Por uma lógica no estudo da ortografia | Marcelo Spalding | Digestivo Cultural

busca | avançada
52882 visitas/dia
1,7 milhão/mês
Mais Recentes
>>> ZÉLIO. Imagens e figuras imaginadas
>>> Galeria Provisória de Anderson Thives, chega ao Via Parque, na Barra da Tijuca
>>> Farol Santander convida o público a uma jornada sensorial pela natureza na mostra Floresta Utópica
>>> Projeto social busca apoio para manter acesso gratuito ao cinema nacional em regiões rurais de Minas
>>> Reinvenção após os 50 anos: nova obra de Ana Paula Couto explora maturidade feminina
* clique para encaminhar
Mais Recentes
>>> A dobra do sentido, a poesia de Montserrat Rodés
>>> Literatura e caricatura promovendo encontros
>>> Stalking monetizado
>>> A eutanásia do sentido, a poesia de Ronald Polito
>>> Folia de Reis
>>> Mario Vargas Llosa (1936-2025)
>>> A vida, a morte e a burocracia
>>> O nome da Roza
>>> Dinamite Pura, vinil de Bernardo Pellegrini
>>> Do lumpemproletariado ao jet set almofadinha...
Colunistas
Últimos Posts
>>> O coach de Sam Altman, da OpenAI
>>> Andrej Karpathy na AI Startup School (2025)
>>> Uma história da OpenAI (2025)
>>> Sallouti e a história do BTG (2025)
>>> Ilya Sutskever na Universidade de Toronto
>>> Vibe Coding, um guia da Y Combinator
>>> Microsoft Build 2025
>>> Claude Code by Boris Cherny
>>> Behind the Tech com Sam Altman (2019)
>>> Sergey Brin, do Google, no All-In
Últimos Posts
>>> Política, soft power e jazz
>>> O Drama
>>> Encontro em Ipanema (e outras histórias)
>>> Jurado número 2, quando a incerteza é a lei
>>> Nosferatu, a sombra que não esconde mais
>>> Teatro: Jacó Timbau no Redemunho da Terra
>>> Teatro: O Pequeno Senhor do Tempo, em Campinas
>>> PoloAC lança campanha da Visibilidade Trans
>>> O Poeta do Cordel: comédia chega a Campinas
>>> Estágios da Solidão estreia em Campinas
Blogueiros
Mais Recentes
>>> YouTube, lá vou eu
>>> Sonho francês
>>> Minha Estante
>>> A Última Ceia de Leonardo da Vinci
>>> Steven Spielberg
>>> Pondé mostra sua biblioteca
>>> Um Luis no fim do túnel
>>> O óbvio ululante, de Nelson Rodrigues
>>> Máfia do Dendê
>>> Vibe Coding, um guia da Y Combinator
Mais Recentes
>>> Noites Do Sertão de João Guimarães Rosa pela Nova Fronteira (2016)
>>> Literatura Portuguesa (Ensino médio) de William Cereja, thereza Cochar pela Atual (2009)
>>> Trabalhando Com A Inteligência Emocional de Daniel Goleman pela Objetiva (2001)
>>> Coleção com 3 livros: Pai Rico Pai Pobre + O Negócio Do Século XXI + Os Segredos Da Mente Milionária de Robert Toru Kiyosaki, T. Harv Eker pela Campus Elsevier, Sextante
>>> Reconstruindo Lênin. Uma Biografia Intelectual de Tamás Krausz pela Boitempo (2017)
>>> A Sociedade Punitiva de Michel Foucault pela Folha de S. Paulo (2021)
>>> Cafe Da Manha Dos Campeões de Kurt Vonnegut pela Intrínseca (2019)
>>> Ladinos E Crioulos de Edison Carneiro pela Folha de São Paulo (2021)
>>> Leonardo Da Vinci de Walter Isaacson pela Intrínseca (2017)
>>> A Razão Africana - Breve História Do Pensamento Africano Contemporâneo de Muryatan S. Barbosa pela Todavia (2020)
>>> Rebeldes Têm Asas de Sergio Pugliese, Rony Meisler pela Sextante (2017)
>>> Fugitiva de Alice Munro pela Folha De S. Paulo (2017)
>>> A essência do cristianismo de Ludwig Feuerbach pela Folha De S. Paulo (2021)
>>> Seculo XX: Uma Biografia Nao-autorizada de Emir Sader pela Fundação Perseu Abramo (2010)
>>> Urbanização E Desenvolvimento de Paul Singer pela Autêntica (2025)
>>> Lugares De Memória Dos Trabalhadores de Paulo Fontes (organizador) pela Alameda Editorial (2024)
>>> Ponte para Terabítia (2º Edição) de Ana Maria Machado; Katherine Paterson pela Salamandra (2022)
>>> Ponte para Terabítia (2º Ed. - 1º Impressão) de Ana Maria Machado; Katherine Paterson pela Salamandra (2007)
>>> As Maravilhas de Elena Medel pela Todavia (2022)
>>> Um Grito de Liberdade - a Saga de Zumbi dos Palmares (1º impressão) de Álvaro Cardoso Gomes; Rafael Lopes de Sousa pela Moderna (2017)
>>> Os aneis de saturno (1º edição) de Isaac Asimov pela FC Hemus
>>> Os aneis de saturno de Isaac Asimov pela FC Hemus
>>> O Mestre e o Herói (1º edição - 6º Impressão) de Domingos Pellegrini pela Moderna (2009)
>>> A Ilha Perdida (41º Edição - 10º Impressão ) de Maria José Dupré pela Atica (2022)
>>> O escaravelho do diabo (28º edição - 3º impressão) de Lucia Machado de Almeida pela Atica (2016)
COLUNAS

Sexta-feira, 12/7/2013
Por uma lógica no estudo da ortografia
Marcelo Spalding
+ de 17200 Acessos

Em tempos de protestos e manifestações, alguns cartazes chamam a atenção para a falta de educação no Brasil, e muitos deles brincam com erros de ortografia dos próprios cartazes para pedir mais investimento nessa área.

 

Se por um lado esses cartazes evidenciam que um povo educado é aquele que conhece bem sua própria língua, também evidencia um equívoco próprio do senso comum: que cometer erros de ortografia é o mesmo que não saber português. Digo senso comum porque hoje se sabe que é mais importante alguém saber usar bem a língua, construir boas frases e bons textos, do que simplesmente não errar ortografia. Entretanto, o erro de ortografia, em especial os considerados erros básicos, denotam falta de leitura e de familiaridade com a língua, tornando quem escreve alvo de críticas e preconceito.

No meu curso online Aspectos Gramaticais da Língua Portuguesa, procuro demonstrar que apesar de a ortografia no Brasil ser regida por uma lei nacional, melhor que aprender regras e exceções é tentar entender a lógica que move essa lei, para depois, aí sim, memorizar as exceções. Regra se compreende, exceção se memoriza. Neste texto, sintetizo quais seriam essas lógicas, esses pilares para a compreensão da ortografia. Ficará faltando abordar os acentos gráficos, o que podemos fazer num futuro texto.

Formação de palavras

A formação de palavras é um dos fenômenos mais interessantes em qualquer língua. A partir de determinada palavra, do seu radical, formam-se dezenas de outras palavras com a combinação de prefixos e sufixos. A grande maioria dos que estudaram língua portuguesa sabem ou pelo menos viram isso. O que poucos se dão conta é da utilidade da formação de palavras para a ortografia, pois o usuário da língua não precisa memorizar a ortografia de milhões de palavras, e sim de milhares de prefixos, sufixos e radicais, pois eles tendem a manter sua grafia em outras situações.

Essa lógica vale para diversas palavras (para não dizer todas): se ASSESSOR é com SS, SS, "assessoria", "assessorar", "assessoramento" também é; se HESITAR é com "h" e depois "s", "hesitou", "hesitariam" também é; se ANÁLISE é com "s", "analisar" também é. Assim como se FAZER é com "z", "fazida", "fazedor", "fazendo" deve ser com "z", e se EXPERIMENTAR é com "x", o que faz com que "experimente" seja com "x".

Classes gramaticais e ortografia

Os sufixos, como se sabe, representam a classe gramatical. Mas por que uma palavra com o mesmo som tem ortografia diferente? Por exemplo, "viagem" e "viajem", "cem" e "sem"?

É difícil saber como uma palavra chegou na língua, só buscando sua etimologia. "Cem", por exemplo, vem da próclise do latim "centum", enquanto "sem" vem do latim "sine", que exprime a ideia de falta, privação, ausência. Na fala, pelo contexto, elas não se confundem, mas na escrita era importante que a língua criasse uma forma de diferenciar uma da outra. E uma das formas é grafar de forma distinta sons idênticos.

Assim, compreender a classe gramatical das palavras é fundamental também para entender as diferenças de ortografia de muitas delas. "Viagem", com "g", por exemplo, é sempre substantivo, assim como "lavaGem", "bobaGem", "engrenaGem". Já "viajem", com "j", é do verbo cujo radical é "viajar": "espero que vocês viajem bem".

Outro par de palavras que causa certa confusão é o MAL e o MAU, pois o som é idêntico, mas a grafia é outra. MAL, com L, é advérbio, antônimo de BEM, sendo invariável: "Eles estão de mal com a vida". Já o MAU, com U, é adjetivo, antônimo de BOM, sendo variável: "Eles são maus, elas são más".

A questão fonética

Em qualquer língua há mais de uma letra para representar o mesmo som, e ao ler o texto o leitor consegue perceber qual seria a palavra original, ainda que a imprecisão no registro escrito o atrapalhe.

Por outro lado, em uma língua muitas vezes uma única letra pode assumir mais de um som, algo inerente à representação da fala (tão complexa e de infinitas possibilidades) à escrita (bem mais resumida e esquemática). Observe uma brincadeira de professores de inglês antes de se queixar da ortografia da língua portuguesa:

Dessa forma, evite o raciocínio: "se massa se escreve com SS, a palavra maçante, que tem o mesmo som, se escreve com SS". NÃO! Procure observar qual o radical e a origem da palavra. "Maçante", por exemplo, vem do verbo "maçar", e se cristalizou com essa grafia em português exatamente para se diferenciar de "massa". Assim como "caçar" (o animal) é com Ç e "cassar" (o deputado) é com SS. Chamamos palavras assim de homófonas, que têm sons iguais, mas grafias diferentes.

Evidentemente essas três dicas não esgotam o estudo da ortografia, mas compreendê-las ajuda sobremaneira a pensar de forma sistemática sobre o porquê da ortografia de uma palavra, facilitando inclusive que se memorize as exceções. O verbo "paralisar", por exemplo, a princípio deveria ser grafado com "z", pois o sufixo "-zar" em "estabilizar", "realizar", "concretizar", etc é com "z". Entretanto, o verbo vem de "paralisia", termo que veio do francês com "s", fazendo o "s" parte de seu radical, o que explica a grafia "paraliSar".



Marcelo Spalding
Porto Alegre, 12/7/2013

Quem leu este, também leu esse(s):
01. Píramo e Tisbe de Ricardo de Mattos
02. Casamento atrás da porta de Adriane Pasa
03. Reflexões de um desempregado de Elisa Andrade Buzzo
04. Sobre palavras mal ditas de Rafael Rodrigues
05. Separar-se, a separação e os conselhos de Fabrício Carpinejar


Mais Marcelo Spalding
Mais Acessadas de Marcelo Spalding em 2013
01. A literatura infanto-juvenil que vem de longe - 1/2/2013
02. Por uma lógica no estudo da ortografia - 12/7/2013
03. A poesia concreto-multimídia de Paulo Aquarone - 14/6/2013
04. Dicas para a criação de personagens na ficção - 1/3/2013
05. O escritor e as cenas: mostrar e não dizer - 12/4/2013


* esta seção é livre, não refletindo necessariamente a opinião do site



Digestivo Cultural
Histórico
Quem faz

Conteúdo
Quer publicar no site?
Quer sugerir uma pauta?

Comercial
Quer anunciar no site?
Quer vender pelo site?

Newsletter | Disparo
* Twitter e Facebook
LIVROS




Edgard Roquette-pinto
Jorge Antonio Rangel
Fundação Joaquim Nabuco
(2010)



O Herói
Flávio R. Kothe
Ática
(1985)



Administração Da Produção
Petronio G. Martins e Fernando Piero Laugeni
Saraiva
(2005)



Livro Literatura Estrangeira Quand Sort la Recluse
Fred Vargas
Flammarion
(2017)



Vitória da Vida
Divaldo Pereira Franco
Leal
(1988)



Legitimidade Ativa e Representatividade na Ação Civil Pública
Clarissa Diniz Guedes
Gz
(2012)



Livro Ciência Política A Loucura Do Trabalho Estudo De Psicopatologia Do Trabalho
Christophe Dejours
Cortez
(2015)



Livro Capa Dura Artes Introdução à Arte Moderna Com Referências na internet
Rosie Dickins
Ciranda Cultural
(2013)



O Importante Não é o Que Vemos, Mas Como Vemos as Coisas
Deyler Goulart Meira
4º Centenário
(1998)



Ofélia e a Cozinha Italiana
Ofélia Ramos Anunciato
Melhoramentos
(1991)





busca | avançada
52882 visitas/dia
1,7 milhão/mês