Desde que comecei a ouvir falar na internet ouvi falar também no fim da mídia impressa. Era o fim dos livros, substituídos pelos e-books; era o fim da revista, substituída pelas revistas eletrônicas, então escritas em corpo de e-mail para desespero dos míopes; e, claro, era o fim dos jornais. Nem se falava em blogs, flogs, Twitters e assemelhados e o fim da imprensa ― entendida aqui no seu sentido original, isto é, de algo impresso no papel ― já era trombeteado em alto som para quem quisesse e quem não quisesse ouvir. Os argumentos sempre foram os mesmos: espaço ilimitado, economia de gastos, liberdade infinita e até vantagens do ponto de vista ecológico, uma vez que árvores seriam poupadas. Em suma, a sentença de morte não admitia apelação. O jornal estava condenado e seu desaparecimento era questão de tempo.
O tempo, então, passou. O jornal, como sabemos, não morreu. Claudica, é verdade: as tiragens caem em todo o mundo todo ― sobretudo nos EUA ― e acompanham uma tendência que vem de há muito tempo, por vários e outros motivos. Mas o fato é que ainda não acabou. E não acabou também o discurso apocalíptico, o qual, como todos os discursos apocalípticos, pode até se tornar démodé, ultrapassado e até brega, mas nunca morre. Transmuta-se, mascara-se, usa outros códigos e volta e meia vem à tona com força, ocupando espaço de destaque e assumindo a aparência de grande novidade. Antes, defendia-se apenas que o jornal em papel estaria com os dias contados. Hoje, nem mesmo os jornais eletrônicos têm seu espaço garantido, tamanha é a profusão de blogs especializados que não cobram por acesso e informam ― segundo os defensores desta opinião ― tão bem quanto os melhores articulistas dos grandes jornais e com muito mais independência. A última eleição nos EUA, quando blogueiros que trabalhavam à noite, após o expediente, tornaram-se participantes ativos de campanhas e vozes a serem escutadas por políticos e analistas experientes, parece ser mesmo um sinal bem forte de que não se trata mais de um exercício de futurologia à 1984 e sim do reconhecimento de um fato concreto e estabelecido.
Não resta dúvida de que a internet conquistou de vez um espaço dentro da grande mídia e que este espaço tende, no momento, a crescer. Também não resta dúvida de que o jornal deve se reinventar e buscar alternativas para poder sobreviver, se quiser sobreviver, em meio ao turbilhão de informações que assola este novo milênio. A pergunta que fazemos é: o jornal tem como se reinventar? Pode continuar a ocupar um espaço só seu? Terá instrumentos para resistir? Há algo de intrínseco ao jornal, algo próprio só dele, que lhe assegure a permanência?
Recordo aqui a entrevista concedida pelo americano Henry Jenkins, especialista em mídia, ao canal Globonews há alguns meses. Jenkins é um dos maiores estudiosos da difusão da informação com o advento da internet e da adaptação da humanidade a este novo quadro. Segundo ele, vivemos em uma época em que a quantidade de informação circundante é várias vezes superior à nossa capacidade de assimilar e processar novidades. Com um clique no Google acessamos referências de diferentes níveis de qualidade sobre praticamente tudo e de modo imediato. A questão é que nem sempre temos e sabemos como escolher as melhores fontes diante de tantas opções que se nos apresentam. As palavras de Jenkins não deixam margem a dúvidas: "Precisamos aprender a participar seletivamente ou seremos soterrados pelas informações". Fazendo uma comparação com uma mídia mais "antiga", é como uma pessoa que almeja tornar-se um grande sábio acumulando leituras desordenadas sobre os mais diversos assuntos. Sua cabeceira está cheia de livros sobre Física Relativística, filosofia alemã, botânica, esquemas táticos de futebol e estudos sobre o Expressionismo, escolhidos à mão livre, sem cuidado e com pressa. Aquele que escolhe bem essas leituras já não é um leitor sem orientação ― é um verdadeiro erudito, capaz de orientar os demais no mesmo processo. E aquele que "participa seletivamente" da informação na internet é o jornalista. Ou melhor: será o único jornalista digno de sobreviver a este novo mundo. Eis aí o seu provável espaço: pequeno, reduzido, mas ao mesmo tempo indispensável para que a informação circule de maneira proveitosa. Não é preciso lembrar que este é um trabalho de profissional ― e, portanto, um trabalho pago.
É claro que nem todos gostam disso. O serviço é redobrado e exige um preparo e uma dedicação que, penso eu, os egressos das faculdades de jornalismo cada vez menos têm (e aqui fala alguém que já frequentou aqueles bancos). O jornalista que quiser permanecer deverá compreender as novas exigências de sua profissão e adaptar-se a elas. E deverá compreender também que, se estas exigências forem cumpridas com êxito, desta grande ameaça que ora paira pode surgir uma nova e grandiosa era para o jornalismo e uma oportunidade única para os criativos e os talentosos. Até que outro discurso apocalíptico apareça e vire moda.
Por partes: 1- A toda Ação corresponde uma Reação igual e contrária. 2- Na natureza nada se cria ou se perde, tudo se transforma. A partir desse coquetel de Newton com Lavoisier pode-se ter uma justificativa para a informação desordenada da Net, bem como para o renascimento do jornalismo. Ação - Jornais promovendo Idiotização Dirigida em todos os povos através da Informação Conveniente. Reação - Perda da Lógica nos leitores, contaminação do novo jornalista pelo processo de idiotização dirigido pelos ancestrais, proliferação da informação de forma dispersa e suspeita. Fim do Jornal. Transformação - Estudar bem as razões históricas que causaram o funeral, encontrar os inversos delas, Planejar com a Lógica Readquirida e Centralizar o Modelo Jornalístico como o Novo. A Retaguarda é quem justifica qualquer Vanguarda. Só estudando a primeira que se constrói a segunda, que, ocorrendo de forma Sensata, tem tudo pra dar certo, já que o Homem sempre dependeu de Líderes, principalmente Sensatos.