De tinta e fio é feito o homem | Elisa Andrade Buzzo | Digestivo Cultural

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Quinta-feira, 14/3/2013
De tinta e fio é feito o homem
Elisa Andrade Buzzo
+ de 4100 Acessos


ilustra: Renato Lima

Muito tempo passamos em frente àquela tapeçaria. Muito tempo, até as pernas bambearem, estamos fracos, esta é a verdade, embora as condições naquele lugar pareçam ótimas, ar condicionado, iluminação, museologia adequadas. A respiração é ofegante, ou são os músculos que enrijecem, ficando quase impossível sair do lugar? A cada dia, fraquejamos mais, ainda que lá estivéssemos, e como poderíamos estar em outro lugar, fazendo parte de um outro contexto histórico-cultural, em outro tempo, sob o signo do fogo, num arredor mais viçoso de natureza.

Na porção superior desta tapeçaria de Tom Phillips, chamada "Concerto Grosso", lá está uma mancha amarronzada, algo que se assemelha a um javali, a uma pintura rupestre. A impressão que dá é a de que do miolo multicolorido e caótico das notas musicais da tapeçaria (que bem lembram as linhas emaranhadas e os motivos abstratos de certas pinturas pré-históricas) se eleva, ou melhor, se retrai em segundo plano uma base aquosa de "rabiscos iniciais" dos primórdios da humanidade.

No espaço em que estamos, a surpreendente exposição da portuguesa Manufactura de Tapeçarias de Portalegre, na Fiesp, caverna recoberta pelo homem, museu inventado, tudo parece tão sólido e constituído na linha evolutiva... Deparamo-nos com a contemporaneidade de algumas tapeçarias, sua reinvenção além do decorativo, e ao mesmo tempo estamos habitando um espaço que se formou, que foi se refinando, por que não, a partir das primeira representações. Estamos, de fato, dentro do "Concerto Grosso".

Impressões e interpretações porque sempre gostei da Arte Rupestre e me senti afetada ao assistir no Cinesesc, poucos dias antes de me deparar com este "Concerto grosso" que me encantou, ao documentário em 3D Caverna dos sonhos esquecidos (2010), de Werner Herzog. A impressionante caverna de Chauvet como um museu perdido no tempo e guardado a sete chaves para se preservar para o futuro, para sempre, mapeada de todas as formas, com as impressionantes pinturas de bois, rinocerontes, leões, cavalos, ursos, os esqueletos de urso espalhados pelo chão, e a passarela de metal, o acesso restrito a este tesouro da humanidade, pois é o cerne do que somos.

A vida antes da escrita é fascinante. A comunicação através da arte. Já haveria a inclinação de deixar algo para a posteridade? Acaso este conceito existiria? O desejo de representar o mundo, a interação diferenciada com o meio ambiente, a construções de símbolos? Eles, estes seres de Chauvet, são os primeiros que conhecemos a ser... mais ou menos como somos primordialmente. Toda vez que somos, a eles nos remetemos. Ou então, já bambos como estávamos, sob o peso de milhares de anos de civilização, emaranhados no intrincamento de situações do concerto de Phillips, mas completamente imbuídos dos primeiros passos, lá de trás.

Somos meros esqueletos com carne, mas com uma substância fundamental (o segundo plano) que nos faz querer, em vão, chorar, sentir, amar. Representar. Como sugerem movimento aquelas pinturas, os olhos vivos dos cavalos, o leão e a leoa unidos. Um dia tudo aquilo existiu, alguém observou e quis registrar, seja para qual for o intento, em tantos traços, erros e acertos. Eram assim estes homens iniciais, que herança nos deram? A própria essência de ser. A cada início, mais um homem se inaugura. A tradição da tapeçaria continua em grande estilo na Europa. E, assim, a roda da humanidade continua, persiste. Não bastou Chauvet, Lascaux, Altamira, Serra da Capivara. O homem continua, vai em frente, retrocede, continua.

Sentimo-nos dispostos a fazer tudo de novo, a incorrer nos mesmos erros, a sermos ridículos no amor e na dor; e a termos feito pinturas em cavernas, traços em folhas, representar o mundo, enfeitiçar o mundo para que ele nos facilite a caça, manipular a fertilidade da mulher, incutir a palma da mão talvez como assinatura e marca registrada. Da tinta e do fio se faz o homem e todas as coisas. Tudo já estava lá atrás, sendo forjado e traçado ao calor de tocha. O básico do nosso agora estava sendo constituído, como somos, como humanidade, como seríamos feitos, em linhas e fios, gerais e entrelaçados.


Elisa Andrade Buzzo
São Paulo, 14/3/2013

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