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Terça-feira, 26/4/2011
Perfil Indireto do Assassino
Duanne Ribeiro
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É significativo que após os assassinatos do Realengo se tenha citado com frequência Tiros em Columbine, documentário de Michael Moore, e pouco, ou nada, Elefante, de Gus Van Sant. Ambos inspirados na tragédia americana análoga, no colégio Columbine, em 1999, os dois filmes divergem no modo como tratam seu objeto. Moore segue em uma investigação das raízes do massacre na sociedade que o produziu. Essa análise foi aplicada ao Brasil em textos como "Nenhuma escola é ilha", por exemplo. Já Van Sant não tenta responder nada; apenas exibe. Aquém do engajamento que Tiros em Columbine parece nos exigir e além do melodrama jornalístico convencional, Elefante funciona com uma sensibilidade mais sutil.

Sensível não como suscetível à emoção fácil, mas por estar aberto mesmo à percepção do insignificante. A sutileza existe sem sagacidade, na observação do simplório. O que vemos é uma sequência de histórias, dramas típicos e/ou irrelevantes de adolescentes. A rotina dá a tudo um gosto tremendo de dia comum, o que só ressalta o absurdo do massacre que ― nós sabemos, nós sempre o temos em vista ― irá acontecer. O ritmo é lento, e a câmera sempre acompanha os personagens, os persegue enquanto andam, mesmo por longos percursos. É estranho que frequentemente se possa querer que algo aconteça, porque isso significa uma certa ansiedade pelo que há de mais negativo na história. A única escalada seria em direção à chacina, à dor. No entanto: que chato, não acontece nada!

O espectador ansioso pode nesta parte compartilhar um sentimento atribuído aos assassinos de Columbine: seriam insensíveis à violência (por causa de videogames). Caso não consiga, pode ao menos perceber o esforço de Van Sant em evitar de toda forma o clímax. Não há o ponto alto, no qual ocorre o desenlace macabro. Até certo ponto nem mesmo sabemos quais daqueles jovens são assassinos ou não. Quando vemos o par criminoso, não há drama sobre suas personalidades, sua queda gradual, um momento decisivo que causou a desgraça: eles avançam à escola armados de bombas e metralhadoras, e é isso.

O filme retrocede. Noutro ponto, vemos por instantes uma sala já cheia de corpos, um diretor sendo ameaçado. Mas é só, como se descontruíssemos a curiosidade, o interesse. Voltamos. Quando se chega enfim ao ato cruel, ele é muito mais a morte seca e sem sentido de indefesos.

Resta só a identificação tênue que criamos com os personagens que acompanhamos. Nisso há dois efeitos interessantes. Em um primeiro momento, quando não sabemos quem são os vilões, podemos especular. O primeiro garoto: o pai é um bêbado, só lhe dá problemas, por causa dele o diretor da escola deixa o rapaz em detenção; ele deve ser um dos assassinos, os problemas explicam. Essa nerd na aula de educação física: a professora quer obrigá-la a usar bermudas, mas ela tem vergonha de seu corpo, as meninas a chamam de estranha, ela podia ser a assassina. Esse garoto que tira fotos de tudo: ele é estranho e introspectivo. E estamos sucessivamente errados se seguirmos essas interpretações. Somos apresentados aos assassinos e só aí passamos a saber sobre suas vidas, conhecendo suas atitudes a partir do ponto de vista do crime consumado. Os olhares premonitório e retroativo veem o que querem. Elefante só acompanha.

O segundo efeito interessante é que podemos ser levados a julgar os personagens. A menina com vergonha de correr de shorts, recém-admitida como voluntária na biblioteca, isto é, ela é esforçada e frágil, ela não mereceria morrer. Mas morre. Essas três patricinhas, vomitando o que comeram no almoço de quinze minutos atrás, indo em direção a uma saudável anorexia ― fúteis de um modo quase caricato: elas, sim, mereceriam morrer. E morrem também. O que não há é o critério racional ou emocional guiando os assassinatos.

No lado oposto, das pessoas que escapam, duas tem um caráter especial. Uma delas, um garoto que caminha pelo corredor, como que sem medo. Mesmo a coragem dele, se existe, nada significa, e ele só permanece vivo pela sorte. A segunda, uma garota que entra no banheiro quando as três frívolas acima citadas limpam as bocas. Ela observa e não diz nada a elas; ou porque pensa que farão barulho e a denunciarão, ou porque não gosta delas. Tranca-se em uma divisória, e é precisamente seu egoísmo que a salva ― a indiferença pela vida alheia, a relevância gritante da sua própria. E qual de vocês, leitores, pode afirmar que na mesma situação faria diferente?

As unhas de Saramago
Mesmo que se possa explicar as poucas referências a Elefante ao fato de ser uma obra não muito conhecida, quero acreditar que se trata também de uma escolha de abordagem. Tiros em Columbine identifica culpados e vislumbra ações políticas que nos dariam a capacidade de evitar tragédias semelhantes no futuro. A produção de Gus Van Sant no máximo define os limites de um mistério, no qual não penetramos e através do qual o que vemos é, no mais das vezes, o que está em nós mesmos. Se olharmos tempo demais o abismo, perceberemos, como em um O Alienista soturno, que há sinais de assassino em todos nós?

Se se puder responder positivamente a essa pergunta, a questão que emerge é, então, qual a distância entre qualquer um e Wellington. Não uma diferença de tipo, mas de posição numa escala. A problemática se torna mais clara se a pensarmos por outro ângulo, exposto em uma crônica de A Bagagem do Viajante, livro de José Saramago. O escritor português conta a história de um homem que adoeceu gravemente, e se descobre que a causa era simplesmente a falta de corte das unhas dos pés. Saramago escreve: "E quando perguntaram a este homem adulto por que não cortava ele as unhas, que o mal era só esse, respondeu: Não sabia que era preciso".

Ainda: "As unhas foram cortadas. Cortadas a alicate. Entre elas e cascos de animais a diferença não era grande. No fim de contas (pois não é verdade?), é preciso muito trabalho para manter as diferenças todas, para alargá-las aos poucos, a ver se a gente atinge enfim a humanidade. Mas de repente acontece uma coisa destas, e vemo-nos diante de um nosso semelhante que não sabe que é preciso defendermo-nos todos os dias da degradação. E neste momento não é em unhas que estou a pensar".

O que Saramago tem em mente? Gosto de pensar que Gus Van Sant, em Elefante, percebe que a degradação pode ser desencadeada por um único passo fugaz; e é por isso que observa seus personagens com delicadeza. E, em um nível difícil, com empatia. "I saw the werewolf, and the werewolf was crying.".


Duanne Ribeiro
São Paulo, 26/4/2011

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