Bruce, Bane e Batman | Vicente Escudero | Digestivo Cultural

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Quinta-feira, 23/8/2012
Bruce, Bane e Batman
Vicente Escudero
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A manutenção da ordem custa caro. Numa cidade como Gotham City, seu preço é a fortuna e a vida de Bruce Wayne, sempre tentando tapar os buracos por onde escapam vilões dispostos a conquistar o poder, matando qualquer um que esteja pela frente. No terceiro e último filme da série dirigida por Christopher Nolan, a batalha entre o poder constituído e os revolucionários segue um rumo diferente dos outros filmes da série e incorpora os traços originais das histórias em quadrinhos para tratar superficialmente do ambiente político americano nos últimos dez anos.

Enquanto nos dois primeiro filmes da série Gotham City foi apresentada como uma capital sombria e dividida pelo crime organizado, em O Cavaleiro das Trevas Ressurge ela experimenta uma espécie de paz artificial decorrente dos efeitos da política de combate ao crime instaurada após a morte de Harvey Dent, uma cópia do plano de segurança "Tolerância Zero" implantado por Rudolph Giuliani em Nova Iorque durante a década de 90. Esta eficácia do Departamento de Polícia contrasta com o fracasso econômico de Gotham, abandonada pelos magnatas como Bruce Wayne, agora ocupados apenas em participar de grandes festas e com a celebração da paz.

Devido a sua estrutura conclusiva, o filme apresenta vários flashbacks de momentos das outras produções, preocupando-se em conectar consequências às suas causas. Bruce Wayne encontra-se enclausurado e inconsolável pela morte de Rachel, em sua mansão, há mais de oito anos. O Comissário Gordon luta contra seus valores pessoais para manter a mentira sobre as circunstâncias da morte de Harvey Dent. O grupo de Ra's Al-Ghul tenta novamente destruir a cidade. Enquanto os dois primeiros filmes desafiaram a audiência a compreender e acreditar no universo quase real de um herói humano envolvido num curto-circuito entre o mal e a violência, retratando os mesmos dilemas enfrentados pelos EUA dentro e fora do país (terrorismo e crime organizado), no terceiro alguns dos valores morais e políticos mais caros à civilização ocidental, como a prevalência dos direitos humanos e a eficácia da divisão dos poderes do Estado, servem apenas para costurar as várias passagens da jornada de Bruce Wayne em um final que satisfaz a audiência. A característica do filme que revela esta escolha por Nolan é a excessiva artificialidade da tecnologia utilizada pelos personagens e das acrobacias nas lutas. Embora os dois primeiros filmes tenham sido certeiros ao apresentar a jornada de Bruce Wayne dentro de um universo verossímil, neste último prevaleceram as invenções criadas por Fox, o pesquisador interpretado por Morgan Freeman. A pior é a aeronave Batwing, uma espécie de inseto gigante vulnerável apenas a grandes quantidades de inseticida.

O Cavaleiro das Trevas Ressurge é uma homenagem maior a Frank Miller, criador da mesma série sobre o declínio de Batman nos quadrinhos, do que aos valores conservadores e à divisão dos poderes do Estado de Montesquieu. Uma sonata em três movimentos, encerrada em um allegro acelerado para lembrar a todos que o universo apresentado no filme não passa de uma fantasia. Nolan fez questão de mencionar, em diversas entrevistas, que havia lido o romance Um Conto de Duas Cidades, de Charles Dickens, antes de iniciar a produção. Os elementos do romance, uma história sobre a opressão dos camponeses pobres pela aristocracia, na França às vésperas da Revolução de 1789, se espalham no roteiro em diversos pontos, principalmente na motivação dos personagens ligados aos interesses de Bane. A luta entre as classes presente no livro é retratada com alguns ajustes aos acontecimentos do presente, como a repulsa aos operadores financeiros de Wall Street, e só toca os fatos envolvendo o recente movimento Occupy Wall Street quando faz uso do poder econômico da Bolsa de Valores para tentar destruir Gotham City. O argumento deste ponto do roteiro é bastante ambíguo, pois a riqueza financeira da cidade é ao mesmo tempo inimiga da causa revolucionária, ao ser escolhida como primeiro alvo do grupo de Bane, e aliada, quando é subvertida para afastar os poderes das empresas de Bruce Wayne sobre os rumos de Gotham.

Batman: O Cavaleiro das Trevas Ressurge foi visto por parte da crítica como uma resposta do diretor aos interesses revolucionários do movimento social Occupy Wall Street, nascido em Nova Iorque para protestar contra a falta de punições aos operadores financeiros que tiveram participação decisiva na última crise econômica dos EUA. Este ponto de vista sobre a proposta do filme tem dois defeitos insuperáveis. O movimento Occupy Wall Street nasceu como uma resposta da sociedade para garantir a eficácia do sistema de freios e contrapesos dos poderes do Estado, da República, mas aos poucos, em virtude da ausência de uma liderança e até mesmo da ingenuidade dos ideais quase utópicos dos participantes, acabou sendo "ocupado" por movimentos radicais, que se apropriaram do discurso e passaram a exigir uma mudança na ordem, no próprio sistema de governo dos EUA, aproveitando-se do fracasso da iniciativa original. A partir desta transformação o grupo se tornou alvo fácil dos grupos conservadores, preparados desde o começo para publicar as manchetes contra os interesses comunistas do movimento. Traçadas estas considerações sobre sua origem, o filme não pode ser classificado como uma crítica ao movimento em virtude das escolhas ambíguas do roteiro: um dos responsáveis pela vitória da ordem é um excluído da sociedade (o policial que também passou a infância num abrigo), o objetivo do grupo comandado por Bane é a destruição da própria ordem estabelecida, algo que está bem distante dos ideais do Occupy Wall Street mesmo depois de sua metamorfose incompleta.

O segundo defeito é a origem do roteiro nos quadrinhos e no romance de Dickens. A saga sobre o declínio de Batman criada por Frank Miller foi uma mudança do objeto de estudo nas histórias em quadrinhos, pois apresentou aos leitores um herói com defeitos humanos, pessimista, prestes a ser derrotado, destruindo a esperança da fantasia. O Cavaleiro das Trevas Ressurge se aproveita deste argumento até a reviravolta inexplicável do final. Já em relação ao romance de Dickens, Nolan emprestou os personagens planos, deixou de lado a complexidade psicológica dos dois primeiros filmes (o melhor exemplo disso é a interpretação de Heath Ledger em comparação a Bane) para dar aos personagens um ar mais meditativo e transformá-los apenas em instrumento da ascensão de Batman em sua luta para manter a ordem em Gotham City.

Os finais de Batman: O Cavaleiros das Trevas Ressurge e do romance Um Conto de Duas Cidades também têm suas semelhanças. Ambos tratam da redenção, da resistência dos valores de seus heróis diante da morte em troca da sobrevivência de seus ideais. Logo no final de Um Conto de Duas Cidades, o protagonista Sydney Carton revela ao leitor, em pensamento, a importância de seu sacrifício, exultando uma vitória distante, mas inevitável, dos ideais da Revolução. A única diferença em relação ao destino de Batman, que também projeta a vitória lenta de seus ideais em Gotham City, é a reviravolta comercial do roteiro em seus últimos instantes. Se Hollywood não estivesse preocupada em aproveitar a oportunidade de uma sequência, Batman teria o mesmo destino de Sydney Carton na guilhotina e não cumpriria os desejos do mordomo Alfred.

Se Batman: O Cavaleiro das Trevas deixar você confuso, não é culpa do diretor Christopher Nolan. Não é possível acreditar que o mesmo criador de Inception e dos dois primeiros filmes da série seria capaz de abrir mão de suas ideias para fazer uma homenagem aos quadrinhos que obedece até à imortalidade sempre infalível dos super-heróis. O filme tenta atender aos interesses de todos os fãs do herói Batman, sobrepondo camadas de discurso político com façanhas típicas de filmes de fantasia, ao contrário do restante da série. Todos os personagens, exceto o protagonista, têm pouco tempo na tela e tentam compensar com diálogos repletos de significados velados. Nos dois primeiros filmes, houve uma demonstração da força da narrativa de Christopher Nolan. Nesta conclusão da série, trata-se apenas da força bruta de Batman.


Vicente Escudero
Campinas, 23/8/2012

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