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COLUNAS

Quinta-feira, 20/3/2014
Jackie O., editora
Eugenia Zerbini
+ de 7300 Acessos



Deus fez os escritores e, o Diabo, os editores. De um ano para cá, quem sabe por estar em busca de um editor para meu livro de contos, esse tem sido meu adágio predileto. Confesso que de minha autoria, inspirado, contudo, em outro sobre carne e cozinheiros: "Deus fez a carne e, o Diabo, os cozinheiros". Este me chegou por uma coluna assinada há décadas pela sábia Nina Horta. Esta se dirigia àqueles cujo fogo não respeita os tempos certos dos filés e assados.

Entretanto, nesse círculo mefistofélico - o dos editores - destacou-se uma mulher especialíssima, pouco conhecida pelo exercício dessa diabólica profissão. E sobre ela e seus dezenove anos de vida editorial é que discorre Greg Lawrence em Jackie editora - a vida literária de Jacqueline Kennedy Onassis (Record, 2014, 432 ps.). Em ângulo pouco enfocado por seus biógrafos, Jacqueline Lee "Jackie" Bouvier Kennedy Onassis (1929- 1994), reinventou-se aos 46 anos. Passou de viúva de dois dos homens mais poderosos do século XX - o mitológico ex-presidente Jack Kennedy e do multimilionário armador Aristóteles Onassis - à competente profissional.

O próprio autor teve três de seus livros editados por JOB (as iniciais adotadas por Jackie no início de sua vida corporativa na Vicking Press, insistindo no Bouvier de solteira). Para escrever o livro, amparou-se, além da própria experiência, em informações obtidas por intermédio de 125 entrevistas, de colaboradores de Jackie e de notáveis da indústria editorial. O resultado, além de palmilhar a trajetória profissional bem sucedida dessa notável mulher, é descrever o ambiente editorial norte-americano dos anos 1970 a 1990. Ou seja, antes da expansão dos processos de editoração eletrônica, da obsessão pelos ganhos do mercado, mas concomitante à formação dos grandes conglomerados.

Jacqueline nasceu, como os ingleses dizem, "com uma colher de prata na boca" (a silver spoon in her mouth), tendo recebido uma educação à altura. Como hobby, equitação. Como paixão, balé e a leitura. E, da mesma forma que acontece com a maioria dos entusiasmados leitores, um desejo oculto: "Sempre quis ser algum tipo de escritora... Como muita gente, sonhava em escrever o grande romance norte-americano", segredava ela nos tempos de faculdade, "naquela maldita Vassar" (curso superior exclusivamente feminino até 1969), até aparecer a oportunidade de cursar um ano em Paris, na Sorbonne. Terminou a carreira acadêmica com um diploma em literatura francesa na George Washington University, em Washington, em 1951.

No primeiro semestre de 1975, viúva pela segunda vez e milionária (o acordo fechado com Christina Onassis, única herdeira de Onassis, garantia-lhe 26 milhões de dólares), essa "feminista dentro do armário", nas palavras de Betty Fridman, notória defensora da causa das mulheres, Jackie deu início à busca de um lugar nas editoras novaiorquinas. Marcou um almoço com Jason Epstein (1928- ), ex-diretor editorial da Random House. Diante do inusitado pedido de emprego, Epstein explicou à Sra. Kennedy Onassis que havia uma liturgia a ser seguida para tornar-se editor da casa. Esses cargos eram reservados para os editores assistentes, treinados internamente. Para o cargo de editor assistente havia filas, dessa forma, admiti-la assim, de repente, seria um embaraço para todos.

Determinada, Jackie tentou a Vicking Press, então editora familiar dos Guinzburg, sob o comando de Tom, filho do fundador. Tom acomodou a situação propondo-lhe o cargo de editora consultiva. Não ficaria na linha de frente, sofrendo com a competição dos outros editores. Sua função seria a aquisição dos direitos dos livros e, ao passo que fosse familiarizando-se com as práticas editoriais, sua posição seria revista. No final do verão daquele ano, Jackie tinha conquistado seu primeiro emprego remunerado, desde 1953, quando trabalhara como repórter fotográfica do Washington Times-Herald.

Seu envolvimento com o trabalho surpreendeu a todos. Interessada, valia-se de seu carisma e pedia conselhos a todos, escutando atentamente os profissionais de todas as áreas da editora. Sendo um verdadeiro "Abra-te Sésamo" - não havia quem negasse a atender um chamado telefônico ou um convite de Jacqueline Kennedy Onassis -, logo nos primeiros dias de Vicking, essa aspirante a editora foi envolvida na preparação do livro Remember the ladies: Women in America 1750-1815. O projeto (atraído à Viking pela ilustre recém-contratada) tinha seu viés político, uma vez que não apenas seria publicado no quadro das comemorações do bicentenário da independência norte-americana, mas também no auge das discussões sobre os direitos civis e das mulheres. Incluiria imagens e textos tanto sobre a colonizadora branca como sobre índias locais e escravas negras. Essa concepção abrangente, nova na época, entusiasmou Jackie que se empenhou de corpo e alma no projeto. O livro, editorado em nove meses, foi publicado com sucesso, em 1976. Acompanhou uma exposição de mesmo nome, que viajou através dos Estados Unidos por dois anos. Esse foi o début triunfante de Jackie no ramo.

Para Jacqueline, ser editora era fazer livros que despertassem a curiosidade do público para assuntos, enredos e lugares nunca antes imaginados. Livros que de alguma forma transformassem o leitor. Todos os depoimentos, de chefes, colegas e subordinados, reconhecem-na como uma profissional incansável, de olhar acurado e bom gosto, fácil de conviver. Era uma mulher incrivelmente atraente e naturalmente chique. Por incrível que pareça, discreta: "Uma das coisas que me agradam no trabalho editorial é que o editor não é promovido - o objetivo é promover o livro e o autor", afirmou mais de uma vez. Boa ouvinte, durante suas viagens e eventos sociais costumava perguntar o que os outros estavam lendo e em que tipo de assunto se interessavam, esperando que da resposta surgisse ideia para novos projetos. Com o mesmo objetivo, pesquisava com frequência a Biblioteca Pública de Nova York, onde, mais de uma vez, encontrou material para seus livros. Preferia livros com textos longos e muitas ilustrações. Mas essa preferência não foi obstáculo para que editasse livros apenas textuais, como foi o caso, dos três livros que compõe a Trilogia do Cairo, do egípcio Naguib Mahfuz (1911-2006), prêmio Nobel em 1988. Sem mencionar o best-seller Dançando em meu túmulo (Rio Fundo, 1991), de Gelsey Kirkland (1952 - ), prima ballerina do New York City Ballet e do American Ballet Theatre. Por sinal, o livro, uma confissão de Kirkland de seus problemas alimentares (bulemia e anorexia), mesclados à sua dependência à anfetamina e outras drogas, foi escrito por insistência de Jackie. Paralelamente ao sucesso de vendas, foi uma das etapas do processo de resgate da dançarina, que retornou à vida artística.

Após dois anos de Vicking Press - não mais uma empresa familiar, já que adquirida pelo conglomerado britânico Pearson (leia-se Penguin) Longman Ltd -, Jackie apresentou sua demissão. O fato deveu-se à publicação pela Vicking do romance Vamos contar ao presidente (Record, 1977), do escritor de hits literários e político inglês, Jeffrey Archer (1940-), sobre o hipotético assassinato de Ted Kennedy, no cargo de presidente dos Estados Unidos. Em outubro de 1977, o New York Times anunciava zombeteiramente que Jackie O. estava desempregada. A ironia duraria pouco porque, no inicio do ano seguinte, foi anunciada sua contratação, como editora associada, pela Doubleday.

A mudança foi sua prova de fogo. A Viking contava com 200 empregados, um terço dos da Doubleday. Esta, ainda por cima, era conhecida como "clube de meninos", em que mulheres não tinham acesso à chefia. Na época, a Doubleday editava livros mais comerciais, em papel de qualidade inferior ao da Vicking. Por essas e outras, se duvidava se Jackie, com seus projetos sofisticados, iria sentir-se à vontade na nova casa. Engano. Em seu novo emprego, Jackie deu a idéia de uma autobiografia do cantor Michael Jackson, noticiada pela Doubleday, em janeiro de 1984. Para atraí-lo ao projeto, a editora valeu-se da promessa de que a própria Jackie escreveria a apresentação. Com trocas de ghost-writers pelo caminho, aos trancos e barrancos e completamente diferente do projeto inicial, Moonwalk foi publicado quatro anos depois. Apesar de tudo, superou as perspectivas de vendagem. O sucesso de Jackie ascendia, enquanto que a situação da Doubleday declinava. A editora foi adquirida pela alemã Bertelsmann.

A essa altura, entretanto, Jackie era uma profissional madura, dominando "o lado sombrio" da edição de livros tanto quanto qualquer outro da profissão. Em 1987, deu início a uma parceria com Bill Moyers(1934- ), seu conhecido dos tempos de primeira-dama, em Washington. O primeiro livro, publicado no ano seguinte, O poder do mito(Palas Athena), de Joseph Campbell (1904-1987), vendeu milhões de exemplares. Seu lançamento foi concomitante à apresentação, na TV, de uma série de entrevistas feitas por Moyers com o autor. Embora oficialmente a edição de O poder do mito seja assinada por uma erudita assessora de Moyers, ela reconheceu o papel definitivo de Jackie em sua publicação.

Quando Jackie faleceu, vítima de um câncer linfático, em 1994, ostentava o título de assistente sênior da Doubleday, em carreira construída por talento e esforço próprios. Sempre haverá as observações maldosas de seus críticos - como foi o caso de Truman Capote (1924-1984), com quem Jackie se desentendeu depois da publicação, em 1975, de conto "La Côte Basque, 1965" na revista Esquire (esse conto iria se tornar um dos capítulos do romance que Capote legou inacabado, Súplicas Atendidas, LPM, 2009) . Para o autor do clássico A sangue frio ela se assemelhava a uma boa atriz que durante a vida desempenhou o papel de Sra. Kennedy. Sua atuação profissional e a centena de depoimentos reunidos em Jackie Editora desmentem esse ponto de vista. Um livro que dá gosto de ler.


Eugenia Zerbini
São Paulo, 20/3/2014

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