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Segunda-feira, 12/3/2001
O Tigrão vai te ensinar
Rafael Lima
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Os primeiros sinais começaram há algum tempo: todo final de semana monzas com insulfilm no vidro passavam, os alto-falantes pulsando no caminho da praia. Fernanda Abreu e Paula Toller citaram no Rock in Rio. Capa na Veja Rio. No final de semana de 18/02, sem saudar a platéia nem pedir passagem, o Funk Carioca tomou de assalto a avenida, sendo atração principal de todos os programas de sábado e domingo na televisão, além da matéria principal do Caderno B no JB. O carnaval, a uma semana de começar, via-se ameaçado de invasão pelo bonde do tigrão.

O ritmo que vem sendo chamado de "funk carioca" se compõe principalmente de músicas nascidas nos subúrbios da Avenida Brasil, desde a década de 80, cuja batida está mais para o chamado Miami Bass do que para a sonzeira que George Clinton, James Brown e aquele artista outrora chamado Prince faziam. Não é de hoje que se ouve esse som por aí, ainda que sempre pelos meios não oficiais de divulgação: um radinho de pilha na feira, o auto-falante de um carro na rua, num baile no morro. Sempre criado sem técnica musical, sem instrumentos convencionais, e com refrões de fácil assimilação e grande impacto, próprios para incendiar os bailes, principais pontos de audição dos funks.

Não é difícil encontrar motivos para a tardia assimilação dos funkeiros pela mídia. Não haveriam ídolos que centralizassem a atenção, dada a miríade de gravações baratas - os grandes nomes eram o DJ Malboro, e a dupla capitã do Furacão 2000, Rômulo Costa e a mãe loira Verônica, na verdade produtores e empresários. E, como diz aquele refrão: "É música de preto, música de favelado, mas quando toca ninguém fica parado", não havia a formatação necessária para se adequar à estética da classe média, a mesma que separa a Rede Globo de Sívio Santos e Ratinho.

A grande força dessa onda veio da soma da aceitação popular com a legitimação emprestada pelo setor da classe média intelectual, em comportamento amplamente criticável, quando se observa a tristeza cultural que reveste as composições. A aceitação do funk como um produto cultural relevante é filha do ressentimento das nossas eternas viúvas de 68, intelectuais de esquerda que ainda não descobriram que os CPCs da UNE acabaram e se vêem no direito de endossar qualquer movimento cultural popular apenas porque... é popular, por sua origem e eco na classe proletária, o que só evidencia aquilo que o Daniel Piza chama de "a doença infantil do pop-ulismo", a ilusão de que uma obra de arte tem mais valor apenas porque consegue atingir um público maior.

Enquanto expressão artística, o funk carioca pode ser atacado tanto quanto qualquer outra manifestação popular que peque pela falta de uma lapidação que a torne mais palatável para os ouvidos da classe média. Seu grande mérito estaria na capacidade de recriar a linguagem, essa imensa capacidade carioca de inventar - e exportar para todo o país - gírias, de emprestar novos sentidos, de reformar palavras e reinventar a sintaxe, ainda que se registre um empobrecimento claro na perda das conjugações verbais e na concordância nominal. Às vezes essa pobreza linguística atinge o nível do absurdo, como naquela estrofe em que a palavra "demais" é rimada, dois versos depois, com a palavra... "demais"! Mas a força comunicativa fica óbvia quando se vê a torcida do Flamengo, no Maracanã, que hoje é a grande academia onde se recicla a língua (mais do que a feira, a televisão, o jornalismo ou a própria Academia, ocupantes dessa posição em outros tempos), utilizando refrões do funk em seus gritos de guerra: "Tá dominado! Tá tudo dominado!", "Ah, eu tô maluco!".

O ponto aqui não é negar esse mérito comunicativo dos funkeiros ou tentar desmontá-los pelo falta de sofisticação de suas músicas. O alerta a ser feito é o erro que há em enxergar neles o resultado da evolução natural, que vem, por exemplo, de Edu Lobo: se há 30 anos os responsáveis pela introdução das questões sociais na música eram os filhos da classe média (Chico Buarque, Vandré), hoje, os verdadeiros representantes de uma "arte engajada" vêem do que as estatísticas do IBGE chamam de classe C, D e E; são os MCs, e nunca deve ser minorado o fato de que a música é também uma das minguadas tentativas de ascensão social a que os jovens daquelas classes tem acesso.

Se o que atraía elogios no jovem Chico Buarque era uma sensibilidade que o permitia se colocar na pele de pedreiros, prostitutas ou traidores, o que chama a atenção nos funks do Rio de Janeiro é essa qualidade quase documental de registrar as idiossincrasias de um cotidiano sem esperança, banhado numa ótica marginal repleta de humor, lascívia, opressão e ilegalidade. Uma manifestação popular fortíssima, mas que nem de perto tem a universalidade e a riqueza de outras representações igualmente populares, tais como a Banda de Pífanos de Caruaru ou as crônicas musicais de Noel Rosa.

Provavelmente a maior prova de força desta manifestação tenha sido, em pleno carnaval, conseguir romper a cadeia hereditária do axé, que, vitaminado pelo jabá das gravadoras, todo ano - há 8 consecutivos - inventava uma novidade (a última, As Meninas, nem se ouviu nesse ano). Quando se considera que os funks são feitos por gente com baixa ou nenhuma escolaridade ou informação musical, gravados em estúdios de fundo de quintal, reproduzidos em cópias de baixa qualidade que são vendidas em barracas de camelô, a invasão se torna ainda mais digna de interesse. É claro que agora o interesse é da Sony que a vendagem seja expressiva, mas talvez agora seja mais fácil ver que o poder das majors não é tão totalizante assim como se dizia.

Em tempo: tchuthuca é uma mulher bonita; tigrão é o masculino de tchutchuca; popozuda é a mulher gostosa; demorou (ou formou) tem o mesmo sentido que valeu!, fechado!; bonde é uma turma; agora essas eu duvido que qualquer um acertaria: martelo é o orgão genital masculino, mandar pressão é o praticar o ato sexual e passar cerol na mão é lubrificar o pênis com saliva. Aparar pela rabiola até agora ainda não descobri.


Rafael Lima
Rio de Janeiro, 12/3/2001

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