COLUNAS
Terça-feira,
2/3/2010
Inhotim: arte contemporânea e natureza
Jardel Dias Cavalcanti
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Sob a indicação do professor Ronaldo Oliveira (da Universidade de Londrina), acabei por fazer um dos passeios mais agradáveis e instrutivos dos últimos anos. Esse passeio foi em Inhotim, um complexo museológico e ambiental cuja visita posso classificar como imperdível. Explicarei o porquê ao longo deste texto.
O Instituto Inhotim, criado em 2005, localiza-se em Brumadinho, a 60 quilômetros de Belo Horizonte (MG) e possui não só um grande acervo de obras de arte contemporânea como também uma esplêndida coleção botânica. Pode-se chegar ao local de carro ou através de um ônibus que sai da rodoviária da capital mineira.
Dentro de um parque ambiental de rara beleza, pode-se visitar um grande número de pavilhões-galerias com arte contemporânea de inestimável valor. O passeio intercala a beleza da natureza, com jardins, lagos e plantas, e as visitas às galerias de arte, com direito a pausas em cafés e um belo restaurante para se almoçar.
Como informa o site de Inhotim, "o Parque Tropical possui áreas que seguiram conceitos sugeridos pelo paisagista Roberto Burle Marx. A enorme variedade de plantas faz de Inhotim um local onde se encontra uma das maiores coleções botânicas do mundo, com espécies tropicais raras e uma reserva florestal que faz parte do bioma da Mata Atlântica".
Além dessa fabulosa coleção botânica, apreciável e deleitável a cada metro percorrido pelo visitante, temos o conjunto das obras de arte, ora dentro das galerias, ora a céu aberto. Segundo o site, "o representativo acervo de arte contemporânea de Inhotim vem sendo formado desde meados da década de 1980, e tem como foco obras criadas a partir dos anos 1960. Possui pinturas, esculturas, desenhos, fotografias, vídeos e instalações de artistas brasileiros e internacionais".
Aí talvez esteja a particularidade louvável de Inhotim no que diz respeito à sua relação com a arte contemporânea. Além de apresentar a arte brasileira, exibe o que há de mais importante em arte contemporânea internacional. Essa exposição da arte de várias regiões do mundo, que inclui arte chinesa, alemã, americana, inglesa etc., nos coloca em relação com proposições bastante diferentes, mas adequadas à linguagem bastante aberta da arte contemporânea.
O acervo e exposições têm tripla curadoria. Sobre isso diz o site: "A curadoria está a cargo de Allan Schwartzman, Jochen Volz e Rodrigo Moura. O fato de ser dividida entre profissionais, respectivamente, dos Estados Unidos, da Alemanha e do Brasil, é um reflexo de como a instituição pensa internacionalmente, promovendo livre trânsito entre a arte produzida no Brasil e no exterior. Os curadores são responsáveis, conjuntamente, pelas exposições e pela expansão da coleção, além de darem apoio de conteúdo ao desenvolvimento institucional de Inhotim com projetos de educação e publicações, e outros aspectos da política cultural da instituição".
Há pavilhões e galerias reservados exclusivamente aos artistas Tunga, Cildo Meireles, Adriana Varejão e da artista colombiana Doris Salcedo. Para dar a dimensão do acervo do local, há ainda obras dos brasileiros Ernesto Neto, Artur Barrio, Amilcar de Castro, Edgard de Souza, Hélio Oiticica, Marepe, Miguel Rio Branco, Burle Marx, Vik Muniz, Waltercio Caldas, entre outros.
Os artistas internacionais são Mathew Barney, Zhuang Huan, Paul MacCarthy, Steve MacQueen, Albert Oelhen, Cerith Evans, Chris Burden, Haegue Yang, Jonathan Monk, entre outros.
O instituto Inhotim ainda tem, no que se refere à arte, um projeto denominado "Curador residente" que "é uma iniciativa pioneira no campo da curadoria no Brasil, que visa fomentar a pesquisa e o estudo acerca do acervo artístico e das exposições da instituição, bem como de suas políticas de público, de educação, de comunicação e de publicações sendo importante foco de estímulo à profissionalização do meio das artes no país, oferecendo a novos profissionais a oportunidade de interagir com uma instituição dinâmica e ativa na preservação e difusão das artes visuais". Ao participante é dado uma bolsa-residência (mais detalhes no site de Inhotim).
Ao longo da extensão do passeio, que inclui plantas de vários países, pode-se deparar com obras de Helio Oiticica, Waltercio Caldas, Edgard de Souza comungando com a cuidadosa jardinagem do parque.
No que diz respeito à sua natureza, o parque "possui uma área total, em constante crescimento, distribuída em seus dois principais acervos: Reserva Natural com 600 hectares de mata nativa conservada e o Parque Tropical com 45 hectares de jardins de coleções botânicas e cinco lagos ornamentais que somam 3,5 hectares de área".
O trabalho de paisagismo é admirável. Fica, inclusive, difícil se decidir se se deve estar em contato com a natureza ou com a arte dentro de Inhotim. O páreo é duro. As inúmeras árvores, flores, frutos e lagos nos convidam à contemplação demorada e relaxada. Nada de pressa por aqui. Por isso, é bom chegar cedo e só sair ao fim da tarde, quando o parque se fecha sob o belo entardecer. Foi o que eu fiz.
O empreendimento do parque é sem dúvida sensacional, não deixando a desejar. Um convite ao convívio com a arte contemporânea em um ambiente pra lá de maravilhoso, tendo a natureza e o paisagismo como aliados e ampliadores do prazer supremo da arte.
Aviso importante: se for acompanhado, faça como eu, escolha uma pessoa especial para o passeio, sensível e que admire a natureza e que esteja disposta a envolver-se com as propostas inusitadas da arte contemporânea. Be happy!
Nota do Autor
Todas as fotos são do site de Inhotim.
Para ir além
www.inhotim.org.br
Jardel Dias Cavalcanti
Londrina,
2/3/2010
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