COLUNAS
Segunda-feira,
21/1/2013
Flexibilidade Histórica
Daniel Bushatsky
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O que você fará diferente no próximo ano? Esta é a pergunta típica e clichê que nos fazem e que fazemos, sistematicamente, sem, muitas vezes, pensar no significado dela.
Poucos traçam com seriedade e cumprem com afinco os planos no sempre sonhado e excepcional new year.
No plano histórico temos bons exemplos de como é difícil mudar. Alguns ficcionais, outros bem reais, por isto não precisa ficar chateado se seus planos são de prateleira.
O importante é mentalizar e confessar que não temos bons exemplos. É sempre mais fácil culpar os outros.
Para ilustrar, temos, primeiramente (vou em ordem cronológica), a série de televisão Os Bórgias - a primeira família criminosa -, baseada na história real de Rodrigo Bórgia, que, astuto e ambicioso, conseguiu articular nos meios políticos e religiosos da Itália do século XV a sua escolha para ocupar o Trono de São Padro, como Papa Alexandre VI.
Esta família é tão importante que Cesare Bórgia, filho de Rodrigo, é o primeiro grande exemplo de nepotismo. Filho do Papa, é nomeado Cardeal. De tão habilidoso politicamente, é ele quem inspira O Príncipe, de Maquiavel.
Vale um parêntese: nesta época, não obstante ser comum, já haviam acontecido o Primeiro Concílio de Latrão (1123) e o Segundo Concílio de Latrão (1139), que condenaram e invalidaram o concubinato e os casamentos de clérigos, reforçando assim o celibato clerical.
Este Papa e seus filhos criaram uma imensa rede de poder, alavancaram sua riqueza durante o papado do "Don Corleone", traíram, mataram e subornaram.
Passado um pouco de tempo, já no início do século XX, outro Don Corleone apareceu, imortalizado por Marlon Brando e Francis Ford Coppola.
As duas famílias possuem muito em comum, sendo a principal razão Mario Puzo, que escreveu sobre os Borgias e sobre os Corleones. As semelhanças são muitas, inclusive na caracterização dos personagens. Assim, o caráter paternalista de Rodrigo Borgia lembra muito Don Vito Corleone. O estrategista Cesare Bórgia é Michael Corleone, enquanto o infantil e inconsequente Juan lembra bastante "Sonny" Corleone.
Não seriam, então, mera coincidência as referências em O Poderoso Chefão da ligação entre os Corleones e a Igreja, principalmente em negócios imobiliários. Foi Rodrigo Bórgia um dos maiores consolidadores das terras da Igreja Católica.
Mas esta é a menor das coincidências. A que mais me chama a atenção, neste ano novo, é a proliferação de Corleones e Bórgias. Talvez eles sempre existiram, mas os meios de comunicação estão mais avançados.
É só pegar o jornal ou as revistas semanais de notícia e folhear. Não há um único dia ou uma única semana que não nos deparamos com mais e mais notícias de corrupção, sempre com o mesmo objetivo: poder ou dinheiro.
Para não cansar o leitor, deixo os exemplos com vocês.
Como qualquer fato histórico, a leitura dos acontecimentos depende não só das condições sociopolíticas, como também do interlocutor. A morte de Rodrigo Bórgia é às vezes imputada a envenenamento por um inimigo. Outras vezes, pela epidemia de febre no verão romano de 1503. E ainda, a mais tenebrosa, que pai e filho (Cesare) tentaram se envenenar concomitantemente, sendo que o filho, por ser mais jovem, não morreu!
O que eu quero para o próximo ano?
Aprendi a sonhar flexível. É basicamente sonhar com um futuro melhor, mas não sonhar como uma Pollyanna e sua filosofia de vida, "o Jogo do Contente".
Assim, sonho que a corrupção, as traições, os subornos existam em 2013, mas um pouco menos que nos Bórgias, e que fique para o futuro só as piores histórias. Quem sabe lá, possam tirar melhor proveito delas!
Vou tentar flexibilizar a minha história!
Daniel Bushatsky
São Paulo,
21/1/2013
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