Nuno Ramos, poesia... pois é | Jardel Dias Cavalcanti | Digestivo Cultural

busca | avançada
55741 visitas/dia
2,5 milhões/mês
Mais Recentes
>>> Instalação DE VER Cidade - Brasília Numa Caixa de Brincar celebra o aniversário da capital
>>> CCBB Brasília é palco para “Amazônia em Movimento”, com o Corpo de Dança do Amazonas
>>> Mentor de Líderes Lança Manual para Vencer a Ansiedade
>>> Festival Planeta Urbano abre inscrições para concurso de bandas
>>> Ribeirão Preto recebe a 2ª edição do Festival Planeta Urbano
* clique para encaminhar
Mais Recentes
>>> A vida, a morte e a burocracia
>>> O nome da Roza
>>> Dinamite Pura, vinil de Bernardo Pellegrini
>>> Do lumpemproletariado ao jet set almofadinha...
>>> A Espada da Justiça, de Kleiton Ferreira
>>> Left Lovers, de Pedro Castilho: poesia-melancolia
>>> Por que não perguntei antes ao CatPt?
>>> Marcelo Mirisola e o açougue virtual do Tinder
>>> A pulsão Oblómov
>>> O Big Brother e a legião de Trumans
Colunistas
Últimos Posts
>>> Paul Krugman on tariffs (2025)
>>> Piano Day (2025)
>>> Martin Escobari no Market Makers (2025)
>>> Val (2021)
>>> O MCP da Anthropic
>>> Lygia Maria sobre a liberdade de expressão (2025)
>>> Brasil atualmente é espécie de experimento social
>>> Filha de Elon Musk vem a público (2025)
>>> Pedro Doria sobre a pena da cabelereira
>>> William Waack sobre o recuo do STF
Últimos Posts
>>> O Drama
>>> Encontro em Ipanema (e outras histórias)
>>> Jurado número 2, quando a incerteza é a lei
>>> Nosferatu, a sombra que não esconde mais
>>> Teatro: Jacó Timbau no Redemunho da Terra
>>> Teatro: O Pequeno Senhor do Tempo, em Campinas
>>> PoloAC lança campanha da Visibilidade Trans
>>> O Poeta do Cordel: comédia chega a Campinas
>>> Estágios da Solidão estreia em Campinas
>>> Transforme histórias em experiências lucrativas
Blogueiros
Mais Recentes
>>> Machado e Érico: um chato e um amigo
>>> Palavras diurnas e noturnas
>>> Mídia Ninja coloca o eixo em xeque
>>> Reminiscências de um campeão
>>> A Piauí tergiversando sobre o fim dos jornais
>>> Reunião de pais, ops, de mães
>>> Left Lovers, de Pedro Castilho: poesia-melancolia
>>> Primeiro post:uma apresentação
>>> Uma conversa íntima
>>> Não era pra ser assim
Mais Recentes
>>> A Terrorista Desconhecida de Flanagan pela Companhia das Letras (2009)
>>> Pecar e Perdoar de Leandro Karnal pela Nova Fronteira (2014)
>>> Alfabetização Cultural de Raquel Romano pela Aquarela (2012)
>>> O Evangelho Secreto da Virgem Maria de Santiago Martin pela Mercuryo/ Paulus (1999)
>>> A Ratazana de Günter Grass pela Nova Fronteira (1986)
>>> O Advogado De Deus de Zibia Gasparetto pela Vida E Consciência (2005)
>>> O Advogado De Deus de Zibia Gasparetto pela Vida E Consciência (2025)
>>> Laços Eternos de Zibia Gasparetto pela Vida e Consciencia (1994)
>>> Tudo Tem Seu Preço de Zibia Gasparetto pela Vida e Consciência (2009)
>>> De Volta A Roland Barthes de Leyla Perrone-Moisés; Maria Elizabeth Chaves de Mello pela Eduff (2005)
>>> Eu Receberia As Piores Notícias Dos Seus Lindos Lábios de Marcal Aquino pela Companhia Das Letras (2005)
>>> Mecanismos dos Sonhos de Ademar Faria Junior pela Mnêmio Túlio (1997)
>>> Sociedade Secreta - Rosa e Túmulo Volume 1 de Diana Peterfreund pela Galera (2008)
>>> A Historia Do Mundo Para Quem Tem Pressa de Emma Marriott pela Valentina (2015)
>>> Os melhores contos de Edgar Allan Poe de Edgar Allan Poe pela Círculo do livro (1987)
>>> O problema do ser, do destino e da dor de Léon Denis pela Feb (1989)
>>> Loucura e obsessão de Divaldo P. Franco pela Feb (1997)
>>> A evolução Anímica de Gabriel Delanne pela Feb (1989)
>>> Homeopatia e espiritismo de Lauro S. Thiago pela Feb (1988)
>>> Clientividade a Arte de Falar a Linguagem do Cliente de Cesar Souza pela Best Business (2021)
>>> O Príncipe - Coleção L&pm Pocket de Maquiavel pela L&pm (2012)
>>> Paixão Por Vencer: A Bíblia Do Sucesso de Jack Welch pela Campus (2005)
>>> Os Palestinos de Marcos Margulies pela Documentário (1979)
>>> Um Soldado Brasileiro No Haiti de Tailon Ruppenthal pela Globo (2007)
>>> Garra: O Poder Da Paixão E Da Perseverança de Angela Duckworth pela Intrínseca (2016)
COLUNAS

Terça-feira, 10/4/2012
Nuno Ramos, poesia... pois é
Jardel Dias Cavalcanti
+ de 8600 Acessos

Nuno Ramos tem gosto pela palavra. É autor de Ensaio Geral, livro de quase 400 páginas, além de mais 5 obras literárias: O pão do corvo, O mau vidraceiro, Cujo, Ó (prêmio Portugal Telecom de Literatura em 2009) e Junco (livro de poesia). No seu trabalho como artista plástico, também a palavra aparece como um dos elementos principais de sua criação.

Não estranha, portanto, o fato de Nuno Ramos também ser poeta. Seu livro, que denominou Junco, foi editado pela Iluminiras em 2011. O livro reúne poemas escritos e retrabalhados desde 1996, chegando até suas produções de 2010. Junto aos poemas, o poeta publica fotografias duplas, onde aparecem, lado a lado, as figuras de um cachorro caído em estradas e de troncos de árvores abandonados em praias desertas. A orelha do livro foi escrita pela estudiosa de literatura Flora Süssekind.

Depois da leitura de Junco, a primeira coisa que nos vêm à mente é a famosa frase de Mallarmé, endereçada ao pintor Degas, de que "não é com ideias que se fazem versos, mas com palavras". Esta talvez seja a característica principal da relação de Nuno Ramos com a poesia, ou seja, a de tratar o poema como o lugar onde a palavra explode quase como um objeto e não como instrumento de transmissão de ideias. Seu desejo é de reduzir a palavra a si mesma, torná-la independente da ideia, de quem sempre fôra veículo.

Se sua poesia tem uma grande virtude, ela é, antes de qualquer outra, a de abandonar o Eu romântico, característica que ainda assola parte da poesia contemporânea (e causa da desgraça de muitos poetas). Isso, por si só, já coloca Nuno Ramos junto com grande parte da boa poesia publicada hoje no Brasil (como é o caso da poesia de Júlio Castañon Guimarães).

Essa característica se deve, talvez, ao fato de que Nuno Ramos seja um artista plástico, lidando com objetos que são por ele (re)significados a partir de sua própria materialidade. E a poesia, enquanto lugar da vida das palavras, enquanto corpo presente, não deixa de ser um ramo entre outros da própria ideia de arte que Nuno processa.

Essa ideia pode ser reforçada pelas fotografias que conjugam uma relação próxima aos poemas, que são também objetos abandonados à sua condição de pura matéria, palavras deixadas na maré do asfalto das páginas do livro.

Também podemos pensar na ideia da palavra como objeto a partir de uma definição esplêndida que encontramos no livro Cujo, do próprio Nuno Ramos: "A pele do conteúdo cai. Depois de muitas peles, o próprio conteúdo cai. Depois o caído cai. Até a aniquilação."

Essa aniquilação interessa para a arte, lugar onde se detona o trabalho do tempo ao dar aos objetos o direito a uma última aparição, que seja na forma da matéria em estado bruto, só lâmina, mas transmutada na delicada condição poética do seu derradeiro resitir e existir.

A poesia de Nuno Ramos tateia os objetos e por isso estamos tão próximos de sentir sua presença carnal entre nossos dedos. Isso porque cada palavra parece investida de uma corporeidade que não a afasta, através de simbólicos significados ocultos, do objeto que representa. Lendo um dos poemas, o leitor poderá comprovar o que se disse acima:

Por fazer do mar gelatina
e tirar da areia sua opaca
modelagem
é a ti que canto, polvo
coisa mole e desabitada
pelo arcabouço de uma ossada
pronto para a metamorfose
lagarta transparente
onde recentes bichos humanos
mastigam
estrelas íntimas.
São oito veios de coral
canais de pedra e pistilos
renda
de sifões mínimos
onde sobre o alimento
pelo canudo faminto
que suga caule, areia e sal
e tudo o que cabe
numa manhã solar.

Lendo o poema acima, temos a sensação de que é a própria palavra quem fala, fala-se a si mesma, no sentido exigido por Mallarmé, de que ela se desvincula do sujeito, sendo mais "nome" que "verbo". A palavra deixa de ser o condutor de alguma verdade ou de conteúdos anímicos do sujeito (em crise).

Nas artes plásticas a mesma revolução já se processou, onde a tela não é mais o lugar da simples representação ou da transmutação do eu lírico em arte, mas da experiência física dos materiais no seu entre-choque com a forma.

Na literatura, Rimbaud iniciou essa revolução, tornando a palavra independente, sendo som, cor, valendo mais pelo que sugere do que pelo que transmite. Ele sente que o A é negro, "de negro veludo, esmaltado de ouro fino". Depois disso, a palavra teria outro valor na poesia, deixando de ser subordinada ao conteúdo. Não há mais possibilidade de poesia confessional, substituindo-se o EU pela poesia do É.

Em Nuno Ramos algo semelhante se processa, quando sentimos a dimensão sinestésica entre palavra e coisa: "polvo/ coisa mole e desabitada/ pelo arcabouço de uma ossada". Até se pode falar, em Junco, de um além do que desejava a poesia moderna, quando se buscava o casamento entre som e significado em unidades sólidas, o conteúdo intelectivo e o efeito sonoro produzindo um todo orgânico.

Chegando ao limite do dizível, resta à palavra sua existência própria, carnal, seu cheiro próprio, sua materialidade única, objectual, excluindo da sua relação com o homem a comunhão simbólica (já que a linguagem per si está em crise - ou Beckett não existiria), mantendo a distância entre as coisas e o eu. Poesia como "faca, só lâmina", como no verso de João Cabral, que Nuno admira tanto, chegando a dar à sua exposição no SESC o título "Só Lâmina".

É nesta clave que se situa a poesia de Nuno Ramos. E o casamento entre a plástica da fotografia e as palavras do poema em Junco está longe de servir como um instrumento de ilustração de um para o outro. Não são os significados que dão valor aos objetos (cachorro, troncos, palavras), são os objetos que se significam enquanto existência bruta, impondo-se peremptoriamente ao expectador, seja como coisa vazia de sentido (como o próprio homem), ou seja como o oceano deserto ou a estrada perdida, onde ancoramos nosso olhar, deitado sobre o vazio do objeto que se decompõe em inevitável aniquilamento, no nada.

Nuno Ramos não se deixa cair na cilada fácil da explicação/significação, fazendo nos seus versos as palavras retornarem ao lugar objectual que lhe interessa. Veja-se, por exemplo, a seguinte construção: "Um figo seco/ na praia onde fungos/ úmidos/ na praia onde fungos úmidos." Embora o poema prossiga, é preciso deter-se na matéria dos "fungos úmidos", é preciso que se lhes reconheça enquanto tal.

À questão nietzschiniana do sentido da palavra, de quem fala e porque fala, se fosse endereçada ao poeta Nuno Ramos, embora já saibamos, que quem fala é a própria palavra, ele responderia com sua própria poesia:

"(...)
Mas já velho navegado
Desejoso apenas de contar
os grãos do chão mais reles

de ler com as mãos
o texto que há nos veios
úmidos da árvore

horizontal, disponível
para autópsia
que encontrei na areia bege

de sentir a umidade
subir por meus cabelos
e o marrom quase da merda

contaminar as folhas verdes
de compreender com olfato
o signo

líquido
das entranhas
desses cães que idolatro (...)"


Jardel Dias Cavalcanti
Londrina, 10/4/2012

Mais Jardel Dias Cavalcanti
Mais Acessadas de Jardel Dias Cavalcanti em 2012
01. Roland Barthes e o prazer do texto - 21/8/2012
02. A morte de Sardanapalo de Delacroix - 31/7/2012
03. Semana de 22 e Modernismo: um fracasso nacional - 6/3/2012
04. Elesbão: escravo, enforcado, esquartejado - 6/11/2012
05. A origem da dança - 14/2/2012


* esta seção é livre, não refletindo necessariamente a opinião do site



Digestivo Cultural
Histórico
Quem faz

Conteúdo
Quer publicar no site?
Quer sugerir uma pauta?

Comercial
Quer anunciar no site?
Quer vender pelo site?

Newsletter | Disparo
* Twitter e Facebook
LIVROS




Admissão de Pessoal no Serviço Público
Não Informado
Não Informada



Iniciação A Pesquisa Bibliográfica
Neusa de Macedo
Loyola
(1994)



Nada Além a Vida de Orlando Silva
Jorge Aguiar
Globo
(1995)



O Mundo da Criança PLT
Diane E. Papalia; Sally Wendkos Olds; Ruth Duskin Feldman
McGraw-Hill; Artmed; Anhanguera
(2009)



Minha familia, minha vida
Pedro Cometti
Paulinas
(1987)



Galope De amor
Danielle Steel
Superseller
(1981)



O Ministério Público Como Instrumento de Democracia
Eduardo Ritt
Livraria do Advogado
(2002)



Hamleto - Clássicos de Bolso
Shakespeare
Ediouro



O Convidado de Raposela
Alex T Smith
Companhia das Letrinhas
(2012)



A Cabeça Cortada de Dona Justa
Rosa Amanda Strausz (dedicatória da Autora)
Rocco
(2022)





busca | avançada
55741 visitas/dia
2,5 milhões/mês