O verdadeiro legado de 68 | Luiz Rebinski Junior | Digestivo Cultural

busca | avançada
111 mil/dia
2,5 milhões/mês
Mais Recentes
>>> Ribeirão Preto recebe a 2ª edição do Festival Planeta Urbano
>>> Cia Truks comemora 35 anos com Serei Sereia?, peça inédita sobre inclusão e acessibilidade
>>> Lançamento do livro Escorreguei, mas não cai! Aprendi, traz 31 cases de comunicação intergeracional
>>> “A Descoberta de Orfeu” viabiliza roteiro para filme sobre Breno Mello
>>> Exposição Negra Arte Sacra celebra 75 Anos de resistência e cultura no Axé Ilê Obá
* clique para encaminhar
Mais Recentes
>>> A vida, a morte e a burocracia
>>> O nome da Roza
>>> Dinamite Pura, vinil de Bernardo Pellegrini
>>> Do lumpemproletariado ao jet set almofadinha...
>>> A Espada da Justiça, de Kleiton Ferreira
>>> Left Lovers, de Pedro Castilho: poesia-melancolia
>>> Por que não perguntei antes ao CatPt?
>>> Marcelo Mirisola e o açougue virtual do Tinder
>>> A pulsão Oblómov
>>> O Big Brother e a legião de Trumans
Colunistas
Últimos Posts
>>> Martin Escobari no Market Makers (2025)
>>> Val (2021)
>>> O MCP da Anthropic
>>> Lygia Maria sobre a liberdade de expressão (2025)
>>> Brasil atualmente é espécie de experimento social
>>> Filha de Elon Musk vem a público (2025)
>>> Pedro Doria sobre a pena da cabelereira
>>> William Waack sobre o recuo do STF
>>> O concerto para dois pianos de Poulenc
>>> Professor HOC sobre o cessar-fogo (2025)
Últimos Posts
>>> O Drama
>>> Encontro em Ipanema (e outras histórias)
>>> Jurado número 2, quando a incerteza é a lei
>>> Nosferatu, a sombra que não esconde mais
>>> Teatro: Jacó Timbau no Redemunho da Terra
>>> Teatro: O Pequeno Senhor do Tempo, em Campinas
>>> PoloAC lança campanha da Visibilidade Trans
>>> O Poeta do Cordel: comédia chega a Campinas
>>> Estágios da Solidão estreia em Campinas
>>> Transforme histórias em experiências lucrativas
Blogueiros
Mais Recentes
>>> Dois dedos a menos
>>> Cinema futuro: projeções
>>> Princípio ativo
>>> PFP
>>> Machado de Assis: assassinado ou esquecido?
>>> Led Zeppelin Vídeos
>>> Francis Ford Coppola
>>> Retrato em branco e preto
>>> Marcha Sobre a Cidade
>>> Canto Infantil Nº 2: A Hora do Amor
Mais Recentes
>>> Paris 1919: Six Months That Changed The World de Margaret Macmillan pela Random House (2001)
>>> Bíblia Sagrada Ilustrada Com A Turma Do Smilinguido de Bíblia Sagrada Ilustrada Com A Turma Do Smilinguido pela Sociedade Bíblica do Brasil (2006)
>>> Livro Diário de Um Sonho de Hiram Sampaio Doria pela Gráfica
>>> Livro Destino Cativo Volume 4 de Matsuri Hine pela Panini (2009)
>>> Que É A Casa Espirita? de Evellyn Freire De Carvalho pela Letra Espírita (2025)
>>> O Canibal: Grandeza E Decadência de Frank Lestringant pela Unb (1997)
>>> Bussula Da Felicidade de Tammy Kling, John Spencer Ellis pela Ediouro Publicacoes - Grupo Ediouro (2010)
>>> Gibis Liga Da Justiça Vs. Esquadrão Suicida 1 Condenados Ao Heroísmo! de Panini Comics pela Panini Comics (2017)
>>> História Do Medo No Ocidente de Jean Delumeau pela Companhia das Letras (2020)
>>> Mata!: O Major Curio E As Guerrilhas No Araguaia de Leonencio Nossa pela Companhia Das Letras (2012)
>>> Bussula Da Felicidade de Tammy Kling, John Spencer Ellis pela Ediouro Publicacoes - Grupo Ediouro (2010)
>>> Livro O Monge De Cister de A. Herculano pela De Ouro
>>> Por que construí Brasília? de Juscelino Kubischek pela Bloch (1975)
>>> Princesa Adormecida de Paula Pimenta pela Galera (2014)
>>> Jesus O Filho Do Homem de Khalil Gibran pela L&Pm Pocket (2022)
>>> Livro Piracicaba de Outros Tempos de Samuel Pfromm Netto pela Átomo (2001)
>>> Expandir Geografia - 6º ano de Sonia Castellar pela Ftd (2020)
>>> Livro A Linguagem Secreta do Tarô Acompanhado das 22 Lâminas Coloridas dos Arcanos Maiores do Tarô de Sylvie Simon e Marcel Picard pela Pensamento (1993)
>>> Teoria Política Moderna - Uma Introdução de Isabel de Assis pela Ufrj
>>> A Primeira Dama Da Reforma de Ruth A. Tucker pela Thomas Nelson (2017)
>>> Conheça Vinhos de Dirceu Vianna Junior pela Senac (2015)
>>> Depois do Calvário de Jamiro Dos Santos Filho pela Boa Nova (2013)
>>> Expandir Geografia - 9º ano de Sonia Castellar pela Ftd (2020)
>>> A Quinta Disciplina de Peter M. Senge pela Best Seller (2013)
>>> Livro Os Ratos de Dyonelio Machado pela Clube do Livro (1987)
COLUNAS

Quarta-feira, 6/8/2008
O verdadeiro legado de 68
Luiz Rebinski Junior
+ de 4100 Acessos

Algumas efemérides chegam com tamanha carga de nostalgia que muitas vezes o lado festivo da data se sobrepõe ao debate. O Maio de 1968 sofre desse mal. Talvez por ter sido um evento amplo, não apenas político, e que atingiu proporções gigantescas, os acontecimentos dos anos 60 são retratados com uma reverência que, às vezes, extrapola a História.

A visão mítica de um período de plena revolução e de um mundo em chamas domina as publicações que pipocam por conta dos quarenta anos do levante de Paris. A simbologia que tomou conta da data se refere, sempre, a palavras como rebeldia, utopia, direitos civis, igualdade etc. O inventário dos calorosos anos sucumbe sempre à irresistível vontade de mitificar o período. Isso vale para quase tudo que se refere a 68, da música à literatura, passando, claro, pela política.

Se não vai contra essa lógica, O poder das barricadas ― Uma autobiografia dos anos 60 (Boitempo Editorial, 2008, 408 págs.) pelo menos oferece uma visão mais intimista e menos rasa dos acontecimentos, ainda que esteja impregnado de militância esquerdista de seu autor, o paquistanês Tariq Ali. E não poderia ser de outra forma, a começar pelo sugestivo título do livro. Ativo militante de esquerda, Ali oferece o seu 68, em uma prosa que vale muito mais pelo caráter memorialista do que jornalístico. As melhores passagens da obra se concentram em capítulos que reproduzem os diários de Ali durante uma visita ao Vietnã em 1967, em plena guerra contra os Estados Unidos. Há ali trechos comoventes, que denunciam a barbárie da guerra e que são bem mais interessantes do que as brigas entre correntes socialistas da Inglaterra descritas pelo autor e que povoam grande parte do livro. A posição privilegiada de Ali, que esteve ― como militante e jornalista ― sempre no epicentro dos principais acontecimentos da década de 60, dá ao relato um caráter documental importante. Ali mostra os detalhes de cada acontecimento sob um ângulo privilegiado, que ajuda a entender por que tudo ocorreu, deixando momentaneamente a mística em segundo plano, destacando os fatos. São esses os trechos em que o livro ganha importância, como relato jornalístico de qualidade.

Tariq Ali reconstrói os fatos que deram início a toda a agitação em Paris, com o colapso do sistema universitário, que enfrentava à época problemas de ordem estrutural, com alojamentos e instalações sofríveis. Somados a isso, é claro, a situação econômica da França, que sucumbira aos dez anos do gaullismo. Tal descontentamento afloraria nos campi de Nanterre e Sorbonne, que teriam como líderes Daniel Cohn-Bendit e Daniel Bensaïd. Dois rapazes carismáticos que, merecidamente ou não, se tornariam símbolo de todo o culto que envolve o Maio de 68. Os desdobramentos de tudo isso, com a conseqüente adesão da classe operária ao movimento e a grande greve geral que tomou conta do país, são narrados com o esmero que se espera de um militante que vê seus pares chegarem ao topo. Mas e depois? Talvez essa seja a indagação mais importante hoje sobre o que ocorreu nos anos 1960. O papel mais importante da História certamente é o de iluminar o caminho futuro. Assim, se considerarmos que O poder das barricadas foi lançado pela primeira vez na Inglaterra em 1987, após 20 anos dos acontecimentos de Paris, e demorou outras duas décadas para chegar aos leitores brasileiros, o que se lê sobre o legado do Maio de 68 parece insuficiente. É claro que há de se respeitar as duas décadas de atraso com que o livro chegou aos brasileiros, o que poderia ser corrigido no longo prefácio da edição brasileira em que Ali prefere discorrer sobre os conflitos bélicos e sociais de agora, relacionando-os indiretamente com os anos de luta.

É verdade que os acontecimentos de 1968 forçaram o governo francês a empreender reformas nas universidades, multiplicando o número de vagas aos estudantes, por exemplo, sem, no entanto, conseguir uma ampliação mais consistente na infra-estrutura acadêmica. Daí é possível afirmar que as conseqüências mais duradouras e consistentes dos anos 1960 sejam indiretas, muito mais de ordem cultural do que estrutural. E essa talvez seja a chave para se explicar a aura mítica que o período ganhou com o passar dos anos e décadas. Afinal, o objetivo maior dos grupos maoístas ― tomar o poder em parceria com camponeses e operários ― que lideravam os levantes não foi alcançado. Cohn-Bendit é hoje um respeitado deputado europeu do Partido Verde, mas que pouco lembra o rebelde incendiário de tempos idos. Com exceção do Nepal, não se vê hoje maoístas nem mesmo na China. Régis Debray, como escreve o próprio Ali no fim do livro, que foi um dos militantes mais ativos do período, tornou-se "um funcionário pomposo e astuto do Estado francês" no governo Mitterrand, naquele que para muitos foi o fim do Maio de 68 e não o começo e de uma revolução socialista, como se poderia crer. Portanto, politicamente o Maio de 68 foi uma fagulha que logo se apagou. Che Guevara fora morto na Bolívia, a Tchecoslováquia esmagada por tropas de Moscou e a América Latina tomada por coronéis da extrema direita. Então veio a ressaca, amarga e dolorida. Tão amarga que o próprio Ali escreve que "a política dos anos 1960 parece estar muito mais distante do que a meras duas décadas [ele escrevia antes da derrocada da União Soviética] e, em várias cidades européias, podemos encontrar escombros de indivíduos ou de organizações políticas que preferiram fingir que nada mudou. O período pós-1975 foi uma das pausas forçadas da história, prevista para nos fazer pensar e refletir antes da onda seguinte, cujo padrão é tão imprevisível quanto o momento em que virá".

Daí que os ganhos do Maio de 68 hoje passam ao largo da política (haja vista os presidentes "socialistas" que dominam a América Latina) e se concentram muito mais em questões como o respeito às minorias, feminismo, liberdade sexual e a progressiva preocupação com o meio ambiente. O resto, literalmente, virou história.

Para ir além






Luiz Rebinski Junior
Curitiba, 6/8/2008

Quem leu este, também leu esse(s):
01. Sombras de Juliano Maesano


Mais Luiz Rebinski Junior
Mais Acessadas de Luiz Rebinski Junior em 2008
01. O jornalismo cultural no Brasil - 2/1/2008
02. Bukowski e as boas histórias - 15/10/2008
03. Despindo o Sargento Pimenta - 16/7/2008
04. Dobradinha pernambucana - 23/1/2008
05. O óbvio ululante da crônica esportiva - 27/8/2008


* esta seção é livre, não refletindo necessariamente a opinião do site



Digestivo Cultural
Histórico
Quem faz

Conteúdo
Quer publicar no site?
Quer sugerir uma pauta?

Comercial
Quer anunciar no site?
Quer vender pelo site?

Newsletter | Disparo
* Twitter e Facebook
LIVROS




O chamado dos minaretes
Jamile marinho palacce
Biografia
(2011)



Geração Alpha Historia 8 Ed 2019 - Bncc
Ana Lúcia Lana / Reis Nemi
Sm
(2019)



Mariologia - Síntese Bíblica, Histórica e Sistemática
José Cristo Rey García Paredes
Ave Maria
(2011)



Natural Capitalism: Creating the next industrial Revolution
Paul Hawken, Amory Lovins e L. Hunter Lovins
Back Bay



A Poder dos Anjos
Larry Keefauver
Atos
(2004)



Impossível
Paul Jennings
Fundamento
(2010)



O Macaco Vermelho
Mario Vale
Dime



Novas Questões Criminais
Damásio e de Jesus
Saraiva
(1993)



A Libélula - Col Xereta
Felipe Capelli e Outro
Ftd
(2011)



Segredos da Bel para Meninas
Isabel Peres Magdalena
Única
(2016)





busca | avançada
111 mil/dia
2,5 milhões/mês