo: mas é exatamente o que os jornalistas nunca puderam fazer num jornal impresso. É uma liberdade quase absoluta, com a qual, claro, é preciso saber lidar. Eu aproveito o conforto para escrever de onde estiver, mas, por exemplo, tenho publicado todo dia, e com certo padrão nos posts. Tento manter a identidade do blog e - ao mesmo tempo - surpreender o leitor diariamente. É o desafio.
Inaugurei meu blog em maio como uma espécie de presente de aniversário. Comecei porque - depois de quase deixar o Digestivo - de vez em quando precisava escrever alguma coisa. Não imaginava que fosse me divertir tanto. Recebi dicas ótimas, leitores inesperados, e tenho escrito sobre assuntos que - não fosse o blog - talvez eu prestasse menos atenção. Não me lembro de outro presente de aniversário mais bacana. Aliás, não me lembro de outro presente de aniversário que tenha me dado. Espero que daqui a dez anos me lembre deste.
Belo texto. Tenho blog pra treinar a minha escrita, ela ainda está muito ruim, mas as pessoas que me acompanham desde de sempre me disseram que melhoro a cada dia.
Rapaz, que questão interessante. Eu montei o meu blog por insistência do meu ex-marido, quando ainda éramos casados. Acho que ele queria que eu me distraísse de alguma coisa para não perceber o final do casamento :P Foi efeito inverso, porque rapidamente eu tinha um monte de leitores - até hoje não entendi por quê - e o casamento acabou mesmo. O chá está lá, firme e forte até hoje, com mais de 10.000 leitores mensais. Eu escrevo o que me dá na telha, posto o que me dá vontade, sem a menor programação. Blogs são geniais. Não penso que blogs sejam diários, acho que são espelhos de seus donos.
Eu tenho muito mais alegrias relacionadas ao fato de ter montado um blog do que aborrecimentos; estes vêm de outros fatores que atrapalham a manter o blog - um micro caprichoso, por exemplo! - mas assinaria embaixo de boa parte do que você disse. Ótimo!
A frase que mais gostei de seu texto é: "Escrever é uma forma de se conhecer melhor." O blog acaba sendo um reflexo de seu dono e com isso acontece tudo o que você descreveu, as pessoas se conhecem, trocam idéias e tudo mais. Numa mesa redonda na Feira do Livro em Brasília, Daniel Galera relatou um pouco sua relação com internet e disse uma coisa que é verdade, ele cresceu com a Internet, então ter um blog é uma coisa absolutamente natural, ele tem o blog lá e não há um compromisso trabalhista, é apenas mais uma forma de expressão. Para mim, meu blog talvez seja um caderno, principalmente por causa das associações que faço entre textos e links na internet. Ao invés de anotar tudo em papéis que ficam ocupando espaço, guardo coisas que acho bacanas numa gaveta virtual. E, muito bom, quando você lembra que comunicação e amizades virtuais não substituem a vida real.
Montei o Bala Perdida há pouco mais de um ano. Era para ser um blog sobre literatura, mas acabei abordando outros assuntos, como cinema, teatro, música, etc. Tomei o cuidado de não falar muito de mim, para que não virasse diário. Comecei a visitar outros blogs e, de forma geral, as pessoas me visitavam também. Aí começou um outro problema. A falta de tempo de visitar todos os dias todos que me visitavam. Com isso, os visitantes foram se afastando. Assim como na vida real, na blogsfera, as pessoas só visitam se você visitá-las. Por outro lado, muitos visitantes que entravam no meu blog, não tinham muito tempo para ler o que eu escrevia, pois tinham dezenas de outros blogs para visitar. Muitos deixavam comentários do tipo: "Passei só para deixar um oi". Mesmo assim eu estaria mentindo se dissesse que não tive muitas alegrias com blogs. Consegui vender várias edições do meu livro só com os contatos que fiz. O grande problema é arranjar tempo pra viver, escrever e atrair leitores...