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Segunda-feira,
30/4/2012
Corrupção ou esperança
Daniel Bushatsky
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Quando pensei o que escrever neste mês, na minha coluna no Digestivo , me veio a palavra corrupção. Estava impressionado os inúmeros casos que estão sempre noticiados nos mais diversos veículos de comunicação, que mostram um Brasil representado, em sua maioria, por pessoas despreparadas e egoístas, agindo em proveito próprio e não na imensa população carente deste país.
A idéia de escrever sobre o tema foi reforçada pelas irônicas e paradoxais frases do Millôr Fernades: "Essa gente que fala o tempo todo contra a corrupção está apenas cuspindo no prato em que não comeu". E completa o pensador: "Acabar com a corrupção é o objetivo supremo de quem ainda não chegou ao poder". Não é de parar e refletir? Todos são corruptíveis?
Outra idéia sobre o tema, levantada pelo filósofo, com seu humor crítico de sempre, é que a corrupção é boa, pois faz o país ir para frente. Ou seja, ruim com ela, pior sem ela?
Quando fiz a pesquisa e elaborei o tema dentro de mim, saí com um casal de amigos para assistir ao musical "Família Adams" (que é muito bom e recomendo), sátira bem humorada do que consideramos a vida perfeita, do que é certo e do que é errado e do modelo que a sociedade criou para a família burguesa, comecei a pensar em outra forma de corrupção, quando este casal me contou uma história horripilante.
Horas antes, naquele mesmo domingo ensolarado, eles estavam em uma estradinha de terra, indo para um sítio, no interior de São Paulo, perto de Campinas, desfrutar de um churrasco. Nesta estradinha, já perto do local, 5 adolescentes, armados e encapuzados, pularam na frente do carro, saindo da mata, e obrigando o motorista a parar carro.
Não só roubaram o casal, como se dividiram: três dos meliantes roubaram o carro, os outros dois tentaram empurrar o casal para dentro do mato. Para quê? Não se sabe, pois o casal, com calma, instituiu que não tinham visto o rosto de nenhum dos assaltantes, reforçando que tinham entregado todos os bens, e afirmando que não entrariam no mato, de forma alguma.
Os dois assaltantes, talvez pela resistência do casal, talvez porque começou a ter movimento de carros na estrada, desistiram. O casal voltou andando, com a cabeça baixa, sem olhar para trás, com medo que os bandidos mudassem de idéia.
Se os carros que passavam ajudaram o casal? Lógico que não. Você pararia para ajudar? Eu não!
Se a polícia resolveu o problema? Lógico que não! Só para "bater" o boletim de ocorrência demorou 2 horas, lembrando que o casal estava sem dinheiro, com fome e, com a camisa rasgada.
Se o taxi que eles pegaram para São Paulo foi misericordioso e fez um preço camarada? Lógico que não!! Cobrou o preço de "tabela".
Mas e os adolescentes que assaltaram o casal, o que queriam? Por que a insistência em levar o casal para o mato, após roubarem todos os pertences? Estuprar a menina e matar o rapaz? Conseguir a senha dos cartões? Passar um susto?
A grande corrupção que estamos vivendo hoje é a da nossa alma, do nosso espírito. As pessoas estão corrompidas internamente. Difícil achar quem não tem uma história para contar, alguém que "pegou" uma bala na padaria, não deu um "jeitinho brasileiro", não furou uma fila, e ainda não conta isto com muito orgulho! Todos os primeiros passos para que, se um dia tiverem poder, cooperarem para o aumento da corrupção. Esta corrupção é a formal. A que estou preocupado é a que diz respeito a personalidade do ser humano. Como crianças têm coragem de assaltar? O casal até que teve sorte. Não se sabe o que podia acontecer dentro daquele mato...
Como mudar isto? A resposta é fácil, porém a execução dificílima: com um governo mais sério! Vou acabar com a ingenuidade das redações de colégio, pré-vestibular: "para resolver precisamos de uma ampla reforma política, com penas severas para todos os políticos corruptos. Somente assim, conseguiremos investir em educação e saúde, criando consciência na população e lapidando as almas perdidas".
Ou um final mais realista: esperança, esperança que o Millôr esteja errado: nem todos querem chegar ao poder para desfrutar do prato delicioso que é a corrupção!
Daniel Bushatsky
São Paulo,
30/4/2012
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