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Terror nos EUA
Segunda-feira,
24/9/2001
Origem do Terror
André Pires
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Estava prestes a escrever um texto em alusão à matéria no JB sobre a abertura de mais um arquivo da CIA que explicita declarações no mínimo desumanas de Henry Kissinger. Desde que os EUA decidiram abrir seu arquivo "morto", muita gente já teve a oportunidade de ler algo sobre Henry Kissinger e suas ações assassinas em nome da soberania americana. O mais recente, e que despertava minha ira vingativa em forma de dedo no teclado, está explanando o apoio ao assassinato de um líder governamental chileno na tentativa da CIA de evitar uma insurreição socialista (Allende) naquele país, apoiando mais tarde o facínora Pinochet (só agora "pagando" por seus atos).
Foi quando começou a chuva de boeings em território yankee, e minha pauta inicial foi pra cucuia.
Os EUA criaram um monstro que agora se volta contra seu criador. A besta capitalista devora seu pai e estraçalha a mão que o alimentou, foram meus primeiros pensamentos conexos após o choque inicial provocado por aquela cena hollywoodiana.
O homem é o lobo do homem em sua mais derradeira e irônica faceta. Lei, ordem, política ... tudo criado para reger as regras de uma sociedade e evitar que o ser humano em seu estado natural destrua seu semelhante. Pois estes atos acabaram por ser utilizados para alimentar a ganância de poucos favorecidos, criando uma situação de instabilidade que explode agora como uma revelação de que a desesperada sede de justiça pode trazer conseqüências fatais. A justiça, não a de Deus, Alah, ou dos homens, mas em sua face mais crua e visceral, se mostra às vezes em forma de tragédia e matança de inocentes.
Populações inteiras, espalhadas pelo mundo se encontram em um estado de revolta total com os EUA. E com razão. E olha que a maioria esmagadora das ações que ajudaram a formar o império capitalista americano foi acobertada. Tomadas de governo, apoio a ditaduras sanguinárias, assassinatos apoiados pela CIA, fornecimento de armas a milícias de direita, criação de grupos terroristas, e etc. - são desconhecidas por milhões de pessoas que vivem em condições de miséria absoluta como conseqüência direta destas ações.
Não que seja justa a mortandade dos milhares de americanos inocentes, não que não tenham contribuído indiretamente para isso, são apenas ovelhas manipuladas. Mas era óbvio que uma hora ou outra a massa destruída, massacrada e humilhada iria tomar uma atitude. Uma reportagem realizada na Palestina, mostrava um pai de família que teve sua casa destruída, sua família humilhada, e acabara de perder seu emprego por consequência dos conflitos religioso-politicos da região. Mesmo sem nunca ter pegado em armas ele atravessava uma grave crise psicológica: acordava todas as noites, maltratava os filhos, agredia a mulher em ataques de sonambulismo... Essa é só uma das conseqüências ocorridas longe do front de batalha. Imagine o resto.
Imagine um soldado de Alah, passando fome, vendo seus filhos e parentes morrerem a cada dia por conta do embargo americano (motivado pela gananciosa busca de benefícios econômicos), chega uma hora em que ele pensa: "Se vou morrer mesmo, pelo menos vou amarrar uma TNT no saco e me abraçar ao Ronald McDonald’s em uma lanchonete qualquer de Ohio!".
Bush é um radical de direita, mas vai mirar seus scuds e tomahawks contra quem? Terroristas não respondem em nome de governo nenhum, e agem em nome de Deus ou sabe-se o lá quê.
Cartaz na mão de um americano:"Bush do something: War on Afeganastan now!" ou algo do gênero. A própria atitude de escrever Afeganisthan errado mostra o quanto os yankees são bitolados, arrogantes e tão facínoras quanto seus loucos algozes. Comparam o ataque terrorista de anteontem ao episódio de Pearl Harbor. Pearl Harbor foi um ataque de militares a alvos militares numa situação de guerra eminente. Na verdade o acontecido está mais para Hiroshima e Nagasaki, quando os EUA dizimaram em seus ataques milhares de japoneses inocentes.
O povo americano alienado e sem culpa nem mesmo nas eleições de Bush, eleito pelos colégios eleitorais e não pelo voto direto, não faz idéia das atrocidades cometidas por seu país para atingir a confortável posição de império capitalista. Subversão de governos na América do Sul e Central, assassinatos patrocinados pela CIA, apoio a guerras civis. Agora mesmo na Sérvia quantos inocentes morreram graças ao apoio americano. Sem falar nas matanças através de embargos de remédios, alimentos, econômicos e políticos aos países árabes.
Como bem disse um palestino em NY: "As ruas eram uma versão exata de Kashmira, Kuwait, Teerã, Vietnã... pela primeira vez os americanos puderam ver em sua casa as atrocidades que cometem nos países dos outros ao longo de décadas."
Não estou de maneira alguma justificando o ataque a alvos civis destes terroristas, mas posso entender o que os moveu. Sem mencionar a diferença de culturas, lá o suicídio em nome de uma causa nobre (dizimar seus carrascos norte-americanos) é garantia ao Paraíso.
André Pires
Rio de Janeiro,
24/9/2001
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