Alguns dias depois da eliminação medonha do Brasil, a FIFA tratou de guardar a Jabulani no vestiário, alegrando Júlio César e os demais guarda-metas, além de mandar os juízes para casa, oferecendo como leitura obrigatória o livreto contendo as 17 regras do futebol estabelecidas pela FIFA, torturadas sem dó nesses últimos jogos.
É replay seguido de replay desmoralizando a autoridade do sujeito que carrega o apito, apelidado de presidente por aqueles prestes a tomar um cartão amarelo. Não há nada pior para uma Copa do Mundo do que um noticiário dividido entre os erros da arbitragem e as peculiaridades do país-sede. E dá-lhe vuvuzela nessa mistura. Esses sintomas são indicativos de uma doença que vem se espalhando bastante pelo mundo do futebol nos últimos tempos, sempre acompanhada de dores nas canelas, rebolation após gols marcados com a mão e alergia seguida de delírios no contato com qualquer tipo de dispositivo eletrônico. Trata-se da temida ludopedius neanderthalensis.
Há muito tempo atrás, contados mais de trezentos mil anos, um descendente do homo sapiens, grosseiro e pouco inteligente, habitava a Europa e partes da Ásia: o homo neanderthalensis. Robusto fisicamente e com o cérebro um pouco maior do que o nosso, além de lascar algumas pedras e correr atrás do almoço, esse nosso parente que não receberíamos em casa gastava o tempo livre batendo uma bolinha nas praias do Mediterrâneo. Descobertas arqueológicas de 1980, na Espanha, encontraram vestígios do que seria uma bola de pedra coberta por couro de mamute, ao lado de dois chifres do mesmo animal, encravados na terra. Segundo um dos arqueólogos encarregados da pesquisa e escavação, o cenário descoberto aparentava ser a pequena área e o gol de um campo de futebol primitivo. Essas conclusões se basearam na disposição dos objetos no local, incluindo uma grande quantidade de pedras atrás das traves rudimentares, que os arqueólogos suspeitam ter origem no hábito dos neandertais de apedrejar o goleiro adversário para impedir suas defesas. "Nós encontramos várias fraturas no crânio de um dos fósseis e suas mãos tinham seis dedos, o que nos fez acreditar que ele seria o goleiro" ― é a opinião de um dos pesquisadores. No mesmo local ainda foram encontrados fósseis de outros supostos jogadores, todos indicando a mesma constituição física de halterofilista desajeitado.
Cabo de enxada: apelido do osso da canela de um dos fósseis encontrados
Próximas ao sítio arqueológico, numa caverna escondida dentro de um cânion de uma pequena falésia, foram encontradas pinturas rupestres criadas pelos neandertais, retratando o cotidiano da época. Muitas indicações de rituais de caça, com cenas de homens atirando lanças e pedras contra animais, acompanhadas por outras de homens fugindo de animais, batalhas entre grupos rivais e rituais em grupo. Entre todas elas, um grupo separado, cuidadosamente pintado numa parede do fundo da caverna, chamou a atenção dos arqueólogos: onze desenhos simulando as regras do ludopedius neanderthalensis, o futebol praticado por nossos ancestrais. Os seguintes desenhos foram encontrados:
1º) Um retângulo seguido por cinquenta mamutes na horizontal e 30 na vertical: a indicação quantitativa dos animais parece ser correspondente às dimensões do campo para prática do ludopedius neanderthalensis;
2º) Um círculo, acompanhado de um mamute e a figura de um neandertal com uma lança: parece tratar da bola, que deveria ser coberta pelo couro do mamute;
3º) Um retângulo com onze neandertais desenhados de cada lado, representando o número de jogadores de cada equipe;
4º) Um neandertal vestido com uma túnica grosseira, seguido por outro sem o traje, indicando que as equipes se diferenciavam com uma espécie de uniforme;
5º) Um neandertal muito maior que o dos outros desenhos, no centro do retângulo, acompanhado de um bastão. Há uma disputa entre os arqueólogos sobre o significado da imagem. Alguns acreditam que ela representa o dono da bola de pedra, outros que ele seria o juiz da partida;
6º) Quatro neandertais do tamanho do suposto árbitro, cada um deles em um dos lados do retângulo, representando os juízes de linha;
7º) Dois neandertais iguais, com sombras em posições distintas, ao lado de um retângulo. Os arqueólogos duvidam que se trate da determinação do tempo de duração de um jogo, pois o relógio solar só teria sido descoberto 3.500 anos antes de Cristo;
8º) Um retângulo com um pequeno círculo no meio. Talvez fosse o local onde a bola deveria ser colocada em algum momento específico da partida;
9º) Um retângulo com um pequeno círculo do lado de fora, seguido por outro retângulo com um neandertal do lado de fora e um pequeno círculo acima dele. Aparentemente, seria a cobrança de um lateral;
10º) Três neandertais dentro de um retângulo, uma linha dividindo a figura geométrica no ponto exato do último deles e um neandertal muito grande do lado de fora da figura, com um dos braços levantados. Seria a regra do impedimento?
11º) Duas balizas, um pequeno círculo ao lado delas e a uma mulher neandertal logo acima. Pelos costumes da época, descobertos em outras pesquisas, os arqueólogos desconfiam que se trate da representação de um gol, e de que seu autor se daria bem depois da partida.
Quase trinta anos se passaram desde a descoberta. Durante todo este tempo, cientistas discutiram quais seriam as implicações éticas da clonagem dos neandertais a partir do DNA encontrado nos fósseis das escavações na Espanha.
Bobagem. Essa discussão já foi superada. Depois de assistir aos jogos da Copa do Mundo da África do Sul, desconfio que algum cientista mal-intencionado tenha realizado a façanha e distribuído seus resultados entre as seleções, afinal, os brucutus nunca foram tantos e tão fortes. Como nas pinturas rupestres, o drible não existe e a falta não é regra. Só não entendo por que também não copiaram a regra dos bandeirinhas na linha fundo. Haja coração e canelas, amigo!