COLUNAS
Segunda-feira,
14/6/2010
Projeto Itália ― Parte II
Eduardo Mineo
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Cheguei na Sicília de avião, na Catania. Preferi voar porque eu precisava alugar um carro e, como era domingo, apenas as locadoras do aeroporto estariam abertas. A alternativa seria ir de trem até a Calábria e atravessar o canal de Messina por barco. Dizem que o passeio é incrível, mas não consegui fazê-lo desta vez.
Do aeroporto, fui direto para uma cidadezinha perto do vulcão Etna chamada Motta Camastra, onde meu avô nasceu. A vantagem de se hospedar ali é o preço, já que a cidade fica a vinte quilômetros da paradisíaca Taormina, que tem preços elevadíssimos.
Vulcão Etna visto de Motta Camastra
Comparando com o continente, as temperaturas na Sicília são mais elevadas, entretanto, a maior parte das cidades se localiza em cima de montanhas, o que faz a temperatura despencar. Foi lá que passei o pior frio da minha vida, portanto, cuidado. E ainda mais cuidado para dirigir, pois as estradas que ligam as grandes capitais são boas, mas as estradas locais, para acessar as cidades de montanhas, são perigosíssimas. Desisti de ir à Riserva dello Zingaro, no noroeste da Sicília, por causa da estrada.
Estrada no noroeste siciliano
Se Milão é o melhor lugar em que estive, Taormina é o lugar mais bonito em que já estive. Arrisco dizer que é o lugar mais bonito do mundo. Comecei indo a Castelmola, uma cidadezinha próxima a Taormina, de onde se tem uma visão panorâmica, pois fica nas alturas. Desci perplexo pela paisagem, caminhei por todo o centro e fui até o teatro grego de Taormina, de onde se tem a vista da praia e, ao fundo, do vulcão Etna. É o cartão postal da cidade.
Teatro Grego, Taormina
Cheguei a dirigir até Messina, de onde é possível enxergar a costa do continente italiano, mas a cidade tem pouco a oferecer. Continuei minha viagem descendo à região da Catania e cheguei à pacata Mineo, cujo nome minha família carrega. Tem uma praça central, com uma igreja de uns mil e duzentos anos e um partido comunista do outro lado. Tentei conversar com as pessoas por ali, mas sem sucesso. Deixei a cidade meio aborrecido e segui para Siracusa, já no sudeste siciliano. No meio do caminho, o Etna se levantou e apareceu no horizonte, me dando uma das minhas fotos prediletas.
No caminho para Siracusa ― Etna ao fundo
A região de Siracusa é bastante industrial, o que não me interessava, portanto ignorei tudo e segui direto até o centro velho, que fica numa ilha chamada Isola Ortigia. Maravilhosa, a ilha. Estava preocupado, pois não como peixe e todos os restaurantes não me pareciam ter outra coisa para servir, mas achei um à beira do mar bastante simpático e fish-free, onde comi um pene carbonara. Cheguei a cometer a gafe de perguntar que vinho eles serviam, que foi prontamente respondido "locale", como se fosse a coisa mais óbvia do universo ― queria o quê? Vinho francês na Sicília, seu otário? A chateação é que já estava tarde e eu não tive muito tempo para dedicar a cada detalhe da cidade, pois tinha que seguir viagem a Noto, onde eu havia reservado um quarto. Em toda a minha viagem, reservei apenas bed-and-breakfasts, pois são mais baratos que hotéis, mas melhores que albergues. Não tive o menor problema e sempre fui muito bem tratado.
Siracusa
Noto é uma cidade minúscula, com uma avenida principal onde estão todas as coisas que você pode querer ver lá. No começo, me arrependi de ter alugado um quarto ali, em vez de ter ficado em Siracusa, mas quando sentei para jantar, mudei completamente a minha opinião. Foi, de longe, a melhor refeição que já fiz na vida. Quem me indicou foi o dono do B&B Valle degli Dei, dizendo para eu experimentar a Trattoria Ducezio, frequentada principalmente pelos locais. Na hora me pareceu cilada. Cheguei ao lugar e era um estacionamento. Tive de atravessar o terreno, passar por uma portinha nos fundos até chegar ao restaurante, que era bem ajeitadinho, pelo que eu esperava. Mas saí dali renovado. Deixei 20 euros de gorjeta, tamanha a minha satisfação. E ainda acho que dei pouco.
Deixei Noto e segui por Modica, famosa pelos seus chocolates, e Ragusa até chegar ao parque arqueológico de Agrigento, o primeiro que visitei para ver as construções gregas. Ainda visitei os parques arqueológicos de Selinunte e de Segesta, com um cenário mais bonito que o outro. Entretanto, os parques são grandes e são longas caminhadas para se locomover de uma construção a outra. Em Segesta é preciso pegar um ônibus para se chegar ao teatro grego daquele parque.
Construção grega em Selinunte
Sciacca, embora tenha um dos piores nomes do mundo, é uma cidade charmosinha, com uma vista espetacular para o mar e que me rendeu boas fotos no seu porto. Ela é conhecida pela escadaria de mosaicos, que me deixou, devo admitir, decepcionado, mas não o suficiente para desgostar da cidade. Já Erice, superou todas as minhas espectativas, que eram altas. É uma cidadezinha medieval como Assis, fortificada e fica no topo de uma montanha altíssima. A vista que se tem do mar e da cidade de Trapani é de doer a alma.
Erice
Antes de chegar a Palermo, passei por uma cidade litorânea chamada San Vito Lo Capo, que tem uma praia que me fez gostar de praia. Vendo as fotos, dá pra entender. Mas chegando em Palermo, encontrei a cidade debaixo de lixo. Era natal e os lixeiros não trabalharam. Culpa da máfia, segundo quem mora na cidade. É uma pena, pois a cidade é fantástica e tem história escrita nas paredes de cada esquina. A catedral de Palermo, por exemplo, foi fundada pelos normandos, depois transformada em mesquita durante a dominação árabe e novamente transformada em catedral pelos espanhóis. O interessante é que não houve diminuição, mas acréscimos. Já na entrada da catedral, você vê uma página do corão esculpida num dos pilares.
Página do corão esculpida na Catedral de Palermo
San Vito Lo Capo
Não entrei no Teatro Mássimo, aquele que foi fechado por anos pela máfia, só passei em frente quando estava indo à Capella Palatina, no Palazzo dei Normanni. Seu interior é forrado pelos famosos mosaicos em ouro com imagens cristãs e o teto ainda conserva o acabamento em madeira com figuras pagãs da época árabe. É de uma beleza assombrosa.
Capella Palatina
Infelizmente choveu durante a minha última noite em Palermo e, quando cheguei a Cefalù, o mar estava completamente turvo. Cefalù, pelas fotos que se vê no Google, tem umas das praias mais bonitas do mundo, que não consegui registrar, mas mesmo assim fiz muitas fotos de suas ruazinhas estreitas que formam uma arquitetura muito bacana.
Cefalù
A única frustração de minha viagem foi em Piazza Armerina, uma cidadezinha que fica bem no meio da Sicília e que é famosa por sua vila romana. Quando cheguei à cidade, a vila estava fechada. Até tentei arquitetar um plano maligno de pular o muro, sair correndo, bater fotos e ser preso, mas preferi a prudência e me dei por satisfeito com a foto que fiz na entrada da cidade, que nos recebe com a impressionante vista de sua catedral.
Piazza Armerina
No caminho para o aeroporto, conheci ainda uma cidadezinha chamada Aci Castello, ao norte da Catania e conhecida por ter um castelo normando construído em 1076, embora não tenha nada demais lá dentro. A não ser a vista. A vista é maravilhosa.
Aci Castello
Nota do Autor
Leia também "Projeto Itália ― Parte I".
Eduardo Mineo
São Paulo,
14/6/2010
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