COLUNAS
Quinta-feira,
17/1/2013
Brasileiros aprendendo em inglês
Carla Ceres
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Alguns brasileiros aprendem inglês pra valer, mesmo sem viajar pro exterior ou matricular-se em escolas caras. Em geral, são indivíduos com talento linguístico e força de vontade excepcionais, que aprenderam a aprender e estudam por gosto. Claro que muitos deles adorariam visitar países de língua inglesa, talvez até fazer um curso superior em uma de suas melhores universidades, desejo difícil de se realizar até para quem já conseguiu dar uns pulinhos na Disney.
Graças à internet, a parte educacional desse sonho vem se tornando cada vez mais realizável. Se você fala bem inglês, dispõe de um computador, conexão com a rede e umas seis horas livres por semana, pode matricular-se em um dos cursos online, abertos e de massa (os famosos MOOCs, massive online open courses) disponíveis em sites como Coursera ou edX.
Cursos online existem vários na internet brasileira, mas os MOOCs são "abertos", o que, no contexto, quer dizer "gratuitos". Você não paga nada para se inscrever em um deles e acompanhar suas vídeo-aulas. Outra característica importante dos MOOCs é serem "de massa". Há dezenas de milhares de alunos no mesmo curso. Logicamente, os professores não dão conta de interagir com todos os participantes e tirar suas dúvidas. Para isso, existem os fóruns, onde os alunos conversam e trocam explicações entre si.
Inspirada pelos MOOCs, a Universidade de São Paulo (USP) colocou vídeo-aulas de várias disciplinas, em bom português, à disposição de seus alunos e da comunidade em geral, mas essas e-aulas, como são chamadas, não compõem, por enquanto, cursos completos. Já o edX, da Universidade de Harvard e do Massachusetts Institute of Technology (MIT), oferece cursos dessas instituições e de outras universidades parceiras. Quer estudar Mecânica Quântica e Computação Quântica, ou Inteligência Artificial, ou Copyright? Inscreva-se no edX, que está começando a oferecer opções fora das áreas de exatas e tecnologia.
Mais completo do que o edX, o Coursera trabalha com várias universidades dos Estados Unidos, como Stanford, Princeton e Caltech. Também possui parcerias com instituições do Canadá, Grã-Bretanha, Suíça, Israel, China... A lista de universidades parceiras não para de crescer. Da última vez que olhei, eram 33. Quando me tornei uma entre os mais de dois milhões de "courserianos", o site oferecia 200 cursos. Um mês depois, as ofertas subiram para 211 cursos divididos em vinte categorias.
Por enquanto não existem MOOCs completos de graduação ou pós. Não dá para se formar ou se especializar estudando de graça, online, em uma universidade estrangeira. Os cursos são bastante específicos, duram poucos meses e oferecem um certificado de conclusão somente a quem obtiver boas notas nas avaliações. Ainda assim, valem a pena pela qualidade e pela experiência de interagir com colegas do mundo todo.
No momento, o curso Think Again: How to Reason and Argue, em tradução livre, Pense Outra Vez: Como Raciocinar e Argumentar, da Duke University, é recordista em inscrições, no Coursera, com mais de 173.000 alunos. Por sorte, faço parte da turma e posso observar como estuda e interage esse imenso grupo internacional. Ao que parece, não há segregação por faixa etária. As idades variam, aproximadamente, dos 12 aos 79 anos, sem que isso gere grupinhos ou discriminação.
Subdivisões ocorrem mais por motivos linguísticos do que nacionais. Sim, quase todos falam e escrevem bem em inglês, porém muitos preferem formar grupos de estudo e trocar ideias com falantes de sua língua nativa. Com frequência, as subdivisões, que se formam no fórum do curso, migram para o Facebook. Participo de um grupo de alunos lusófonos do Think Again, no Facebook, com quase 400 pessoas do Brasil, Portugal e outros países.
Nenhum grupo é realmente fechado. Se você quiser estudar com finlandeses, cambojanos, ou afegãos, será bem-vindo. Da mesma forma, um russo, grego ou malaio que deseje treinar seu português será aceito entre lusófonos sem problema. Se, em algum momento, o idioma se mostrar um obstáculo, todos voltam ao inglês.
De vez em quando, essa harmonia estudiosa sofre abalos. À medida que o curso e as avaliações vão se tornando mais difíceis, surgem reclamações que descambam para um leve bate-boca. Em geral, a turma do deixa-disso é composta por mulheres orientais.
Somente uma pequena porcentagem dos inscritos conclui os cursos com sucesso e conquista certificados. Quem entra pensando que vai ser moleza desiste nas primeiras provas. Já quem gosta de estudar e aprendeu a aprender sem um professor-babá à disposição termina se viciando em MOOCs. Acabei de fazer minha inscrição em A Beginner's Guide to Irrational Behavior, algo como Comportamento Irracional - Um Guia para Iniciantes, mais um curso da Duke University. Infelizmente, ele só começa em março. Acho que vou encontrar outro curso pra fazer nesse meio-tempo.
Nota do Editor
Carla Ceres mantém o blog Algo além dos Livros. http://carlaceres.blogspot.com/
Carla Ceres
Piracicaba,
17/1/2013
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