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Sexta-feira, 28/10/2011
A cabeça de Steve Jobs
Marcelo Spalding
+ de 5700 Acessos

Repita-se um clichê: Steve não morreu. Ou melhor, não poderia morrer. O homem que revolucionou o mundo dos computadores pessoais, depois o cinema de animação e finalmente reinventou a forma de toda uma geração de ouvir música, lidar com seu aparelho celular, ler livros, sites, revistas e jornais e navegar na internet não poderia morrer. Fosse este homem audacioso, ríspido, meticuloso, egoísta, individualista, este homem não poderia morrer. Mas dia 05 de outubro deste ano, com apenas 56 anos, Steve Jobs morreu.

O legado de Jobs é imensurável e só será sentido ao longo das próximas décadas. Alguns um tanto exagerados já o compararam a Leonardo da Vinci. Outros nem tão exagerados, a Thomas Edison. O pessoal do design diz que Jobs está para o design assim como Henry Ford esteve para a produção. O fato é que há poucas empresas na história capazes de mobilizar uma multidão tão grande de fiéis — e outra ainda maior de clientes — e muito dessa paixão tinha a ver com o carisma do grande líder falecido neste outubro.

Bem, mas esta coluna não é uma homenagem a Jobs nem a retomada de sua biografia, tantas outras assim são escritas quando morre um ídolo (sim, Jobs conseguiu tornar-se ídolo num tempo de Ronaldinhos e Lady Gagas, um ídolo raro para a geração digital, um primeiro símbolo para toda uma indústria que vai chegando a sua segunda geração). Esta coluna vai tratar do melhor livro publicado sobre Jobs no Brasil até agora, "A cabeça de Steve Jobs" (Agir, 284p.).

A obra é uma biografia não-autorizada (particularmente sempre desconfio de biografias autorizadas) escrita por um jornalista muito bem informado a respeito da Apple, Leander Kahney. Sete dos nove capítulos trazem supostos traços fortes da personalidade de Jobs como título, servindo de ponto de partida para abordar aspectos mais amplos do trabalho do CEO na Apple. Começa pelo "Foco" e vai até o "Controle Total", passando pelo "Despotismo", "Perfeccionismo", "Elitismo", "Paixão" e "Espírito Inventivo". O capítulo sete, chamado "Estudo de caso", trata do iPod, enquanto o nove aborda "A batalha de Jobs contra o câncer". Este último foi acrescentado apenas na segunda edição e chega a mencionar como seria a Apple sem Jobs, mas de forma muito superficial.

Pelos títulos se pode imaginar que a obra realce aspectos controversos, verdadeiros defeitos de personalidade, desmitificando o mito. Mas não, o ponto forte do livro é exatamente que Leander Kahney consegue evitar a louvação a Jobs, retomando algumas críticas e episódios que não estariam numa biografia autorizada, mas também respeitando o tamanho do biografado e sua genialidade sem par no mundo do design e da tecnologia.

"Jobs dirige a Apple com uma mistura peculiar de arte intransigente e soberbo talento para negócios. Ele é mais um artista do que um homem de negócios, mas tem a brilhante capacidade de capitalizar sobre suas criações. (.) Jobs pegou seus interesses e os traços de sua personalidade — obsessão, narcicismo, perfeccionismo — e transformou-os nas marcas registradas de sua carreira."

O que incomoda no livro é um viés de negócios que poderia ser suprimido pelo bem do texto (não sei se das vendas). Já na capa o subtítulo é "as lições do líder da empresa mais revolucionária do mundo". E no final de cada capítulo temos um pueril "Lições de Steve", reduzindo complexos pensamentos (e mesmo um trabalho capítulo) em meia dúzia de palavras para serem xerocadas por executivos mal preparados e distribuídas entre os seus funcionários.

Vejamos o caso do Capítulo 3, "Perfeccionismo: design de produtos e a busca da excelência", obrigatório para estudantes e profissionais de design. O capítulo inicia mostrando como dois jovens dentro de uma garagem puderam criar computadores que hoje são tidos como os primeiros computadores pessoais, competindo com uma gigante como a IBM: "a cruzada pró-design de Jobs começou com o Apple II, que saiu da prancheta pouco depois da incorporação da empresa, em 1976. Enquanto Wozniak (amigo e sócio de Jobs no início da Apple) trabalhava no hardware pioneiro, Jobs concentrava-se no gabinete. Não havia ninguém colocando computadores em gabinetes deplástico. Para ter uma ideia da aparência que ele teria, Jobs começou a frequentar lojas de departamento em busca de inspiração. Encontrou-a na seção de cozinha do Macy's quando examinava processadores de alimentos de plástico moldado com bordas suaves, cores discretas e uma superfície levemente texturizada".

Oo sucesso galopante do Apple II fez Jobs levar a sério, como nunca, o design industrial. Nas palavras de Kahney, "o design era um diferencial determinante entre a filosofia 'amigável ao consumidor' e 'funciona logo que sai da caixa' da Apple e a embalagem utilitária e básica dos primeiros rivais, como o PC da IBM".

Outro capítulo de grande interesse, aí para os apaixonados pela Apple e para os estudantes  de administração e administrados em geral, é o primeiro, sobre o "Foco". Ali é contada a impressionante história de recuperação da Apple a partir da volta de Jobs ao comando da empresa. Sim, hoje pode parecer absurdo, mas em 1985 Jobs foi demitido da Apple, "por ser considerado irredutível e incontrolável", e diga-se que a empresa seguiu crescendo sem ele: "em 1994, a empresa detinha quase 10% do multibilionário mercado mundial de computadores pessoas".

A empresa, porém, queria ainda mais: "queria ser como a Microsoft. Licenciou o sistema operacional do Macintosh para vários outros fabrincantes, entre os quais a Power Computing, a Motorola, a Umax e outros. O raciocínio dos executivos da Apple era de que essas máquinas 'clonadas' fariam crescer a participação de mercado dos Macs.  Só que isso não funcionou. O mercado de Macs permaneceu relativamente inalterado, e os fabricantes de clones tiraram vendas da Apple. Enquanto isso, o novo sistema operacional da Microsoft, o Windows 95, estava em rápida ascenção. Os críticos disseram que o Windows 95 era a cópia mais vergonhosa já feita pela Microsoft do sistema operacional do Mac. Os consumidores da Microsoft, contudo, não ligaram. (.) Nos primeiros três meses de 1996, a Apple relatou um prejuízo de 69 milhões de dólares e demitiu 1300 funcionários". E foi aí que Jobs voltou à cena da empresa.

Era julho de 1997, a Apple estava "numa espiral mortífera, a seis meses da falência". Em uma reunião de executivos, conta Kahney que Jobs entrou na sala parecendo um mendigo, de bermuda, tênis e barba por fazer, jogou-se em uma cadeira e disse: "Me digam o que há de errado nesse lugar". Antes que qualquer um pudesse responder, explodiu: "São os produtos. Os produtos são uma bosta! Já não tem mais sexo neles".

O retorno de Jobs, como se sabe, não apenas salvou a Apple como tornou-a uma das empresas mais valiosas do mundo (segundo valor de mercado), muito a frente de Google, Microsoft, IBM e Dell. A frente mesmo de Coca-Cola, Disney e McDonald's. Uma ação da Apple valia em torno de US$ 20,00 em 1985; chegou à casa dos US$ 13,00 no fatídico julho de 1997; já beirava os US$ 100 dez anos depois, em 2007; e valiam incríveis US$ 397,00 em agosto de 2011. Ou seja, quem tivesse investido US$ 100 mil na Apple em julho de 1997 teria, hoje, mais de US$ 3 milhões de dólares.

Segundo Kahney, a coisa mais importante feita por Jobs foi simplificar radicalmente a linha de produtos da Apple, descontinuando diversos projetos, até mesmo um handlet que seria o precursos do iPad: "em seu modesto escritório, Jobs desenhou uma tabela muito simples de dois por dois no quadro branco. No topo escreveu 'Consumidor' e 'Profissional', e na lateral 'Portátil' e 'Desktop'. Aí estava a nova estratégia de produtos. Apenas quatro máquinas."

No capítulo 7, em "Um estudo de caso", Kahney propõe mostrar como tudo foi reunido para a criação do iPod. Por tudo entende-se a experiência de Jobs na Apple e fora dela, a experiência da própria Apple, conceitos contemporâneos de tecnologia, design e entretenimento. A leitura do capítulo é muito interessante porque revela parte dos bastidores da criação de um produto fantástico como o iPod, sobre o qual alguns analistas achavam que era possível que fossem vendidos 500 milhões de iPods antes que o mercado estivessem saturado, o que o transformaria num candidato ao recorde como eletrônico de consumo de massas de todos os tempos (o atual recordista é o Walkman, da Sony, que vendeu 350 milhões de unidades entre 1980 e o início dos 1990). O número, hoje, parece que não será atingido, mas o motivo é que depois do iPod a Apple mudou o próprio mercado com o iPhone e o iPad.

Nesse aspecto, é uma pena que o quando Kahney tenha publicado a edição atual do livro o iPhone fosse apenas uma grande promessa recém lançada e o iPad não esistisse nem na imaginação do autor (talvez na de Jobs), sendo mesmo o iPod sua principal referência para louvar o ídolo nesse retorno estrondoso ao mundo da tecnologia.

Jobs, enfim, merece uma biografia mais consistente, que traga mais traços de sua personalidade criativa e menos de seus arroubos gerenciais (assim como merece um bom filme, pelo menos do naipe de "A Rede Social", pois nem se compara a biografia de Steve com a de Mark). E sem dúvidas muitas serão escritas a partir de agora. Enquanto isso, porém, o trabalho de Leander Kahney permite que os milhões de órfãos aproximem-se de seu ídolo através das páginas do livro, conhecendo-o um pouco melhor. E lamentem, a cada página, que Steve tenha morrido. Há homens que não poderiam morrer.



Marcelo Spalding
Porto Alegre, 28/10/2011

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