Não sei se fiquei mais atento ou se, de fato, há uma preocupação crescente com o assunto, mas o fato é que, de uns tempos para cá, venho notando que são raras, aliás raríssimas, as semanas em que o tema "falta de leitores no Brasil" não é abordado em algum jornal, revista, programa de TV, site ou blog. Em geral, na forma de lamentos fatalistas, como se o destino houvesse condenado irremediavelmente o povo brasileiro ao semi-analfabetismo e à ignorância, decretando-lhe o desterro do conhecimento e da familiaridade com as letras. Os escritores, acomodados a essa idéia, solidarizam-se entre si, enxergando nesta escassez de leitores uma espécie de mal comum que afeta a todos de maneira equânime. Tanto assim que, quando um escritor, por uma razão qualquer, consegue atingir um número expressivo de leitores e destacar-se com vendas expressivas de seus livros, ele torna-se, imediatamente, persona non grata entre muitos de seus colegas, como se fosse um traidor da classe, que prostituiu sua arte, vendeu-a ao demônio chamado "mercado", em troca de fama e dinheiro. Não se iludam: Paulo Coelho, só para citar o exemplo mais famoso, não vem sendo severamente criticado ao longo dos anos apenas porque escreve dessa ou daquela maneira, mas, principalmente, porque faz um sucesso estrondoso. Não estou fazendo aqui um juízo da obra deste autor, ainda porque muitos que a atacam nunca leram uma linha sequer do que ele escreveu. Se ele escreve bem ou mal, parece ser um detalhe secundário aos olhos dos que o criticam. O seu grande pecado é a fama e a fortuna que auferiu e isso, num país como o Brasil, que se reconhece no fracasso, é uma heresia absolutamente imperdoável.
Em artigos que escrevi e em entrevistas que concedi, venho reafirmando que a leitura no Brasil tem dois fortes inimigos, que impedem a sua difusão entre a grande massa do povo: o primeiro deles é o ensino de literatura nas escolas, bastante problemático a meu ver e que precisa ser reformulado a fim de despertar nos alunos o gosto pela leitura. Nas escolas brasileiras que contam com aulas de literatura - pois muitas, como se sabe, não as possuem -, o ato de ler não é adequadamente ensinado, não há um real estímulo à leitura e, sim, uma abordagem excessivamente didática da literatura, com os alunos sendo obrigados a ler livros às pressas para responder a um teste de interpretação dali a algumas semanas. A partir de uma determinada faixa etária, que costuma variar dos 13 aos 15 anos, a situação piora, pois os alunos, acostumados com a linguagem contemporânea e direta da nossa literatura juvenil, são diretamente trasladados para os grandes nomes da literatura nacional. Neste momento, o gosto pela leitura, em geral, recebe o seu tiro de misericórdia. Não se trata, naturalmente, de contestar o valor e a grandeza desses autores - dentre os quais figuram nomes extraordinários do vulto de José de Alencar, Machado de Assis, Graciliano Ramos e Guimarães Rosa. E, sim, de avaliar se o conturbado período da adolescência, em que todos se encontram às voltas com dezenas de conflitos interiores e estão no auge da efervescência hormonal, é o mais adequado para introduzir uma pessoa no mundo maravilhoso da melhor literatura. Sobretudo, quando seguida de um teste de aferição de leitura.
Tomemos como exemplo José de Alencar, que é um escritor de que gosto muito. O que acontece quando um adolescente médio, sem uma vocação para a seara intelectual, é forçado, em sala de aula, a ler um de seus livros para responder a um teste dali a, digamos, um mês e meio? Eu respondo: de um modo geral, este aluno irá comprar ou pedir emprestado o livro imediatamente, lerá a primeira página, a achará complicadíssima e deixará o livro de lado, por quanto tempo lhe for possível. Quando estiver a poucos dias do teste, vendo que não pode mais postergar a leitura por conta da iminência do compromisso, ele irá, contrariadíssimo, renunciar aos seus prazeres cotidianos para, enfim, voltar a pegar no livro. A leitura será penosa e pesada, não somente por ser obrigatória, mas, sobretudo, por se tratar de um autor do século XIX. Ele precisará recorrer ao auxílio de um dicionário para compreender muitos dos termos contidos no livro, que estão em desuso há décadas. Com tantos obstáculos, este aluno dificilmente conseguirá assimilar e compreender a história em sua plenitude e, em muitos casos - se tiver condições para tanto - irá recorrer aos inúmeros resumos de livros que existem aos montes na internet. A maioria, aliás, de uma qualidade sofrível. Pois bem: o aluno fará o teste e, uma vez cumprida esta missão extenuante e desgastante, ele suspirará de alívio e passará, então, às atividades de lazer pelas quais nutre genuíno gosto: videogame, partidas de futebol, televisão, salas de bate-papo na internet, sites eróticos, filmes no cinema ou em DVD, idas a boates e barzinhos, etc.
O que eu quero dizer com isso? É simples: a leitura é uma atividade extremamente prazerosa, mas os jovens não são estimulados a encará-la dessa forma. A leitura, a partir da pré-adolescência, é ensinada como uma obrigação chata, maçante, tediosa e não como uma forma de lazer, que pode ser tão ou mais estimulante do que um jogo de videogame ou mesmo uma ida ao cinema. É preciso que se fortaleça a idéia de que a leitura somente se incorpora aos nossos cotidianos e passa a fazer parte indissociável das nossas vidas quando é vista como uma atividade lúdica, simples, agradável, estimulante. As telenovelas não fazem o sucesso que fazem entre milhões de brasileiros porque as pessoas são obrigadas a assisti-las e, sim, porque as novelas lhes proporcionam prazer e entretenimento. A mesma filosofia se aplica à literatura. Pergunte a qualquer pessoa comum que leia regularmente e ela lhe dirá que lê porque gosta de ler, porque tem prazer em ler. Então, esse é o caminho: repensar o ensino de literatura com base nessa filosofia. Acabando, por exemplo, com a noção de que os jovens "têm que" ler os clássicos desde cedo. Não adianta repetir o mantra de que "ler é importante", "ler é fundamental", quando na prática, a mensagem que se passa é outra: que "ler é chato", que ler, para usar uma expressão muito comum entre os jovens, "é um saco".
A minha querida amiga Ruth Rocha, consagrada escritora de livros infantis e infanto-juvenis, pessoa inteligentíssima com quem já tive o prazer de dividir a mesa inúmeras vezes em almoços e jantares memoráveis, costuma dizer acertadamente que existem três categorias de crianças/adolescentes: os que se tornarão leitores naturalmente, sem que seja necessário nenhum esforço para levá-los a isso; os que não se tornarão leitores de jeito nenhum, por mais atraente que a leitura se apresente a eles; e aqueles que se tornarão leitores se forem adequadamente estimulados. Estes constituem, a juízo de Ruth Rocha e a meu também, o contingente majoritário. Falo por experiência própria, porque faço parte da terceira categoria. Eu não tinha uma aptidão inata para a leitura, mas contei com excelentes e sensíveis professoras, que souberam me apresentar no momento certo, aos livros certos. E, a partir dali, segui sozinho.
É nesse processo que a literatura de entretenimento, tão escassa no Brasil e, sobre a qual, tenho falado vez por outra, cumpre um papel importante. E é aí que entra o segundo dos inimigos da leitura que mencionei mais acima: a excessiva deferência, com evidentes pitadas de arrogância, com a qual o objeto livro e a leitura são tratados por escritores, acadêmicos e intelectuais no Brasil. As mesmas pessoas que, pela sua posição privilegiada no topo da cadeia livreira, deveriam ser os agentes difusores da leitura entre o povo brasileiro, incumbem-se de colocá-lo no alto de um pedestal inacessível. Existe no Brasil uma entronização do livro, como se este fosse um objeto sacrossanto, um verdadeiro objeto de culto. Esses intelectuais estufam o peito e empinam o nariz para discorrer sobre os seus livros e autores de predileção, descrevendo-os com a pompa de quem narra episódios épicos e enchem a boca para desqualificar, gratuitamente e sem um critério lógico, uma miríade de livros que consideram "menores", estabelecendo, inclusive, uma classificação bastante curiosa do que seja um "leitor verdadeiro". A seu juízo, um leitor não é simplesmente uma pessoa que leia livros, e, sim, uma pessoa que leia os livros que eles consideram importantes, canônicos, geniais, as obras-primas escritas pelos grandes mestres. Mestres, em sua maioria, já mortos pois, dessa forma, é possível a qualquer um apresentar-se como especialista em seus trabalhos e, assim, apropriar-se da sua notoriedade sem maiores riscos, uma vez que o escritor não está mais vivo para apresentar contestações.
Fico perplexo e, muitas vezes até, horrorizado quando, ao visitar sites e blogs literários respeitáveis, deparo com discussões acaloradas e até mesmo raivosas sobre excelência literária, pessoas se digladiando e jurando inimizade eterna por conta de discordâncias absolutamente naturais e, eu diria até, banais, acerca de determinado escritor ou livro, como se do resultado desse embate dependesse sua própria reputação. Mas isso tem uma razão: pessoas de pensamento medíocre, que gostam de se apresentar como letradas e intelectualmente privilegiadas, valem-se de livros de grande reputação para se promover, num artifício similar ao que uma outra categoria ainda mais vazia de gente utiliza, exibindo suas roupas de grife. Enquanto estas últimas adoram anunciar que vestem roupas e assessórios Armani, Dior, Balenciaga ou Chanel, as primeiras não se cansam de anunciar serem amantes da literatura de Borges, Lobo Antunes, Clarice ou James Joyce, quando, na verdade, o que elas querem com isso é dizer: "Olhem para mim. Eu sou um intelectual. Eu tenho um soberbo gosto estético quando o assunto é literatura. Eu sou inteligente. Eu sou genial". Porque quem gosta, realmente, de literatura e, sobretudo, da grande literatura, não se rebaixa ao ponto de se embrenhar em rancorosas trocas de desaforos e exibições de pernosticismos que, de intelectuais, nada têm. Encara-a com naturalidade e num saboroso silêncio.
Então, temos, no Brasil, hoje, de um lado, a maioria do povo, alijada do mundo dos livros pelas razões já enumeradas. Do outro, uma pequena elite leitora, fechada em suas próprias convicções e contaminadas por toda sorte de preconceitos. Talvez seja no equilíbrio entre esses dois mundos que esteja a saída para fazer da população brasileira, uma população leitora. Isso não é utopia. Os brasileiros não são pessoas com uma deficiência genética que as impeça de imergir no mundo dos livros. Mas essa imersão deve acontecer de forma espontânea, sem cerimônia, com a leitura encarada com naturalidade, como uma atividade trivial de prazer cotidiano e não como um ato sacrossanto de ode à grandeza e à excelência intelectual. Ninguém deve se sentir obrigado a ler os clássicos ou a melhor literatura sempre. A leitura por si só, quando regular, já traz ganhos imensuráveis às pessoas: desde aumentar sensivelmente a capacidade de concentração de cada um, até a familiaridade com o texto escrito. Não é preciso ler Machado de Assis todos os dias para se chegar a tanto. Nesse ponto, eu discordo do crítico norte-americano Harold Bloom quando ele condena a série Harry Potter, alegando que, no futuro, os seus leitores se tornarão, no máximo, leitores de Stephen King e similares. Que sejam. Que venham os leitores de Stephen King. Quem dera o povão brasileiro, ainda hoje atolado num semi-analfabetismo quase patológico, fosse leitor em peso de autores como Stephen King. A afirmação de Harold Bloom é temerária, sobretudo pela perigosa generalização que ela contém. Como pode Bloom fazer tal diagnóstico com tamanha segurança? Ele, por acaso, conhece a fundo a intimidade de cada um dos milhões de leitores do Harry Potter mundo afora? Ele, por acaso, é capaz de adivinhar o itinerário que cada uma dessas pessoas cumprirá pelo universo dos livros? Pois, para encerrar esse artigo, vou relatar uma experiência minha a respeito: lá pelos idos de 2000/2001/2002, conheci alguns adolescentes de 13/14 anos que devoravam todos os livros protagonizados por Harry Potter. Recentemente, nos últimos meses, tive a oportunidade de reencontrá-los, já adultos com seus 20/21 anos aproximadamente. Pois bem: dois estão cursando faculdades de letras, os demais já devoraram boa parte da obra de Machado de Assis e Dostoievski e um é fã ardoroso de Thomas Mann. Todos me disseram que se apaixonaram pela leitura graças à série Harry Potter e que foi o bruxinho de Hogwarts que despertou neles o hábito e o gosto pela leitura. Posso estar equivocado, mas creio que esses jovens têm mais a nos ensinar sobre difusão da leitura no Brasil, oferecendo-nos caminhos viáveis para vencer esse desafio histórico, do que muitos dos venerandos teóricos que, encastelados nas suas convicções inabaláveis e encerrados em sua excelsa e hermética sabedoria, parecem totalmente distanciados da realidade contemporânea.
Luis... o que posso dizer? Estou satisfeitíssimo com o fato de ser esta, exatamente, a minha opinião! Cheguei até este seu texto devido a um link que havia num outro, escrito pelo Julio, onde comentava o meu contra-ponto com a opinião dele, que escritor iniciante deveria se ater a ser apenas leitor, ao invés de escrever. Meu argumento contra esta idéia desalentadora se firmava também no fato de que o leitor brasileiro é mal preparado, mal formado... Tudo aquilo o que você descreve soberbamente aqui. Comecei a ler com minha mãe lendo Lobato para eu dormir, ou contando as histórias de heróis mitológicos. Meu pai insistia para que eu lesse. Me dava dinheiro e eu gastava em gibis. Tinha gente que dizia que ler gibi era um desastre! Mas eu lia. Quem diria que um dia iria me meter a escritor... Escrevo fantasia, com dragões e elfos, heróis. Mas tem gente que acha isso um tema pouco "literário". Pena... Eu não acho. Abraços!
Luís, parabéns pelo belo texto e pela profundidade ímpar com que cumpriu sua abordagem. Estou a cada dia mais restrito quando o assunto literatura/arte/expressão verbal se mistura com o fetiche livro/mercado/sucesso/celebridade. Tenho freqüentado simpósios e eventos que têm apontado uma preocupação muito grande dos professores de todas as áreas com a capacidade de leitura e produção de texto de jovens em todos os níveis de educação. Todas as pessoas que lêem e comentam na internet curiosamente registram um curso muito semelhante na sua formação de leitor, e digo isto porque o livro sempre foi para mim um encontro com o autor, mais até que o envolvimento com a história ou o tema tratado. Entretanto, o fascínio pelas listas de mais vendidos tem apontado uma direção fraticída em relação aos escritores atuais, numa reverência às vezes exagerada, na minha opinião, com autores consolidados e uma vocação para o destrato em se tratando de jovens escritores.
Parabéns: como sempre, um belo artigo.
Admiro muito a precisão de seus comentários. Aos 9 anos conheci a coleção Vaga-lume. Iniciava a paixão pela literatura. Adolescente, sondava as prateleiras em busca de novos prazeres. Encontrei Sidney Sheldon, Danielle Steel e Ziraldo, lendo-os com um apetite voraz. Após anos de literatura técnica, retomei a necessidade furiosa da ficção, apaixonando-me por Machado de Assis e Fernando Sabino, percorrendo Clarice Lispector, C. Drummond, Guimarães Rosa, Lygia Bojunga (adoro literatura infanto-juvenil, para que possa indicar a meus filhos), Kafka e sim, Harry Potter, entre tantos outros. Concluo que temos que ler, sempre: clássicos ou folhetins; literaturas que nos ensinem ou que apenas divirtam. Sem medo. Sem pudor. Amando até a última linha. Meu filho de 9 anos já leu todos os livros do Harry Potter; todos do Sergio Klein; série Deltora; avança pela coleção Vaga-lume... e tenho certeza de que um dia chegará aos clássicos. No dia que os intelectuais entenderem isso, seremos livres para ler...
Gostaria de lhe dar os parabéns por ter escrito este texto. Apesar de ser portuguesa, não me parece que a nossa realidade, no que toca à leitura, seja muito divergente. Muitas pessoas se admiram e me criticam por ler os livros do Harry Potter, mas a verdade é que o importante é adquirir o gosto pela leitura e eu adoro ler. Não leio apenas esse género de livros, gosto de Fernando Pessoa, Eça de Queiróz, Júlio Dinis (apenas para citar alguns), o que significa que o facto de se ler estes livros não impede o nosso crescimento intelectual, pelo contrário, abre portas a um magnífico mundo novo...
Luís Eduardo, sou escritor, como você já sabe (mas quero deixar registrado aqui no Digestivo este pequeno detalhe) e gostaria de afirmar que, em décadas de labuta literária, poucas vezes li um texto mais sincero e lúcido a respeito da cultura humana. Desejo que seus leitores saibam que não é nada fácil fazer declarações como as feitas por você, pois represálias haverá com certeza, por meio de portas fechadas em círculos literários ou comentários depreciativos por parte dos doutos. Estudo a possibilidade de me associar a um blog de teatro (sou dramaturgo também) e deixo registrado que este seu texto será uma espécie de epígrafe de minha seção. Forte abraço a você e a seus afortunados leitores.
Fantástico, Luís Eduardo! Lembro de uma entrevista que vi com a Adélia Prado, em que ela diz que a literatura e os livros devem ser oferecidos aos jovens leitores como uma caixa de bombons, devem ser atraentes dessa forma. Concordo totalmente que, apesar da importância dos clássicos brasileiros da literatura, há tempo para que eles cheguem aos jovens leitores. Eu incluiria até gibi nas salas de leitura das escolas, Harry Potter, Desventuras em Série e tudo que possa deliciar e cultivar o gosto da leitura entre as crianças. Eu mesma devorei quase toda a coleção da Agatha Christie na adolescência, para mim era divertido ficar trancada no quarto tardes e tardes lendo os livros de mistério. E nem por isso deixei de ler e curtir Machado de Assis depois. Assim como na alimentação, onde não é só o conteúdo que interessa, mas o modo como se come, o prazer, a reunião à mesa, na literatura não interessa só o conteúdo, mas também o gosto pela leitura, o prazer e o interesse.
Não perco nenhum artigo seu publicado no Digestivo Cultural e concordo plenamente com as suas idéias. Este aqui está ótimo e concordo com você que mesmo a leitura de Harry Potter (espero que minha filha de treze anos que adora ler Harry Potter se interesse no futuro pela literatura, como esses jovens que citou, e isso se torne um prazer para ela). Continue escrevendo assim, muito bem e estimuladamente. Abraços de quem muito admira seu trabalho (parece que não é só eu, o Julio também)
LEM, lógico que eu não podia deixar de parabenizá-lo por este texto. Também não poderia deixar de dizer, mais uma vez, que concordo em gênero, número e grau com suas palavras. Que venham os leitores de Stephen King, Sidney Sheldon, e outros tantos. Que venha os leitores de ficção. Que venha a literatura de entretenimento. Que venha a LPB - Literatura Popular Brasileira!
Luis Eduardo, esse texto só confirma o que eu já havia notado em você: uma preocupação verdadeira em formar leitores. Sempre achei que esses intelectuaus que ficam rotulando as práticas de leitura não querem que ela seja democratizada. Michel Peroni e Joëlle Bahloul fizeram pesquisas sobre o percurso biográfico de diferentes leitores e mostraram que não existe uma linearidade. Cada um tem uma história: lê-se mais em determinada época do que em outra, muda-se o gênero, alguns começam pelos clássicos, outros talvez nunca os leiam... O importante é começar a ler o que se gosta e ter a chance de conhecer e, principalmente, de ter o direito de escolher. Todos os direitos da leitura a todos!Parabéns pelo texto e pela mensagem!
Leitores acabam se traindo, e sempre falam de suas preferências e iniciações. Eu não posso me furtar às lembranças deliciosas da Luluzinha, do Gasparzinho e da incipiente Mônica, compradas de segunda mão na feira de quinta, um pouquinho velhas é verdade, por alguns tostões, mas que me fascinavam e me abriram a portinha do clube mais chique deste planeta: dos amantes do bom texto! Depois vieram Alencar, Machado, Amado, Borges, Cortázar, Shakespeare, tantos outros. Celebremos, pois, já que somos (nem) tantos, mas tão apaixonados! Ler é ótimo! Ler é contagioso e incurável! Oh doce ócio... abandonar-se às linhas de um Pessoa, de um Potter, que importa. Não gosto de jogar pedras, mas tirando Paulo Coelho, o insípido, vale tudo!
Parabéns, Luis! Há algum tempo que estou querendo escrever um artigo sobre esse assunto e, de repente, acabo me deparando com este seu. Também tem me preocupado muito essa atitude de colocar a literatura num pedestal. Isso só tem contribuído para diminuir o número de leitores. Além disso, as leituras obrigatórias parecem ser, mesmo, as maiores inimigas da literatura. O aluno lê por obrigação e depois passa a odiar o autor. Feliz é Paulo Coelho, que nunca teve uma obra adotada como leitura obrigatória (e talvez por isso seja tão popular).
Comecei a minha paixão pela leitura com Ruth Rocha, Harry Potter,Paulo Coelho, Stephen King. Hj amo Machado, José de Alencar, Graciliano Ramos, Dostoievski, e etc.
Lembro do ódio que senti quando o Harold Bloom fez esse infeliz comentário há muitos anos atrás.
De qualquer forma, conheço de perto esse drama. Estudei em um colégio particular conhecido aqui no RJ, onde tivemos aulas de literatura durante o ensino médio. No 3º ano nós ficávamos restritos ao ensinamento de conteúdos que seriam exigidos no vestibular, não havendo qualquer estímulo à leitura de qualquer livro que fosse. Mas no 1º e 2º a leitura de alguns foi exigida, seguindo exatamente o processo descrito na matéria (teria que ser feita em pouco tempo e avaliada com uma prova. Enquanto alguns era inadequados como Madame Bovary, outros eram adequados como Feliz Ano Velho. Porém a própria profª estimulava a não-leitura, antecipando as questões que cairiam nas provas e recomendando a leitura de sinopses porcas na internet.