Com a explosão da Web 2.0, que estremeceu o modelo broadcasting (de um para todos) e que trabalha na consolidação de um modelo altamente interativo "de todos para todos", os jornalistas tiveram que se atualizar ou, se ainda não o fizeram, terão de fazer, pois a convergência de mídias ― vídeo, áudio, texto e imagem juntos na internet ― está mudando o perfil do jornalismo. Segundo o professor da PUCRS, especialista em Jornalismo On-line, Eduardo Campos Pellanda, cerca de 3.700 mil pessoas não foram despedidas apenas por contenção de despesas na BBC de Londres em março de 2005, mas também por falta de qualificação nessa nova fase do jornalismo em que a interatividade é soberana.
Os principais jornais do Brasil disponibilizam hoje na rede não apenas o seu conteúdo impresso, mas outras opções como vídeos, notícias atualizadas minuto a minuto e muito mais, além de dar espaço para o cidadão-repórter, como é chamado no país, ou para o UGC (Conteúdo Gerado pelo Usuário), como é conhecido nos EUA, que pode participar mandando notícias, fotos ― até mesmo tiradas pelos celulares ― e vídeos. Ou seja, está se concretizando uma mídia de todos para todos, e talvez seja exatamente com isso que alguns jornalistas, mais conservadores, não saibam lidar.
Pode ter virado motivo para críticas amargas de alguns, porém não se pode negar que realmente está acontecendo a tal democratização dos meios de comunicação e os modelos estão se alterando rapidamente. O jornalista que apenas redige textos, que só tira fotos ou edita áudio está entrando em extinção. As empresas de comunicação estão à procura de jornalistas multimídia, e as focas saem das universidades cada vez mais preparadas para lidar com esse tipo de tecnologia, mas sem a experiência dos grandes profissionais.
Com toda essa mudança na forma de comunicar, que se deve, praticamente, a um dos cientistas mais importantes da atualidade, o inventor da web Tim Berners-Lee, houve a explosão dos messengers, da música digital e dos blogs. Porém, são os eles que têm gerado polêmicas com os jornalistas. Em 2004 houve o estouro dos blogs, e hoje, o Brasil conta com cerca de 10 milhões de leitores desse tipo de site.
Creio que os blogueiros não queiram tomar o lugar dos jornalistas, como alguns pensam, mas apenas ter um lugar no qual postar suas críticas, opiniões e visões tanto sobre as questões mais banais, quanto sobre as questões mais complexas. Um bom blog é construído a partir da credibilidade que se adquire pelo julgamento do leitor. As pessoas gostam desse tom pessoal. Há quem se identifique com a visão de uma adolescente sobre os seus problemas juvenis, ou de um advogado que posta sobre sua visão de mundo.
Jornalistas também podem ser blogueiros, mas as duas atividades não se equivalem. Em primeiro lugar, Jornalismo é uma profissão, e, pelo menos aqui no Brasil, é necessário que tu tenhas um diploma para exercê-la. Enquanto que num blog, esse tipo de certificado não tem importância nenhuma. O que realmente faz um blog se destacar entre tantos outros é o jeito como a pessoa escreve e o que passa para os leitores, além da interação que exerce com os tais. Para isso, então, pode-se ser um jornalista ou um contador, basta ter bom senso, idéias boas e dedicação; afinal, as pessoas gostam de posts atualizados.
Um exemplo famoso no Brasil é o Alessandro Martins, jornalista e blogueiro, dono de quatro blogs de muito respeito nesse meio. Em um dos seus blogs, ele escreve muito sobre essa polêmica entre blogueiros e jornalistas. Em alguns dos seus posts, como "5 coisas que os blogueiros ensinam aos jornalistas" e "5 coisas que os jornalistas ensinam aos blogueiros", ele faz pensar se realmente existe essa oposição entre ambos e mostra como podem se completar, ou, pelo menos, ajudar.
O blogueiro não tem uma pauta determinada, escreve sobre o que tiver vontade, desde o complexo acidente da TAM até os simples problemas do dia-a-dia. Além disso, não sofre cortes nos seus posts e os leitores têm possibilidade de interagir, expondo suas opiniões sobre os assuntos tratados. Alguns jornais no Brasil já disponibilizam não apenas um, mas diversos blogs cheios de conteúdo. Um exemplo é o Zero Hora, que tem uma parte do seu conteúdo on-line direcionada apenas para os blogs de seus colunistas, onde eles escrevem além do que sai nas tiragens do jornal e interagem com os leitores.
Essa tal crise talvez não exista de verdade, e o que pode estar a acontecer seja desconhecimento por parte das pessoas que, muitas vezes, não sabem lidar com essa nova forma de comunicação. Como boa blogueira e estudante de jornalismo, não consigo ver grandes perdas causadas por essa mudança; pelo contrário: acho que só temos a ganhar se soubermos aproveitar. A tecnologia está mostrando novas formas de comunicar e todas elas podem ser aproveitadas, desde que estejamos de acordo em pelo menos experimentá-las.
Afinal, desde sempre, o ruim foi descartado e isso não vai mudar se um blog for de má qualidade ou se um jornalista não for competente.
Gabriela Vargas, após um encontro tão breve com o brilhantismo de seu artigo, rápida vou ser... Há blogs que não respeitam opiniões, e cortam a carne dos comentaristas. Grata, calypso escobar
Adorei seu texto, Gabriela. É importante entender que há espaço para todos. Sou jornalista e tenho um blog, onde posso me expressar, postar sobre quem e o quê eu quiser, formatar e ilustrar minhas matérias, mas sempre seguindo o critério jornalístico que aprendi. Penso que saber escrever é um ponto importante tanto para jornalistas quanto blogueiros. Imprescindível. Quando postamos, estamos interagindo e postar um comentário também faz parte dessa troca. A vida fica mais rica de informações e sabemos que, enfim, não estamos sós.
Verdade. Toda interação será sempre saudável. Um aquário com um Beta pequeno ao lado de um aquário com um Beta grande, faz com que os dois fiquem agressivos, cresçam de tamanho para exibir força, mas nunca se tocarão. Mas também nunca ficarão apáticos...