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Melhores de 2008
Quarta-feira,
11/2/2009
2008 e os meus CDs
Rafael Fernandes
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Aqui vai a lista dos discos que me acompanharam em 2008. Como nos anos anteriores (2006 e 2007), podem ou não ser os "melhores"; mais importante é que estiveram comigo em diferentes momentos. Deixei de lado alguns (inclusive os que ainda não consegui ouvir), colocando aqui os que realmente me marcaram de alguma forma, num ano em que prestei mais atenção nos artistas estrangeiros.
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Bumblefoot ― Abnormal / Barefoot
Ouça um trecho de "Simple Days", na versão de Abnormal
Ouça um trecho de "Delilah", na versão de Barefoot
Agora relativamente conhecido como um dos guitarristas do Guns N' Roses, Ron "Bumblefoot" Thal apresenta em seus discos peças de guitarra altamente velozes como "Guitar sucks", mas também é capaz de fazer canções de belas melodias, como "Delilah" ou "Simple days". Sua música traz diferentes referências como funk metal, grunge, pop, punk e rock clássico. Consegue aliar como poucos uma técnica exímia a músicas cativantes. Em Abnormal, Bumblefoot faz um disco mais direcionado a canções, mas sem deixar de caprichar nos arranjos de guitarra. E apresenta grande cardápio musical: uma inusitada mistura de Sex Pistols e pirotecnias guitarrísticas (faixa-título); virtuosismo desenfreado, mas com propósito ("Guitar still sucks", de veia country); baladas certeiras ("Simple days"); ska (a parte final de "Piranha", que tem ótimos licks) e músicas com carga dramática ("Dash"). Boa parte das canções é dotada de um toque do bom humor característico do músico. Ron Thal canta bem, é guitarrista fora-de-série e se mostra cada vez melhor compositor. No final do ano ainda teve folego de lançar um EP com versões acústicas de algumas de suas canções, o Barefoot, com destaque para "Dash", "She knows" e um versão fantástica de "Delilah", gravada ao vivo, com Thal acompanhado unicamente de sua guitarra.
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Cynic ― Traced in air
Ouça um trecho de "Integral Birth"
O Cynic apareceu no final dos anos 80 e, no início dos 90, lançou seu primeiro e único disco apostando num metal bem trabalhado com influências de outra ótima banda, o Death. Causou certo frisson na cena underground e se tornou "cult". Voltou este ano pendendo ainda mais para o lado do prog metal, do math metal e do fusion. O resultado é ótimo para quem gosta do gênero, com músicas complexas, mas sem abdicar das melodias, nem se perder em virtuosismos tolos. "The space for this" começa com belos acordes, com algo do já citado fusion. Uma leve melodia vocal aparece, para dar lugar a incisividade de riffs quebrados e um vocal de apoio rasgado, mais para o death metal. É uma bela música. "Integral Birth" já é uma das minhas músicas preferidas, com sua junção muito bem feita de peso, instrumental coeso, belas melodias e um refrão que prende.
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Edu Ardanuy ― Electric Nightmares
Ouça um trecho de "Alien Voice"
Esse grande guitarrista brasileiro já atingiu nível internacional há tempos. Em 2007 lançou Bravo, um belo disco com sua banda, o Dr. Sin, e em 2008 finalmente colocou no mercado seu aguardado disco solo. E não decepcionou. O álbum tem influências de grandes guitarristas como Steve Morse, Steve Vai, Eddie Van Halen, Jeff Beck, Steve Ray Vaughan e, principalmente Mattias "IA" Eklundh, mas sem deixar de ter personalidade. As músicas de Electric Nightmares investem mais em riffs, mas os solos estão lá, como não poderia deixar de ser ― e com grande desenvoltura. A faixa-título começa como um metal soturno, mas logo se abre para boas melodias. Os solos são muito bons e mostram bastante influência de Mattias "IA" ― um guitarrista desconhecido, mas fenomenal. A faixa de abertura ― "Rock will never die" ― faz juz ao título: é robusta, empolgante, viva e dinâmica. "Alien voice" apresenta, logo no início, uma melodia tão marcante que pode ser até chamada de "refrão". "Dixie" e "The Secret" remetem a Dixie Dregs. "Fire in the sky" (que poderia estar num disco do Dr. Sin), "Vertigo" e "Mad Dog" também fazem jus aos nomes e são "Edu clássico": roqueiras, de riffs nervosos, licks intrincados e solos matadores. Eletric Nightmares é tão bom que se eu colocar todos os destaques vou transcrever a lista das músicas.
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Frost* ― Experiments in mass appeal
Ouça um trecho de "Pocket Sun"
Frost* é uma banda liderada por Jem Godfrey, um músico e produtor inglês. Em 2006 ele recrutou outros músicos conterrâneos para montar uma banda de rock/metal progressivo. Lançaram um disco muito bom, Milliontown, mas prefiro este lançado em 2008, Experiments in mass appeal, após um período de recesso. O disco é excelente para quem tem apreço pelo gênero. Tem ótimas canções, com belas melodias, que grudam na cabeça ― o fato de Godfrey ser um produtor de pop deve ter ajudado. Os arranjos são intrincados, mas muito bem amarrados. E ainda tem uma música bem próxima do pop, "Toys", um das minhas prediletas. Outras são "Welcome to nowhere", com belos contrapontos entre delicadeza e a intensidade do refrão; "Pocket sun", com um grande riff e ótima parte instrumental; e "Falling down", com seu solo de teclado bem bolado, levando a música ao auge.
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Guns N' Roses ― Chinese Democracy
Ouça um trecho de "Better"
Avacalhado por ouvidos apressados e cheios de preconceitos, Chinese Democracy é um ótimo disco, que consegue melhorar mais ainda a cada ouvida. Apresentando arranjos muito bem elaborados, ruptura com o que se esperava da banda, solos de guitarra de vanguarda, trabalho instrumental primoroso e performances arrasadoras de Axl Rose, Chinese Democracy se sustenta muito bem como álbum e apresenta pérolas como "Better", "Street Of Dreams", "Sorry" e "Prostitute". Para ouvir e reouvir. Paro por aqui, já que este disco merecerá um texto só pra ele.
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Nine Inch Nails ― The Slip
Ouça um trecho de "Letting You"
Já é um dos meus discos favoritos. Ouvi muito no ano passado e continuo escutando. É arrebatadora a sequência inicial com "999,000", "1,000,000", "Letting you", "Discipline" e "Echoplex". Mais pra frente ainda tem outra música que gosto bastante, "Lights in the sky", que nomeou a turnê que quase aconteceu aqui ― bateu na trave. Com esse belo disco Trent Reznor presenteou os fãs, apareceu na mídia, vendeu discos em edição especial, divulgou a turnê e também conseguiu mapear os principais locais em que o disco foi baixado ― um tipo de informação que vale ouro. Rendeu um texto.
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The Mars Volta ― The Bedlam in Goliath
Ouça um trecho de "Aberinkula"
Uma das minhas bandas preferidas dos anos 2000 lançou em 2008 outro ótimo trabalho: The Bedlam in Goliath, em que cortaram um pouco o excesso de viagens sonoras e focaram numa música mais direta ― dentro de suas características. Claro que as tais "viagens" estão lá, mas mais controladas. É uma banda que sabe como poucas fazer faixas de abertura incríveis e a prova é "Aberinkula": pesada, funkeada, de melodia grudenta, com solos de guitarra e saxofone (!) e com um toque de nonsense e uma certa histeria característicos da banda. Ela consegue unir loucuras, psicodelia, rock progressivo, alguma coisa do funk e vocais gritados e melódicos de uma forma única. É ouvir e pensar: "é Mars Volta!". Não há semelhantes na música atual (se houver, por favor, me informem!). As músicas são bem construídas, com partes distintas sempre bem amarradas e que muitas vezes continuam na faixa seguinte, ou, então, são citadas em outra mais à frente.
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Protest The Hero ― Fortrees
Ouça um trecho de "Sequoia Throne"
O Protest The Hero é uma banda canadense que segue uma linha de metal que ganhou força no underground nos anos 2000: o chamado "math metal", um metal bem agressivo com passagens instrumentais bastante complexas e bem executadas que são, como o nome diz, quase "matemáticas". Os grandes destaques do estilo são os excelentes Meshuggah e The Dillinger Escape Plan. O Protest The Hero não chega a ser tão "math" nem tão extremo assim e flerta com algo do pop, mas a influência é clara, como também é evidente que bebem de fontes como Metallica e Dream Theater. Não traz nada de novo nem de especial, mas é um trabalho muito bem feito. Gostei em especial de "Bloodmeat", "Sequoia Throne" e "Spoils". Tirando um excesso de afetação aqui e ali, é uma boa pedida para fãs do estilo.
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Sia ― Some people have real problems
Ouça um trecho de "Soon We'll Be Found"
Como milhares de pessoas, conheci a Sia (ou Sia Furler) no último capítulo da ótima série A sete palmos. Na derradeira e acachapante sequência é executada a bela "Breathe me" ― já uma das minhas favoritas. Ela tem ótima voz, com boa profundidade e corpo; por vezes canta de maneira quase displicente. Suas músicas percorrem ruas pop, mas tentando desviar das bobagens; não tem grandes complexidades, mas tem bons achados e arranjos muito bem feitos. Em 2008 lançou Some people have real problems que é muito bom. Gostei bastante de "Soon we'll be found". Há alguns momentos superficiais demais, como "Day too son", mas o disco é feito de boas melodias como "Lenil" e na beatleniana "Electric Bird" e momentos delicados como "You have been loved", "I go to sleep" e "Lullaby" ― que são onde Sia se sai melhor.
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Textures ― Silhouettes
Ouça um trecho de "Awake"
Dá para ouvir no som da banda influências de Metallica, Sepultura, Pantera e, como boa parte das bandas de metal dos anos 2000, dos trabalhos de Mike Patton (em especial Faith No More e Fantomas); também algo do Meshuggah, do Death. O Textures, como o próprio nome sugere, inclui no seu som algumas texturas sonoras e climas e melodias mais tranquilos. Também tem algo do já citado "math metal". A faixa que abre o disco é uma boa mostra disso tudo: "Old Days Born Abnew" abre com um riff que remete à banda de James Hetfield e cia, segue com algo do Meshuggah até uma espécie de refrão com uma bela melodia. Já as texturas aparecem mais na boa "Messengers". Gostei bastante de "Awake", a mais "palatável" do disco, com boas melodias, mas sem abrir mão do peso, em especial na parte intermediária.
Rafael Fernandes
São Paulo,
11/2/2009
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