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Sexta-feira, 4/4/2008
Sobre Alice, de Calvin Trillin
Rafael Rodrigues
+ de 6800 Acessos

É difícil falar de amor. Prova disso é a infinidade de músicas, poesias e comédias românticas produzidas até hoje. Mas ainda há quem consiga ser original, romântico e sincero. É o caso do escritor e jornalista Calvin Trillin, autor de Sobre Alice (Globo, 2007, 93 págs.), que é um livro de amor, digamos assim. Mas daquele amor que quase já não vemos mais. Sabe aqueles casais de velhinhos, casados há 200 anos, que todo ano (no dia dos namorados, mais precisamente) aparecem na tevê contando suas belas e engraçadas histórias de amor? Pois, é quase isso.

A protagonista do livro chama-se Alice, é óbvio. O detalhe é que Alice não é uma personagem, nem Sobre Alice uma ficção: a protagonista é a esposa de Calvin, e o livro, as memórias de um homem eternamente apaixonado.

Em pouco mais de oitenta páginas, Calvin Trillin faz um percurso por toda a sua relação com Alice. Um percurso rápido, é verdade, mas narrado de uma maneira tão carinhosa e emocionada que sentimos a dimensão do seu amor pela esposa. Um amor que não caberia nem em milhões de páginas. Talvez por isso a opção de ser breve, por talvez pensar que não conseguiria terminar o livro, caso se estendesse mais.

O casal se conheceu no final de 1963, em uma festa da revista Monocle. Calvin afirma que, quando viu Alice pela primeira vez, "... ela parecia estar mais viva do que qualquer pessoa que eu vira antes. Parecia brilhar". Desse primeiro encontro, no qual conversaram pouco, para o casamento, depois de conversarem e se encontrarem bastante, não demorou muito: a união aconteceu em 1965.

Há um ditado que diz mais ou menos assim: "atrás de um grande homem, sempre há uma grande mulher". Calvin Trillin escreve para a New Yorker desde 1963, tem mais de 20 livros publicados, é um jornalista e escritor respeitado. Acho que, mesmo sem conhecê-lo, posso afirmar que Calvin é um grande homem. E talvez só por causa de Alice, que é uma grande mulher. Isso podemos afirmar sem ter dúvida alguma.

A impressão que se tem é que, sem Alice, Calvin não seria o homem que é. Aliás, é o que ele diz o tempo inteiro, indiretamente. Com seu jeito especial e com uma maneira um tanto quanto precavida de lidar com os assuntos do dia-a-dia, Alice foi moldando seu marido e suas filhas ― o casal teve duas. Citando um outro livro seu Alice, let's eat (Alice, vamos comer), Calvin diz: "Agora que está na moda revelar detalhes íntimos da vida dos casais, posso declarar em público que minha mulher, Alice, tem a estranha propensão de limitar nossa família a três refeições por dia." Em um artigo escrito publicado na New Yorker, ele diz que "A essa altura, a política de minha mulher em relação a freqüentar as peças de teatro da escola (...) já é bem conhecida: ela acha que se você (...) não assiste a todas as apresentações (...) o Estado vem e leva seu filho embora". Até as finanças da casa Alice parecia controlar: "A Lei de Fluxo de Caixa Compensatório de Alice estabelece que qualquer quantia que não for gasta com luxos pelos quais você não pode pagar equivale a um lucro inesperado.".

Mas não é só por isso que podemos dizer que Alice é uma grande mulher. É por tudo o mais que Calvin conta no livro e que eu não tenho tempo nem espaço para contar aqui. E também pela vontade que Alice tinha de viver e de cuidar das pessoas.

Em 1976 foi detectado em Alice um câncer de pulmão. Uma cirurgia retirou o tumor maligno, junto com um dos lóbos pulmonares. Depois, Alice foi submetida à radioterapia. Os médicos não acreditavam que ela continuaria viva por muito tempo: "Depois que ele resumiu em algumas frases a cirurgia de Alice, perguntei qual era o prognóstico. Ele disse alguma coisa sobre 'dez por cento de chance'. Não entendi direito. Achei que tivesse pulado uma parte. 'Uma chance de dez por cento de quê?', perguntei. E ele disse: 'Uma chance de dez por cento de sobrevivência'".

Durante todo o texto tentei colocar no presente todos os tempos verbais, quando se referiam a Alice. Infelizmente tive que ceder ao passado algumas linhas acima. O mesmo tratamento de radioterapia que lhe deu mais 25 anos de vida, contrariando a "expectativa" do médico, foi o que tirou a sua vida, em setembro de 2001 (dupla ironia: 11 de setembro).

É impossível não se emocionar com o livro. Ao chegar nas últimas páginas, a emoção de Calvin se intensifica, e certamente alguns leitores não conseguirão segurar as lágrimas. Que, para serem enxugadas, basta lembrar das "Leis de Alice" e de algumas passagens engraçadíssimas narradas por Calvin.

Alice Stewart Trillin, "educadora, escritora e musa" (como diz o obituário publicado pelo New York Times), deu título a outros dois livros escritos pelo marido: o já citado Alice, let's eat e Travels with Alice. Isso sem contar as centenas de artigos que Calvin escreveu e que têm Alice como personagem ou protagonista. Fica aqui a torcida para que pelo menos alguns destes outros livros sejam publicados no Brasil.

No enterro de Alice, a escritora Nora Ephron "descreveu os que estavam sob sua proteção como 'qualquer um que ela amasse, ou de quem gostasse, ou conhecesse, ou conhecesse alguém que conhecesse, ou que nunca tivesse visto antes na vida, mas tivesse ficado conhecendo depois que a pessoa achou o telefone na lista e ligou'". Sem dúvida, uma mulher adimirável, especial, enfim, uma grande mulher.

Assim era Alice. Que continua viva no coração de Calvin e de todos aqueles que a conheceram, mesmo que somente através de Sobre Alice.

Para ir além






Rafael Rodrigues
Feira de Santana, 4/4/2008

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