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COLUNAS
Segunda-feira,
22/7/2013
Capitalismo Selvagem
Daniel Bushatsky
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Uma matéria que ela sempre gostou na faculdade de direito era falência. E a prova daquela quinta-feira era exatamente sobre este tema. Um empresário e sua empresa banidos do mundo do comércio. Seus olhos brilhavam quando o professor contava que desde a idade média, nas cidades-estado italianas, já se punia o empresário mal sucedido, quebrando, literalmente, a sua banca para que ele não pudesse mais participar dos negócios. O temor era que se prejudicaria a imagem do comércio local ao deixá-lo operando.
Em sua ingenuidade e longe da vida empresarial, sempre pensou se gostava do tema por maldade ou por amor ao liberalismo econômico. Quando se questionava, pensava que nada deve ser mais triste do que ser tirado da empresa que você criou, mas, por outro lado, existiam princípios maiores (quais? não sabia!) e a economia brasileira não podia ser prejudicada. Ademais, existia a recuperação judicial, que servia para as empresas que estavam em condições "mais ou menos" e poderiam se recuperar e continuar atuantes na economia. Tudo parecida muito razoável! Gostava mesmo era de falência, quanta severidade, pensava com seus botões!
Mas naquela quinta-feira, os noticiários só falavam das manifestações. Será que haverá prova? O que as pessoas estavam reivindicando? 20 centavos a menos da passagem de ônibus? Não tinham mais nada para fazer? A menina estava ficando nervosa. Tinha estudado tanto para aquela prova. Será que pelo menos havia uma faixa liberada na avenida?
Parou para ler o jornal. Já tinha estudado bastante. Só faltava o último subtema: autofalência. Este a impressionava ainda mais, pois era quando o próprio empresário confessava que não podia mais continuar no comércio. Quanta humildade e bom senso...
No telejornal mais reportagens sobre protestos e o discurso da presidenta. Meu Deus, quanta besteira. Se sentiu enganada. Sentiu que todo o estudo não iria fazer o mundo melhor. Sonhou que todos os políticos fossem uma empresa. Sonhou que eles pedissem a autofalência, a forma regular de uma empresa mal sucedida sair do comércio - no caso deles, da política.
Não interessava se existiam políticos bons, interessava que a atividade política e suas instituições estavam falidas e o único modo de corrigir era através de sua saída da economia, ops, da política.
Que saiam os piores!
Pegou seus livros e a chave do carro e foi para a faculdade. Como seria bom se não pegasse trânsito! Como diziam e ela nunca entendia, o capitalismo é selvagem!
Daniel Bushatsky
São Paulo,
22/7/2013
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