Questões de Honra | Guilherme Pontes Coelho | Digestivo Cultural

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COLUNAS

Quarta-feira, 9/9/2009
Questões de Honra
Guilherme Pontes Coelho
+ de 3300 Acessos

O primeiro livro de Louis Begley que li foi o mais recente, Questões de Honra (tradução de Matters of Honor; Companhia das Letras, 2009, 424 págs.). Uma descoberta tardia, é verdade. Ele é publicado já há alguns anos aqui pela Companhia das Letras e é um dos grandes nomes vivos da literatura americana. Curioso não o ter conhecido antes. Deve ser, é claro, obra dos demônios da leitura, porque ele me apareceu no momento exato, naquele momento em que a gente pensa: "Eu queria ler um livro assim, assim e assado". Pronto, ele me apareceu um dia, enquanto perambulava pela Livraria Cultura, depois de comprar livros infantis pra minha filha.

Olhei a capa de Matters of Honor e achei meio Scott Fitzgerald. Os capistas de hoje merecem todos os elogios do mundo pela criatividade. A capa da edição paperback da Ballantine Books é simples: um recorte de foto, na qual se veria um casal; pelo colarinho dele e pelo aplomb do corte de cabelo de ambos a gente já percebe que eles pertencem, ou parecem pertencer, ao grand monde ― e o pouco de ação que se vê na foto (ele, de costas pra nós, ao ouvido dela, que está de frente, mas de quem não vemos o rosto) é mesmo um recorte da relação entre alguns personagens do livro.

Confesso, porém, que não foi a capa singela e criativa o fator determinante pra comprar este até então inédito autor na minha biblioteca. Foi a frase "reinvention is a bargain with the devil", do breve comentário na quarta-capa. Nem li tudo. Caí com a vista nessa frase e meti o livro na cestinha.

A história é a seguinte. No início dos anos 50, três calouros em Harvard, futuros amigos, se conhecem na hora de dividir o dormitório. Archie, Sam, Henry. O destino não jogou dados na hora de os escolher como colegas de quarto. Estes três rapazes, aparentemente tão diferentes entre si, fariam toda a diferença na vida uns dos outros.

Archibald P. Palmer III, o Archie, não é exatamente o rapaz nobre e bem-nascido que a pompa do nome com algarismos romanos indica. Filho de pai militar e mãe dona de casa, cresceu pulando de país em país, de acordo com os postos para os quais seu pai era designado. Aprendeu boas maneiras, sim, mas não exatamente em casa: numa obscura escola escocesa. Este conhecimento lhe será muito útil quando se mudar para Harvard e passar a viver com Sam e Henry. Ele desejava o glamour da riqueza. Ele era objetivo quanto ao que deveria aprender, ou fingir aprender, para se tornar um bon vivant. Era a vida que queria. Ele não tinha grandes grilos com seu passado. Dos três, ele parecia ser o que mais bem administrava o passado e os pais, parecia ser resignado (no último parágrafo você entenderá por que o verbo "parecer" é tão recorrente nesta coluna). Seus colegas são o oposto disso.

Sam Standish, o narrador, vem de uma rica família de New England. Nunca viveu sob a conta militar de Archie, nem passou pelas privações de Henry. Era rico. Sua chegada em Harvard, por sinal, foi viabilizada por um fundo que um padrinho lhe deixou. Aliás, não só Harvard foi possível graças a esse dinheiro. Sua vida também. Ele não precisaria trabalhar, se quisesse, e ainda manteria, de certa forma, o status com qual nascera. Claro, esse fundo não veio, digamos, de graça. Numa cena constrangedora, Sam é informado, sem rodeios nem alardes, que é filho adotivo, logo depois de ser "presenteado" com o tal fundo do padrinho morto. O sr. Hibble, o administrador do fundo, o colocou a par das duas coisas com o mesmo tom de voz, a mesma brevidade.

Mesmo antes disso a relação de Sam com os pais não era das mais familiares. Agora, sabendo que aquele casal que bebe demais e que não é bem visto pela família Standish não são seus pais de verdade, Sam passou a se sentir mais à vontade para não lhes dar atenção. Não eram seus pais, nem deles precisaria para se manter. É inexplicável, porém, que ele tenha os traços fisionômicos da família. Ele, o pai, o primo George, o tio... todos eles se parecem.

O terceiro colega é Henry White. Na verdade, o livro é ele. Ele é tão amigo de Sam quanto de Archie e a história dele, desde o primeiro parágrafo do romance, que será contada.

Henry nasceu na Polônia e é judeu. Seu nome, quando chegou na América, era Henryk Weiss. Passou por severas privações e, aparentemente, intoleráveis sofrimentos por causa do Holocausto. Chegou nos Estados Unidos determinado a se reconstruir e a se livrar de tudo o que o judaísmo lhe fez passar. Porém, a família, sobretudo a mãe, faz questão de lembrá-lo da coisa que ele mais quer suplantar, seu passado judeu. Assim, ele tem tanto a frustração com passado de Sam, como o projeto de autorreinvenção de Archie, só que numa versão hipertrófica. Além do mais, é um jovem de inteligência brilhante. Todos esses elementos juntos fazem dele o elo entre os amigos e o objeto de curiosidade de todos.

Questões de Honra é a história da amizade entre esses rapazes, Henry, o advogado bem-sucedido; Archie, o trágico businessman; e Sam, o narrador, que se tornaria um renomado romancista.

Este narrador, na verdade, foi o que mais me chamou atenção. Era este tipo de narrador que eu queria conhecer. Um narrador "em segundo plano". Sam está mais preocupado em narrar a vida de Henry e dos três amigos em comum do que falar de si próprio. Noutras passagens do livro, ele dedica mais atenção ao que acontece em volta do que ao que ele mesmo pensa, ou, melhor ainda, sente. Porém, por melhor observador que seja, seus personagens, sobretudo Henry e Archie, não são de forma alguma transparentes, por isso ele supõe muito do que narra. Ambos dissimulam as pessoas que são; o mesmo que ocorre com o próprio Sam, não só em relação à sua condição bastarda e à família que inspira pouco respeito, mas quanto à própria sexualidade.

A história é quase uma junção cronológica de impressões captadas por Sam, ora fortes, ora fracas; impressões que também são o que ele diz de si. Ele passará anos fazendo terapia, da qual o leitor não saberá nada. Ele será um romancista famoso, mas sua obra é mencionada apenas superficialmente, e mesmo assim só quanto ao status que ser escritor vendável tem nos meios em que Sam vive.

Assim, os personagens têm segredos patentes que fingem não existir ― inclusive o próprio narrador. Curioso é notar que o narrador, justamente um escritor, narra de maneira simples, ora precisa, ora lacônica, mas sempre sem afetações. Uma peça de ficção narrada sem "literatices" por um personagem-escritor. Perfeito.

Tudo é visto por Sam pelo que parece ser ou parece ter sido, sem chance de certezas absolutas porque a verdade é inviável. De quem ele é filho de fato? Como foi a maldita vida de Henry no Holocausto? Qual o demônio interior de Archie? São cinco décadas de uma história feita de amizades inabaláveis, segredos, fantasmas passados, silêncios e intenções indisfarçáveis. Como a vida.

Nota do Autor
Há muitas semelhanças entre Henry e Sam e o próprio autor, Begley. Não mencionei nenhuma delas porque escolhi deliberadamente falar da obra em si.

Para ir além






Guilherme Pontes Coelho
Brasília, 9/9/2009

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