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Terça-feira,
15/3/2011
Baudelaire, um pária genial (parte final)
Jardel Dias Cavalcanti
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Esta resenha é dedica ao Luiz Dantas, que foi professor apaixonado de literatura francesa da Unicamp, in memoriam.
Em As Flores do Mal, livro claramente influenciado por Victor Hugo, Sainte-Beuve, Gautier, Joseph de Maistre, Quincey e Allan Poe, o poeta conjuga sua extrema maestria no domínio dos versos com rimas atordoantemente incandescentes. Os grandes escritores franceses são unânimes na admiração pelo livro. Ali encontram quase que a biografia de Baudelaire: "seu spleen, seu gosto pela errância e pela solidão na multidão, suas abjurações, suas blasfêmias, seus paradoxos, sua assustadora lucidez".
O livro é lançado em 25 de junho de 1857 e já em 5 de julho do mesmo ano aparece no jornal Le Figaro uma denúncia virulenta contra As Flores do Mal. Gustave Bourdin, genro do dono do jornal, ataca o livro por sua imoralidade, monstruosidade: no livro, ele diz, "o odioso está ao lado do ignóbil; e o repugnante se alia ao infecto". Não bastasse a crítica, o Ministério Público aceita um relatório da Segurança Pública criminalizando o livro por seus poemas que "desafiam as leis que protegem a religião e a moral" e é "a expressão da lubricidade mais revoltante". Outro artigo aparece no mesmo jornal, no dia 12 de julho, agora falando dos "horrores de ossário expostos a frio e de abismos de imundíces vasculhadas com as mãos e as mangas arregaçadas, que deveriam mofar numa gaveta maldita".
Baudelaire se defende dizendo que se sente "muito orgulhoso de ter produzido um livro que apenas emana terror e o horror do mal". Mas o Ministério Público manda apreender o livro e instaura uma ação judicial contra o autor e seu editor.
O poeta acha de uma burrice enorme a condenação de treze de seus poemas, pois o livro, diz ele, "deve ser julgado no seu conjunto, quando então transparece uma terrível moralidade". E diante da torpeza dos seus críticos diz: "Meu erro foi ter contado com a inteligência universal e não ter feito um prefácio no qual poderia ter formulado meus princípios literários e afastado a questão da Moral". Algo que Oscar Wilde fez no prefácio de seu livro O retrato de Dorian Gray, mas que não resolveu nada.
Para se defender Baudelaire recorre à sua amiga Madame Sabatier, numa carta que descreve seus juízes como "abominavelmente feios e monstruosos". Pede-lhe que interceda por ele e evoca Flaubert que, diante do mesmo tribunal, fora absolvido depois da perseguição ao seu livro Madame Bovary. Lembra a Sabatier que muitos dos poemas condenados são dedicados a ela, poemas que o Ministério Público achou ultrajante à moral pública.
Baudelaire se apresenta diante da 6ª Vara Correcional de Paris em 20 de agosto de 1857. A acusação do procurador imperial é de que algumas poesias do seu livro são uma ofensa à moral pública e religiosa, e que Baudelaire "errou ao escrever poemas licenciosos e contrários aos bons costumes". Várias páginas são condenadas como nefastas e obscenas, e alguns versos, por isso, são absolutamente inadmissíveis.
O livro não é condenado como um todo; se exige apenas o expurgo de alguns poemas. O procurador, Ernest Pinard, um funcionário visivelmente dividido entre sua própria consciência e o dever, pede aos juízes que sejam indulgentes com Baudelaire, "um espírito atormentado, inquieto e sem equilíbrio".
A defesa é feita por Chaix d'Est-Ange, que relembra ao júri toda a história da literatura ousada: Dante, Molière, La Fontaine, Voltaire, Balzac, Musset, Gautier, Sand, Lamartine e Barbey d'Aurevilly, escritor católico, que fez um texto elogioso às Flores do mal e que fora colocado à disposição dos juízes. A lógica da defesa é que se nenhum desses escritores fora condenado por imoralidade, não há razão para condenar Baudelaire.
Baudelaire não se livrou da condenação, anunciada no mesmo dia: o tribunal ordena que seis poemas do livro sejam suprimidos e que seja paga uma multa de trezentos francos. Para que os leitores do Digestivo Cultural possam se deliciar com essas pérolas da licenciosidade, anote-se a lista dos poemas proibidos: "Lesbos", "O Letes", "As metamorfoses do vampiro", "As jóias", "À que está sempre alegre" e o poema sem título que começa com o verso "À tíbia luz das lamparinas voluptuosas".
Como sempre acontece com as delícias proibidas, no dia seguinte uma multidão correu para comprar As Flores do Mal para conhecer os poemas proibidos. Os cafés e restaurantes frequentados por amigos de Baudelaire se tornaram imediatamente palanques para que os poemas fossem recitados aos brados.
Dias após a condenação, Baudelaire recebe uma carta de Victor Hugo dizendo que a condenação é uma coroa de honra pela qual ele apertava a mão do poeta. Com estas palavras em mente, Baudelaire desiste de recorrer à justiça.
O poeta agora se ocupa de um fato novo: a musa de seus sonhos eróticos, a impenetrável e idealizada Madame Sabatier, se entrega a ele no pequeno hotel da rue Jean-Jacques-Rousseau e declara seu amor absoluto a Baudelaire, que também lhe diz que a ela ele pertencera de corpo, espírito e coração, desde o dia em que a encontrara pela primeira vez.
No entanto, aquela paixão platônica, elaborada pela mente lasciva de Baudelaire, que exaltava e adorava uma mulher inacessível, desmorona em apenas algumas horas. Ela se tornara apenas uma mulher comum, como as outras que estiveram entre seus braços e com quem desajeitadamente fizera amor. O poeta perdeu a fé no amor e nas mulheres dignas de respeito. Ele teme a paixão e anota: "O que eu sei é que tenho horror da paixão ― porque a conheço, com todas as suas ignomínias". Então, ele foge.
Baudelaire agora anuncia seu interesse por redigir reflexões sobre a caricatura, dedicando-se a pensar o trabalho dos franceses e estrangeiros. Dedica-se a escrever sobre Daumier, "um dos homens mais importantes da arte moderna" e ainda sobre Grandville e Garvani, se dedicando ainda a pensar os estupendos Goya e Hogarth.
Em seguida publica um artigo no L´Artiste sobre Madame Bovary, de Flaubert, livro julgado como imoral como o seu próprio livro e considerado pelo poeta como uma verdadeira obra de arte. Em seguida escreve à imperatriz Eugénie, pedindo a remissão da multa a que fora condenado, pois "a soma ultrapassa as faculdades da proverbial pobreza dos poetas".
Meses depois começa a entrar em depressão, não se importando mais com o sucesso do seu livro ou o ódio dirigido a ele. Sente-se entediado e sem possibilidade de encontrar "um divertimento qualquer". Desesperado por dívidas e problemas estomacais, acredita que só um violento envolvimento com o trabalho o curará.
Em janeiro de 1858, volta a se sentir bem, pois recebe do Ministro da Instrução Pública cem francos para traduzir Novas histórias extraordinárias de Edgar Allan Poe e a Vara Criminal reduz sua multa para cinquenta francos. Além disso, tem vários projetos pela frente, como traduzir Confissões de um comedor de ópio, de Thomas de Quincey e escrever sobre os pintores "que pensam".
Depois da crise com Madame Sabatier, revive a relação com Jeanne, cada dia mais decadente, devastada pelo vinho vagabundo, que bebe a qualquer hora do dia. Também Baudelaire está em processo doloroso, com dores nas pernas, no estômago, com dificuldades de respiração. Se remedia exagerando no ópio e no éter.
Mesmo sofrendo, jamais abandona o trabalho, dedicando-se aos seus poemas em prosa, correções dos poemas de As Flores do Mal, traduções de Poe e artigos literários. Sua mente se fixa em Théophile Gautier, sobre quem escreve um ensaio e a quem por profunda admiração dedicara seu livro de poemas, seu "caríssimo e veneradíssimo mestre e amigo". Venera em Gautier o escritor delicado e aristocrata, ama sua paixão pelo belo e seu estilo primoroso. Para ele, Gautier "é incontestavelmente igual aos maiores do passado, um modelo para os que virão, um diamante cada vez mais raro numa época ébria de ignorância e de matéria, isto é, um perfeito homem de letras". Sobre ele, ainda diz:
"Se pensarmos que, a essa maravilhosa faculdade, Gautier reúne uma imensa inteligência inata da correspondência e do simbolismo universais, esse repertório de toda metáfora, compreenderemos que ele possa sem cessar, sem fadiga tanto quanto sem erro, definir a atitude misteriosa que os objetos da criação apresentam ante o olhar do homem. Há no vocábulo, no verbo, algo sagrado que nos proíbe de fazer dele um jogo do acaso. Manejar doutamente uma língua é praticar uma espécie de feitiçaria evocatória".
Em 1859, com 38 anos, Baudelaire está em Paris, publicando a segunda edição de As Flores do Mal, agora com poemas inéditos, e ainda publica uma coletânea de ensaios e Paraísos artificiais, além de visitar rapidamente o Salão de Belas Artes, sobre o qual escreverá pouco depois, se valendo apenas da memória e comentando quadros que nem havia visto.
O fotográfo Nadar, dentro de seu espírito trocista, decide caricaturar Baudelaire no Journal Amusant. E o faz representando um pai horrorizado por encontrar sua filhinha lendo As Flores do Mal. Outra caricatura de Nadar representa o poeta diante de uma carniça, como referência ao seu poema homônimo. Baudelaire escreve ao fotógrafo dizendo-se irritado por ter sido representado como "o príncipe das carniças".
Nessa época, Baudelaire se arma contra o realismo e a fotografia e defende a ideia de que o artista não deve se preocupar com o real, ataca Champfleury e Millet. Faz a apologia da imaginação, rainha das faculdades humanas, única no indivíduo, aparentada com o infinito: é a imaginação que ensina ao artista "o verdadeiro sentido da cor, do contorno, do som e do perfume". Acredita que somente Fromentin, Boudin, Charles Méyron (o água-fortista) e Delacroix são os artistas imaginativos do Salão de 1859.
A saúde do poeta, no entanto, declina, e a sífilis o consome inexoravelmente. Ele sente dores de cabeça, náuseas e vertigens, sempre à beira de um desmaio. O láudano o ajuda a suportar tudo isso.
Um acontecimento faz tremer a sensibilidade de Baudelaire. É a apresentação de Tannhäuser, de Richard Wagner. "Baudelaire vai ouvir a música de Richard Wagner e experimenta um dos maiores prazeres de sua vida ― um arrebatamento que não sentia há uns quinze anos". A presença de Wagner em Paris sempre foi tormentosa, polêmica, contraditória, criando os wagnerianos e os antiwagnerianos. Nerval e Gautier são os maiores adoradores de Wagner, e Baudelaire não fica menos comovido que eles. Revoltado com a difamação que Wagner sofre em Paris, o poeta decide enviar uma carta ao gênio alemão e um artigo sobre sua ópera. Baudelaire assiste à ópera Tannhäuser, montada em francês, no dia 13 de março de 1861, e se apressa a escrever seu estudo sobre Wagner trabalhando quase 24 horas por dia durante uma semana extenuante.
Seu texto expõe claramente sua admiração pela obra de Wagner: "Nenhum músico supera Wagner na pintura do espaço e da profundidade, materiais e espirituais. Ele possui a arte de traduzir, por meio de gradações sutis, tudo o que há de excessivo, imenso, ambicioso, no homem espiritual e natural. Parece às vezes, ao escutarmos essa música ardente e despótica, que reencontramos pintadas sobre o fundo das trevas, dilacerado pelo devaneio, as vertiginosas concepções do ópio".
Para viver, Baudelaire precisa da grande arte, para suportar o peso da existência ele precisa do mergulho nas obras de Victor Hugo, Balzac, Delacroix e, agora, Wagner. "A arte, a música e a literatura o ajudam a vencer seu medo de morrer sem ter realizado tudo o que tem para fazer". Pressentindo seu próprio fim, tece a seguinte reflexão:
"Mas a Morte, que não consultamos sobre os nossos projetos e a quem não podemos pedir consentimento, a Morte, que nos deixa sonhar com a felicidade e a fama e que não diz sim nem não, sai bruscamente da sua emboscada e varre com um golpe de asas nossos planos, os nossos sonhos e as arquiteturas ideais nas quais abrigávamos em pensamento a glória de nossos últimos dias".
Baudelaire parece aproximar-se do catolicismo e Flaubert fica perplexo ao encontrar em Paraísos artificiais passagens onde sente soprar o "espírito do mal". Baudelaire é criticado por esse germe de catolicismo em sua obra pelo autor de Madame Bovary.
Baudelaire tem vivido nestes últimos anos mal, sem dinheiro, endividado, dependendo de encomendas de artigos e da publicação de suas obras que não lhe rendem o suficiente. "Baudelaire não tem mais energia. Inúmeras ideias negras lhe passam continuamente pela cabeça, tornando-o cada vez mais neurastênico e sombrio, e ele se pergunta seriamente se a morte não deveria vir livrá-lo de todas as dificuldades, de todos os males, de sua longa miséria".
A poesia revela seu desejo de morte: "Ó Morte, velho capitão, é tempo!/ (...) Verte-nos teu veneno, ele é que nos conforta!/ Queremos, tanto o cérebro nos arde em fogo,/ ir ao fundo do abismo, Inferno ou Céu, que importa?/ Para encontrar no ignoto o que ele tem de novo".
Em 1861 encontra algum consolo com a reedição de As Flores do Mal, com mil e quinhentos exemplares, quatro anos depois da primeira edição, agora com 129 poemas, ainda sem os seis proibidos pelo tribunal. Os novos poemas traduzem a situação do poeta: "Esses poemas são apenas mais confissões sulfurosas em que o poeta aparece cada vez mais dependente de drogas, cada vez mais obcecado pela morte e cada vez mais consciente de estar à mercê do obscuro e do incerto".
No novo livro, aparece uma seção denominada "Quadros parisienses". O título diz respeito ao amor de Baudelaire por Paris, sua cidade natal, lugar de fascínio, possibilidade de sonhos, inspiração e iluminações intensas.
Apesar de tomado por manchas na pele, reumatismos, náuseas, pesadelos e desmaios, não abandona o projeto de seus poemas em prosa, de escrever sobre o dandismo e publicar artigos. Apesar de seu caráter impopular, ele publica quando quer, pois todos o reconhecem já como uma força literária viva da França.
Aos 40 anos, chega-se a cogitar de sua entrada na Academia Francesa, porque, afinal, o poeta sempre parecera um "escritor clássico, apaixonado pelo classicismo, mesmo quebrando as regras habituais da versificação". Baudelaire faz campanha entre seus pares: Flaubert, Lamartine, Alfred de Vigny. Os jornais debocham da candidatura, dizendo que o poeta cria obras que cheiram a matadouro e que se deve ler sua obra com uma mão tampando o nariz.
Sainte-Beuve publica um artigo contraditório comentando a situação difícil de Baudelaire, um ser que se edificara num extremo inabitável, esquisito, muito ornado, atormentado, mas gracioso e misterioso. Em Baudelaire lemos Poe, diz Sainte-Beuve, nos embriagamos de haxixe, ópio e outras drogas abomináveis. Títulos para uma eleição? O poeta é excêntrico, mas ao contrário da opinião pública que o vê como frequentador de puteiros, bêbado, de uma feiúra repulsiva e mal-cheiroso, "ele é um rapaz gentil, fino na linguagem e absolutamente clássico nas formas". Seguindo o conselho de Sainte-Beuve, Baudelaire retira sua candidatura sentindo-se desonrado e é eleito para a cadeira o duque Albert de Broglie (alguém o conhece?).
Frente à adversidade da vida só lhe resta escrever, escrever. Lê Os Miseráveis de Victor Hugo e diz que o livro serve para provocar o espírito de caridade, e escreve ao autor dizendo que ele é um gênio elevado. Mas diz aos outros que cansou-se dos homens de letras e que um grande homem pode ser um grande tolo também. Só reconhece Flaubert, Gautier e Aurevilly, passando a odiar os outros escritores.
Seu editor, Poulet-Malassis, é detido por falência e Baudelaire se vê perdido financeiramente e pensa em sair da França. Já planeja ir para a Bélgica quando recebe a notícia da morte de Delacroix e se sente na obrigação de lhe dedicar um apaixonado estudo, chamando atenção para a pintura e os escritos do gênio romântico: "Tanto estava seguro de escrever o que ele pensava sobre uma tela quanto estava preocupado por não poder pintar seu pensamento no papel".
Antes de ir para Bruxelas ainda tem tempo de redigir um texto sobre o pintor Constantin Guys, intitulado "O pintor da vida moderna". Nele o poeta vê o artista capaz de "extrair o eterno do transitório", de "registrar através de seus desenhos, suas aguadas e aquarelas a beleza passageira e fugaz da vida presente".
Recebe um convite de Victor Hugo para uma comemoração do tricentenário de Shakespeare e recusa o convite dizendo que era absurda a comemoração, já que ninguém comemorava na França Chateaubriand e Balzac. Ainda se predispõe a escrever um artigo ao Le Figaro dizendo que a comemoração é apenas a preparação para o lançamento de um livro de Hugo sobre Shakespeare, cheio de delicadezas e besteiras. Diz recusar estar num mesmo ambiente onde se brinda Jean Valjean, a abolição da pena de morte, a fraternidade universal, Jesus Cristo, Ernest Renan e "todas as estultices próprias a esse século XIX", a ainda onde não haverá belos ombros, belos braços e belos rostos, pois as mulheres foram excluídas da festa.
Baudelaire corre para a Bélgica, onde dá palestras sobre Gautier, Quincey e Delacroix. Mas tudo se torna um fracasso: as conferências mal ouvidas e mal pagas, a cidade, as relações estabelecidas. O poeta inventa uma nova doença: belgofobia. Decide exibir seu ódio à Bélgica e à Bruxelas numa obra que anuncia: A grotesca Bélgica e a capital dos macacos.
Passeando com Félicien Rops, artista belga, Baudelaire tem uma crise de vertigens, terminando incapaz de mexer os membros e incapaz de pronunciar uma frase coerente, tendo toda a parte direita do corpo paralisada. Em 3 de abril de 1866, afásico e apoplexo, é levado ao hospital. É remanejado para um hotel, onde recebe sua mãe, a Sra. Aupick, com 63 anos, que o conforta. Melhora ao ponto de poder fazer caminhadas por arredores de Bruxelas. Volta depois com a mãe para Paris, levando na bagagem seus livros e manuscritos. Está com os cabelos embranquecidos, usando uma bengala para se mover e cadavérico. Seus amigos Mérimée, Saint-Beauve e Sandeau fazem uma petição ao Estado para dar uma pensão ao poeta, por seus trabalhos na área da cultura, que é concedida. O poeta passa seus últimos dias na cama recebendo Nadar, Banville, Champfleury e Sabatier. Já sua amada Jeanne desaparecera de Paris há um ano, ninguém sabendo de seu paradeiro.
Baudelaire vai se tornando distante, falando apenas monossílabos com voz trêmula. Sua mãe não larga sua mão, "esperando em silêncio que os anjos passem". No dia 31 de agosto de 1867, Baudelaire morre nos seus braços, aos 46 anos, talvez ainda sem ela saber que colocou no mundo um dos maiores gênios das letras francesas.
(Nota 1: Todas as citações ente aspas são retirada do livro que estamos resenhando nas várias partes deste texto: Baudelaire, de Jean-Baptiste Baronian.
Nota 2: Prometo aos leitores do Digestivo, em futuro breve, um texto sobre como Baudelaire foi interpretado por alguns dos grandes leitores da sua obra, que foram Proust, Gautier, Sartre e Walter Benjamin).
Jardel Dias Cavalcanti
Londrina,
15/3/2011
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